Cristãos na política
A convivência cotidiana com o mundo político é complexa, porque a lógica é a da conquista do poder a qualquer custo. Somos constantemente tentados a nos esquecermos do por que estamos ali, somos tentados a esquecer que a nossa tarefa é representar o povo e lutar pelos seus interesses. É muito fácil cair na armadilha dessa lógica e mover-se para conquistar sempre mais poder, esquecendo-se que a nossa verdadeira tarefa é estar a serviço da construção do bem comum.
O que me ajuda a não ceder a essa lógica, a resistir às tentações, é o contato cotidiano com as pessoas com as quais trabalhamos. Eu continuo a participar das reuniões da Associação dos Trabalhadores Sem Terra para poder olhar todos os dias para o rosto das pessoas que me querem bem e acreditam em mim. Pessoas que lutam para conseguir construir uma casa para os filhos, que trabalham de dia e estudam à noite, dormindo apenas três ou quatro horas por noite, pelo desejo de conquistar um futuro melhor. Pessoas que me mostram todos os dias que o mundo real não é aquele dos corredores do poder. Esses rostos não permitem que eu confunda a estrada a percorrer, porque tornam Cristo concreto, encarnado. Muitas vezes pensamos que a nossa tarefa como cristãos na política seja aquele de ser melhores do que os outros, sendo mais honestos, administrando melhor... Muitas vezes entramos na lógica do poder, tendo como desculpa o fato de que, quando conquistarmos o poder, construiremos uma sociedade mais justa e fraterna. Mas assim nos tornamos políticos como todos os outros.
Fiquei marcado por aquilo que padre Julián Carrón disse a algumas pessoas que se lamentavam da situação deles: “Por que vocês perdem tempo brigando pelas migalhas que caem da mesa do poder?” É impressionante: “As migalhas que caem da mesa do poder”. É assim: muitas vezes nos perdemos na política porque estamos preocupados com as migalhas e não com o fato de que podemos viver como homens apaixonados por Cristo, testemunhando que é possível viver a política livres do poder. Amigos, viver a política não é diferente do que viver qualquer outro trabalho. Eu não entrei na política para conquistar o poder ou para mudar o mundo: entrei na política para responder à provocação que Cristo me faz através da realidade que me dá. Dizendo “sim” construo o meu eu e, construindo o meu eu, Cristo me usa para construir o pedaço de mundo que Ele quer. Isso não significa ser passivos, esperando que Cristo resolva tudo. Significa entender que os problemas devem ser enfrentados como provocação que nos coloca em movimento, não como preocupação que assusta e paralisa. Respondendo às provocações nos colocamos em movimento e assistimos, maravilhados, àquilo que Cristo faz com o nosso “sim”.
(trechos da sua intervenção)
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón