Ele aderiu ao Movimento quando já tinha mais de 65 anos. E, com seu olhar cheio de admiração e a simplicidade de uma criança, aprendeu e foi mestre no percurso de conhecimento de si e de Cristo
No dia 25 de junho, Carlos Mauro Rosas foi chamado diante do Senhor. Aquele Mistério que tanto o fascinava se revelou de forma definitiva. Através da sua morte o Senhor confirmou a sua entrada em uma nova vida. Para aqueles que gozaram da amizade de Carlos Mauro não é difícil imaginar qual devem ter sido as suas primeiras palavras nesse momento: “Que Maravilha”! Essa é expressão que melhor define a pessoa e a vida de Carlos Mauro, a partir do encontro com o Movimento. Tudo para ele era carregado de maravilha, de beleza e de gratidão. Não se cansava de reconhecer o Mistério e agradecer. Ele era um senhor de 69 anos, dono de um coração jovem e desejoso de infinito. Um homem apaixonado por Cristo e pela beleza que refletia a Sua presença.
A seguir, nos depoimentos de alguns amigos do seu grupo de Escola de Comunidade, revela-se o impacto com uma humanidade que demonstrou que é possível um homem velho nascer de novo, a partir da maravilha do encontro com Cristo.
“Era a festa de 80 anos da Faculdade Santa Marcelina. Após uma bela missa com participação de coro e orquestra, reencontro um amigo ex-professor dessa faculdade e estilista renomado. Ele me dá um abraço longo e pergunta: ‘Você não vai mais escrever na Revista Passos? Todo mês aguardo esta revista com os braços abertos esperando o carteiro jogá-la em direção ao meu quintal, como o maná que desce dos céus!’. Conto a ele que começamos um grupo de Escola de Comunidade em uma paróquia perto de sua casa. ‘Não me diga! Que ótima notícia!’ A partir daí, tornou-se a presença mais fiel e viva em nosso grupo, sendo sempre o primeiro a chegar aos encontros.
Carlos Mauro já havia conhecido o livro O Senso Religioso por intermédio de padre Vando, quando ainda era professor da Faculdade de Moda. Tinha ficado impressionado com a originalidade do caminho proposto por Dom Giussani, chegando a estabelecer um paralelo entre ele e o processo de criação. Para criar é necessário realismo, a observação da realidade, deixar-se guiar pela experiência da beleza, da verdade, a abertura e reconhecimento do Mistério, a razoabilidade. Porém, agora, descobre no encontro com os amigos na Escola de Comunidade um percurso que descreve e ilumina sua própria humanidade e vida pessoal. A ponto de dizer: ‘Graças a Dom Giussani, Carrón e a vocês, não sou um velho vazio.’
A sua alegria e a vivacidade por causa desse encontro também se verificavam na sua disponibilidade em aceitar participar prontamente de qualquer proposta que lhe fazíamos: Coleta de Alimentos, grupo de professores, organização de uma palestra sobre William Congdon (um desafio, considerando-se a sua timidez), almoços e jantares com amigos (‘Jantar com Zaqueu’), a distribuição de dezenas de cartazes de Páscoa, visita ao Mosteiro Nossa Senhora da Paz (vencendo o medo do frio e dos riscos à sua saúde), além de trabalhar seriamente todos os textos indicados, com o fascínio de uma criança que descobre um tesouro.
O encontro com esse amigo marcou-me profundamente a ponto de mudar minhas aulas de Antropologia Filosófica que, se antes focavam a experiência humana propondo aos alunos uma análise existencial, passaram a fazê-lo também partindo do fascínio deles pela moda e pelo processo de criação. Aprendi com esse amigo que o Mistério revela-se dentro desse mundo que a princípio parece ser tão superficial e fugaz. Ficar perto do que é bonito nos convém, nos mobiliza de tal modo que meus alunos passaram a frequentar minha casa a fim de realizar saraus e poder desfrutar com calma da amizade que nasce entre nós. Mas o mais marcante e decisivo no encontro com Carlos Mauro foi estar diante de um ‘eu’ vivo, renascido pelo encontro com Cristo, que se deu na nossa vida cotidiana: na simplicidade de um salão paroquial, nas salas de nossas casas ou nos restaurantes, o Senhor nos visitou e quis ficar entre nós. Muito obrigada, amigo, pelo seu ‘sim’ que traz frescor e força ao nosso ‘sim’ de todos os dias.”
