Pelo nono ano consecutivo, amigos se reúnem na Serra da Piedade no dia 12 de outubro. O aniversário da morte do padre Virgilio se torna ocasião para reconhecer, hoje, a Beleza que ele sempre procurou
Este é o nono ano consecutivo que no dia 12 de outubro os amigos do padre Virgilio Resi, missionário italiano que chegou ao Brasil em 1981, sobem a Serra da Piedade (MG) para celebrar o dia da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, e fazer memória da presença do padre Virgilio que ainda hoje continua a ser sinal em nosso meio. Falecido em 12 de outubro de 2002, padre Virgilio desejou ser sepultado na Serra da Piedade, local onde viveu os últimos anos de sua vida.
Por que subimos a Serra da Piedade neste dia? Para agradecer à Mãe de Deus, Senhora Aparecida, o dom precioso da vida de Dom Giussani e de padre Virgilio que doaram as suas vidas para que Cristo se tornasse carne em nossas vidas. E para testemunhar que o encontro que fizemos continua a gerar novas vidas a partir do seguimento do carisma de Comunhão e Libertação. Para Marcela, que estava indecisa de participar do encontro, pois não queria ir apenas para relembrar a morte de um amigo querido, este dia foi surpreendente: “Desta vez não ouvimos depoimentos sobre como cada um conheceu Virgilio, ou como era a convivência com ele. Ouvimos falar da beleza ‘contemporânea’ que marca a vida, também originada do encontro com ele, com Dom Giussani e com tantos pelos quais continuamos amorosamente ligados, e pelos quais o nosso sim também pode permanecer na história. Naquele Santuário de Nossa Senhora da Piedade, ‘a beleza de Cristo vence o desgaste do tempo’. Como disse Santa Terezinha: ‘Compreendi que a Igreja tem um coração, e que este coração arde de amor. Compreendi que só o Amor faz agir os membros da Igreja’. O pôr do sol na Serra, naquele dia, foi especialmente colorido e brilhante”.
Atraídos por uma beleza. Em sua homilia, Dom Filippo Santoro, Bispo da Diocese de Petrópolis (RJ), que foi um dos grandes amigos de Virgilio, falou que o motivo pelo qual uma pessoa entrega a sua vida a Cristo é porque foi atraída por uma beleza incomensurável. Neste sentido a vocação à virgindade é um sinal visível para todo o povo de Deus de que o ideal pelo qual se vive é Cristo. Ao passo que no matrimônio o encontro com Cristo se realiza na concretude do relacionamento entre os cônjuges. Ele lembrou que padre Virgilio Resi entregou a sua vida para a construção da Igreja – sinal concreto da presença de Cristo no mundo – tanto que ao saber da gravidade de sua doença nos testemunhou: “Quer eu fique, quer eu vá... Tudo é para Cristo, para a glória de Cristo”.
No pequeno salão abaixo do restaurante (também restaurado e cuidado), cerca de 150 pessoas se reuniram para o almoço e a tarde de encontros. Vindos de van, de São João del Rei, estavam Bete e Dener com seus 4 filhos e sua pequena, mas familiar comunidade, num total de 14 pessoas. E cada um, ao seu modo, vindo de perto (de Belo Horizonte, de Caeté, da Penha...) ou de longe (Nando, irmão do Virgilio, sua filha, uma sobrinha e outros amigos da Itália, amigos de Brasília, Aracaju e São Paulo), chegou ali pelo carinho e pelo abraço da história que lhes aconteceu. Muitos jovens sequer conheceram pessoalmente o padre Virgilio, e estavam ali “encantados e curiosos”, querendo afirmar que também fazem parte desta história. O primeiro testemunho veio das Obras Educativas Dom Giussani, que reúne quatro creches comunitárias, um centro educativo, uma casa de acolhida e um centro esportivo, fundada na cidade de Belo Horizonte por Rosa Bram-billa. Ela nos comunicou como a beleza do encontro feito com o carisma tomou forma no método com o qual acolhe as crianças e suas respectivas famílias: um olhar atento e apaixonado a todos os detalhes de suas vidas, passando pelo banho, alimentação, estudo, brincadeira, arte, música, teatro, trabalho; até ao abraço acolhedor a cada família que necessita de uma visita, uma escuta e uma convivência fraterna. “Vamos a lugares onde muitos de vocês não podem ir para compartilhar com as famílias a alegria e a beleza daquilo que encontramos e que mudou as nossas vidas”, nos disse Maria Virgínia, diretora de uma das creches. Neste dia foi lançada para todos os presentes a Campanha de Apadrinhamento das crianças como gesto concreto de apoio para a sustentabilidade destas obras.
O outro testemunho foi o convite para a Coleta de Alimentos, gesto de caridade movido pelo desejo de compartilhar as necessidades para compartilhar o sentido da vida. Foi exatamente o desejo de compartilhar esta amizade que levou os coordenadores da Coleta de Alimentos no estado de Minas Gerais a abandonarem o cansaço, a fadiga do dia-a-dia e as suas comodidades para se jogarem na realização deste gesto. Um dos coordenadores, Renato Braga, nos testemunhou que este ano, em um contexto de vida cheio de dificuldades e dramas, esses fatos puderam ser enfrentados graças ao seguimento ao carisma hoje e na certeza de que a amizade vivida com o padre Virgilio permanece nos rostos dos amigos que continuam a levar adiante esta história.
Um povo em caminho. Para finalizar o dia, foi proposto um momento de cantoria, expressão de nossa unidade que caracteriza bem o modo com o qual o padre Virgilio sempre nos educou – atentos ao belo em todas as suas formas de expressão. Marco Aur ficou comovido com o que viu: “No encontro da tarde, que normalmente começa com cantos, os jovens do Projeto Transformação abriram caminho e sons demonstrando que, como nós a quinze anos atrás, querem se arriscar na vida, sem pudor, sem medo. Foi assim que eu aprendi algumas coisas úteis na minha carreira de músico, arriscando tudo na frente do Virgilio e de todos. E ainda, o Helton, o Martioney e sobretudo o Renatão, nos contando da Coleta de Alimentos e da sua vida plena da presença, da memória dele, do ‘Capitão do Mato’. São marcas tatuadas no peito desses ‘meninos’ que falam de Cristo como um grande amigo. Quando o Chico Lobo me chamou para cantar com ele e a Marcela a última música do dia, eu também estava preparado, com a espada afiada nas mãos e com essa voz que não me pertence mais. Lembrei-me que Giussani sempre soube que o canto não é para o nosso prestígio, para o nosso orgulho. Eu cantava ali naquele momento olhando pras pessoas que também nos olhavam vidradas e com certeza esperavam de nós simplesmente a tradução em música daquilo que foi o dia e daquilo que carregavam dentro: uma bem-aventurança”.
O depoimento de Fernando Resi, irmão do padre Virgilio, sintetiza bem o que significa este gesto para nós. Ele nos disse que todo o ano espera com ansiedade o momento de retornar ao Brasil para encontrar o povo que seu irmão ajudou a gerar; e que este não é um momento de tristeza, mas de uma grande festa porque as pessoas deste povo se tornaram os seus amigos.
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