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Passos N.55, Outubro 2004

Oração - Temas de leitura

Virgem Maria, estrela do mar

por Laura Cioni

Um texto de São Bernardo e um soneto de Vittoria Colonna. Textos com linguagens diferentes, mas com um ponto em comum: Nossa Senhora, a luz que orienta na caminhada da vida.

Vozes diferentes em dois importantes períodos do Renascimento, São Bernardo, no século XII, na França, e Vittoria Colonna, no século XVI, na Itália, escrevem coisas semelhantes a respeito da Virgem Maria, a estrela do mar.
O abade cisterciense – de caráter impetuoso e difícil, mas doce trovador de Nossa Senhora, de quem era muito devoto desde os tempos da juventude no mundo, quando morreu sua mãe Aletta, a quem era muito ligado por um terno afeto – escreve várias vezes sobre Maria celeste. Um dos seus trechos mais famosos, conhecido sob o nome latino de Respice stellam, porque essa expressão aparece várias vezes como uma ladainha, diz:

Ó tu, que te dás conta de que mais do que caminhar sobre a terra, estás vacilando entre tempestades e borrascas, não desgrudes os olhos do esplendor desta estrela se não quiseres ser vencido pela borrasca! Se se levantam os ventos das tentações, se te chocas contra os escolhos das tribulações, olha para a estrela, invoca Maria! Se fores batido pelas ondas da soberba, da ambição, da calúnia, da inveja, olha para a estrela, chama Maria! Se a ira ou a avareza, ou as ilusões da carne sacudiram o barquinho da tua alma, olha para Maria! Se atormentado pela grande quantidade de pecados, se confuso pela indignidade da consciência, se aterrorizado pelo medo do juízo, começas a ser absorvido pelo báratro da tristeza e pelo abismo do desespero, pensa em Maria! Nos perigos, nas angústias, nas incertezas, pensa em Maria, invoca Maria! Que isto não se distancie da tua boca, nem do teu coração, e, para obter a ajuda da sua oração, não te descuides da intimidade com ela. Seguindo-a não te perdes, pedindo a ela não te desesperas, pensando nela não erras. Se ela te sustenta não cais, se ela te protege não cedes ao medo, se ela te guia não te desgastas, se ela te for propícia alcançarás a meta.

A nobre dama romana, figura central de um círculo religioso e cultural que se propunha a reanimar a raquítica fé existente na própria cidade dos Papas – e por isso suspeita de nutrir simpatias pela Reforma –, esposa e depois monja, amada e cantada por Michelângelo nos últimos tempos da sua vida, com tons estilonovistas, ou mais robustamente dantescos, retoma a imagem de Maria como estrela, num soneto:

Estrela do nosso mar, clara e segura,
que o Sol do Paraíso na terra ornaste
com o mortal manto sagrado, cobriste
com o teu véu virginal sua pura luz;

quem vê o grande milagre não mais liga para
o mundo vil, e desdenha os vãos e ímpios contrastes
do exército antigo, pois que armaste com o escudo
invencível da alta virtude a nossa natureza.

Nustriste o Filho de Deus no seio
de uma virgem mãe, e a partir de agora
ele brilha com a veste humana no Céu;

onde lá em cima sempre domina sereno,
e acende o vivo zelo do beato,
e do fiel servo, aqui, a cara esperança.


Não se pode deixar de notar que o ponto de encontro entre os dois textos, escritos em linguagens tão diferentes, é a denominação de Nossa Senhora como estrela, como luz de orientação na vida, que, com muito realismo, é comparada por São Bernardo a uma travessia de mar agitado pela tempestade, e, por Vittoria Colonna, é qualificada com o adjetivo “vil”, de pouca importância se comparada com o grande milagre da Encarnação. Em ambos os textos, o simples olhar dirigido para essa mulher faz encontrar a certeza da vitória em todas as batalhas da vida, inclusive a mais terrível, aquela contra o antigo inimigo: a poetiza romana não hesita em usar termos de guerra para afirmar com qual arma Maria enriqueceu a natureza humana, empenhada na sua luta.
Uma última palavra sobre a metáfora que percorre todo o soneto. É uma metáfora muito feminina, essa da veste, e é bela quando usada, como aqui, revestida do pudor próprio de uma mulher. O corpo que Maria doou a Jesus é um manto, ou melhor, um véu que cobre a sua luz. No céu, Maria e Jesus, seu filho, que tomou o leite do seu seio, reinam juntos com a veste luminosa do seu corpo humano. Luz e corpo são próprios das estrelas, e as estrelas são feitas para serem observadas, para serem admiradas, mas também para se encontrar a estrada perdida, a esperança, diria Dante, da nobreza.

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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