Vai para os conteúdos

EDITORIAL

Diante de uma encruzilhada

Há momentos em que o impacto da realidade se torna mais violento. A barbárie em torno do caso Eluana (a estudante italiana que estava em coma desde 1992, e que morreu há poucos dias, logo após serem desligados seus aparelhos e interrompida a sua alimentação); os horrores da guerra no Oriente Médio; os rombos da atual crise financeira mundial. Parece que tudo se juntou, e então o golpe é mais forte. Nesses casos, o efeito normal – e, para muitos, justo – é a reação. Bom sinal: quer dizer que o coração ainda não está inteiramente congelado. Mas basta isso para preenchê-lo? Será suficiente para enfrentarmos a realidade até o fundo, para nos libertar do medo, para mantermos a esperança? Ou por trás desses golpes tão violentos que até nos fazem mal (como é possível manter-se impassível diante de Eluana?) há algo mais, um desafio mais profundo?
Precisamos olhar para nossa experiência. Partir justamente do que está acontecendo. Defender a vida é justíssimo e indispensável. É uma luta que deve ser enfrentada com todas as armas de que dispomos: as leis, a cultura, os jornais. A educação. Até mesmo as praças, dependendo do caso. Tudo. Só que esse “tudo” não é suficiente. Defender o princípio correto da vida não nos basta para viver. Assim como afirmar com palavras o valor misterioso – e infinito – de um sofrimento não nos basta para enfrentá-lo. Ou defender a família – outra boa batalha para ser levada em frente – não nos basta para viver bem o casamento. Esse “tudo” que podemos fazer precisa mesmo ser feito, a luta precisa ser enfrentada até o fim. Mas não basta. Para entender realmente do que se trata, precisamos de alguém que viva até o fim. Que nos faça ver a plenitude de sentido que pode estar oculto até mesmo na mais cruel doença. Que nos mostre a beleza sem limite de uma vocação e o fascínio de educar os filhos. E que possamos descobrir, nessas circunstâncias, uma correspondência com o nosso coração que era impensável antes. E que cheguemos a entender quem torna possível tudo isso, o Único que pode torná-lo possível, pois nós não somos capazes: Cristo.

PRECISAMOS DE CRISTO. E de testemunhas que O tornem presente. Quando reconhecemos isso, é então que – como dizia padre Julián Carrón a um grupo de responsáveis de CL, algumas semanas atrás – “a vida nos desafia e se torna uma aventura apaixonante, porque nos introduz cada vez mais no significado do real”. A realidade é isso: um desafio constante. Uma coleção de desafios a reconhecê-Lo presente, de ocasiões para se comprovar a fé e ver florescer a esperança. E a luta, todas as batalhas, nos colocam frente a uma encruzilhada, que é anterior à alternativa entre vitória e derrota: estamos certos ou não da presença d’Ele? Do destino bom que encontramos? Do que vimos e que tocou as nossas vidas? Se a resposta for sim, podemos “esperar contra toda esperança”.

PARECE UM “DISCURSO RELIGIOSO”, um espiritualismo incapaz de resistir ao impacto violento da realidade. Mas é exatamente o contrário. Antes de tudo, porque não nos leva a abandonar a luta, e sim a descer à planície com mais disposição de combate. Nos faz entrar no mérito dos problemas com mais perspicácia, levando em conta todos os fatores. E mais importante ainda: nos liberta dos medos. Portanto, nos torna livres. Porque a esperança, a única esperança, só nasce dessa certeza: Ele está presente.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página