Sílvia Regina Brandão
“O Senhor sempre cumpre a sua promessa: onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome eu estarei lá. Era muito evidente que Cristo estava presente na nossa amizade com o Carlos Mauro, assim como é evidente que Ele está conosco no grupo de Escola de Comunidade, onde temos feito uma experiência concreta de encontro que muda a vida. Ainda impactados pela morte do Carlos Mauro, eu e o Fabiano conversávamos sobre a importância e o desejo de aproveitar mais as pessoas que Cristo nos dá... Às vezes elas vêm e vão tão rápido, como um fato que deixa em nós uma marca indelével... Foi assim com o Carlos Mauro. Ontem, me peguei pesquisando o nome do Carlos Mauro, no Google, com uma curiosidade enorme de saber mais sobre ele... É incrível como conhecemos o ser verdadeiro dele e não o seu ‘ser social’: um estilista renomado. Isso parece uma grande bobagem, mas em um mundo marcado pelo tal do status, onde as pessoas valem pelo que têm e pelo seu reconhecimento social, ter a oportunidade de conhecer alguém de fato, amar e admirar alguém simplesmente porque existe, sem levar em consideração o seu reconhecimento social, é uma revolução.
Todos esses acontecimentos me ajudaram a perceber como Deus é grande e misterioso. O Carlos Mauro descobriu a verdadeira vida quando o seu tempo por aqui já estava chegando ao fim. Como uma criança, ele se maravilhava com tudo, o olhar dele era um olhar de criança. Fez um caminho de descoberta até perceber que a sua vida já não o pertencia e que nada mais seria impossível ou um grande absurdo (nem mesmo a ideia de ser Padre, que surgiu em uma brincadeira que fizemos depois da reunião e àquela altura da vida parecia absurda !). Ele estava totalmente disponível e pronto para Cristo. Durante a missa no seu velório fiquei pensando que grande testemunho ele estava dando para todas aquelas pessoas que estavam lá e que talvez desconhecessem essa nova vida que ele estava vivendo... Quase pude ver o seu sorriso e ouvir a sua voz dizendo ‘que maravilha toda essa gente aqui participando da missa!’; ‘Que beleza toda essa gente aqui tendo a oportunidade de ver o que é a companhia da Igreja, o Movimento!’; ‘Que coisa fantástica Deus faz através da minha vida e da minha morte’!
Como disse o Ulisses, para o Carlos Mauro não existe mais o tempo e o espaço. O seu testemunho e a sua capacidade de maravilhar-se continuarão inspirando o nosso grupo de Escola de Comunidade e o seu método educativo continuará nos ajudando a reconhecer e a amar as surpresas que Deus faz acontecer no nosso cotidiano, na universidade, em casa, em nossos encontros ou nas empresas onde cada um de nós é chamado a viver a dimensão do trabalho, como partícipe do ato criativo do Mistério. Uma companhia verdadeira não morre.”
Patrícia Molina
“Que coisa fantástica! Que maravilha! Que beleza! Esses são os bordões do Carlos Mauro, nosso eterno amigo, um raio de luz que passou iluminando nossas velhas amizades, mostrando como podem ser renovadas pela surpresa de uma presença tão viva como a dele, viva porque apaixonada pelo encontro com Cristo. Diante de uma árvore grande, com grandes flores brancas, ali do lado de onde fazemos nossa Escola de Comunidade, ele exclamou: ‘Que beleza... São magnólias!’ Vi então a flor que conhecia só por nome. Simples assim aprendi como é valiosa a presença do amigo para me mostrar coisas que penso já conhecer. Assim foi a breve, mas fecunda, amizade com Carlos Mauro. Sua confiante e serena adesão a Cristo é um testemunho que jamais esquecerei. Ele amava seus amigos como Jesus pede para nos amarmos... Ouço a gargalhada dele suave, satisfeita e cheia de gratidão.”
Isabel Scheibig
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón