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EDITORIAL

Um gesto de protagonismo

O homem conhece a si mesmo e à realidade que o circunda quando está em ação. A inércia nos impede de conhecer verdadeiramente aquilo que está acontecendo. Essa sabedoria, expressa por Dom Giussani no livro O senso religioso, tem orientado em grande parte o método do Movimento desde suas origens. Por causa disso, os gestos e iniciativas de Comunhão e Libertação sempre foram entendidos, antes de tudo, como momentos educativos para cada um dos que os realizam. Ao mesmo tempo, uma experiência de Movimento que não gera nem participa desses gestos e iniciativas, tem dificuldade para compreender a própria grandeza do amor de Deus por nós.
A sociedade brasileira vive um desencanto com a vida política. Por toda parte se ouve que os políticos são mesmo corruptos, que não vale a pena participar da vida política do país, que o melhor é cada um cuidar de si, que o Estado deve cuidar de tudo, apesar de geralmente não cuidar bem de quase nada. Esse desencanto não é uma sadia compreensão dos limites da política, o entendimento de sua incapacidade de satisfazer o desejo último de realização que está em cada ser humano. Pelo contrário, é um sinal da perda de esperança na possibilidade de se encontrar algo de novo na vida, de uma experiência que valha a pena ser vivida e que nos lance, de forma positiva, na aventura da realização de nossa humanidade.
Na vida do Movimento, como em toda a vida da Igreja, contudo, estão acontecendo diariamente coisas belas, experiências de mudança de vida, de encontro com testemunhas que nos mostram que vale a pena se arriscar na construção do bem comum. Descobrimos, nesses testemunhos e em nossa própria vida, o quanto Cristo - a sua Presença - é vital para nós, para todos os homens, e quanto a sua companhia pode nos levar a mudar realmente a realidade. São testemunhos grandiosos como o de Vicky, em Uganda, de Padre Aldo Trento, no Paraguai, ou de Cleuza e Marcos Zerbini, no Brasil, ou testemunhos discretos, mas igualmente vibrantes e comoventes, que acontecem no cotidiano de todos nós. Não se pode viver plenamente essa experiência de novidade e não querer comunicá-la a todos, encontrar pessoas que não acreditam na possibilidade de uma coisa nova e não dizer a elas “uma outra realidade é possível, eu sei porque eu a encontrei!”.
Foram essas observações que levaram Comunhão e Libertação a distribuir mais de um milhão de panfletos, por ocasião das últimas eleições municipais, buscando reafirmar que uma outra realidade é possível, mesmo na política; que nós sabemos disso em função da verdade daquilo que já encontramos; que a esperança não nasce de uma utopia ilusória, mas das raízes de vida nova que já existem entre nós. Não se tratava de uma campanha para candidatos. Mesmo onde amigos do Movimento eram candidatos, foi esse espírito de anúncio que determinou a ação, e não a disputa eleitoral, como poderá ser visto nos testemunhos neste número.
Tornar-se mais consciente daquilo que encontrou e poder gritá-lo a todo mundo: essa foi a razão pela qual foi proposta a panfletagem do juízo do Movimento sobre as eleições. A panfletagem foi um gesto de amor a essa companhia que ajuda a não dar por óbvia a realidade, nem mesmo nas eleições. Um gesto de verdadeiro protagonismo, um anúncio de que aquilo que vivemos é para todos.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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