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EDITORIAL

O início verdadeiro a cada manhã: uma provocação à vida

Voltar a trabalhar e retornar à sala de aula a cada dia seria “migrar” para fora de si mesmo, dos próprios desejos? O chamado senso do dever que muitos invocam para recomeçar o trabalho cotidiano, o significado daquilo que somos chamados a fazer por obrigação ou necessidade, corresponderia a uma negação de si mesmo, a um deixar-se acorrentar pelas coisas?

Falando aos responsáveis internacionais de CL, padre Carrón disse que “a afirmação do eu se torna uma prisão quando não corresponde à verdadeira natureza do eu. Por quê? Qual é a natureza do eu? Seria o que sempre precisa ser feito (e por isso não se consegue nunca completar), ou a natureza do eu é relação com o Mistério? Nós ficamos, muitas vezes, imobilizados porque, neste ponto, a mentalidade é a de todos”.

Viver o cotidiano significa viver o meu trabalho com toda a amplitude da minha humanidade, porque o desejo do eu é maior do que qualquer resultado e do que qualquer desilusão, resistindo mesmo debaixo de muitos obstáculos. Se eu próprio não recomeço a cada manhã, nada recomeça de verdade, e aí percebo a realidade só como uma grande engrenagem, que vai em frente independentemente de mim. E assim terminamos por ser prisioneiros das circunstâncias, ou ficamos entediados já desde o primeiro momento.

Só quando recomeçamos levando a sério as próprias perguntas e as urgências que estão por trás do desejo de significado, de verdade e de beleza, constitutivos do nosso ser, é que a realidade cotidiana abre o seu tesouro de ocasiões, de encontros, de descobertas. Se não for assim, qualquer lugar onde a gente vive torna-se um deserto anônimo onde encontramos aparências de pessoas, que exibem só a parte exterior, geralmente mais superficial e mais violenta do que elas são de verdade. E em vez de aulas, trabalhos, diálogos, onde aprendemos a ser livres, aquele lugar se torna um mercado-persa, onde perambulamos meio escravos. E, neste contexto, a escola, por exemplo, em vez de esperança quanto ao futuro do país, torna-se emergência social.

A escola, o trabalho ou a família não são um mundo à parte; ao contrário, é ali que está a raiz e o fruto de um povo. Mas nenhum sociólogo, nenhum pedagogo democrático e nenhum ministro podem fazer com que o “eu recomece” de forma verdadeira, ou seja, com liberdade. Precisamos do encontro. A experiência da liberdade, sabemo-lo pela vida, a gente a faz quando encontra alguma coisa, alguém que satisfaça o desejo de plenitude que carregamos dentro de nós. São muitas as falsas promessas de liberdade que nos são oferecidas, mas que se desintegram diante de uma sincera demanda de verdadeira libertação.

Mas então, apesar de todas as dificuldades, onde é que estão esses encontros que fazem o eu recomeçar e que tornam o ambiente não exílio de si mesmo, mas aventura de penetrar na realidade tornando-nos homens?

Neste número de Passos, apresentamos as razões pelas quais vale a pena recomeçar a cada dia, a partir do exemplo de alguns professores; a presença cristã do Movimento no Oriente Médio; e também um pequeno relato do que aconteceu na edição de 2007 do Meeting de Rímini: muçulmanos que, de fato, entram em diálogo com judeus e cristãos. Cientistas tocados pela beleza. Políticos e empresários que reconstroem uma unidade.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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