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EDITORIAL

O fio condutor

Que liberdade se respira quando descobrimos que a vida é unitária! Podemos viver sem que se abram fissuras – e, depois, rachaduras – em nosso cotidiano, separando fatos e aspirações, desejos e circunstâncias. Fé e realidade. A vida é una, pode ser una. É o que mais desejamos. E quem está seguindo a trajetória traçada por Dom Giussani em É possível viver assim? (o texto em torno do qual, há meses, milhares de membros ou pessoas próximas de CL estão desenvolvendo um trabalho diário) está chegando, aos poucos, a descobrir a fonte dessa unidade: a caridade. Não “gestos de” caridade, não atos bondosos ocasionais, mas a caridade, a natureza mesma de Deus. O Seu dom de Si, comovido, ao homem, para que o homem exista. “Por que Deus dedica ele mesmo a mim?”, pergunta Dom Giussani. “Por que se doa a mim, criando-me, dando-me o ser, isto é, ele mesmo? Além do mais, por que se torna homem e se doa a mim para tornar-me de novo inocente (...) e morre por mim?”. Em seguida responde, citando aquele versículo tirado de Jeremias e que literalmente nos dá arrepios: “Eu te amei com um amor eterno, por isso te atraí para mim, tendo piedade do teu nada”.
A raiz da nossa vida é essa piedade do nosso nada; é essa iniciativa de Deus fazendo surgir o nosso ser e nos convocando a agir, porque toda a vida se torna uma ocasião de resposta a esse transbordamento de caridade. Resposta agradecida à comoção de Deus. O oposto da passividade.

É esta a libertação. Há um fio condutor ligando firmemente todas as circunstâncias e que não devemos cansar de tecê-lo nós mesmos, para manter as partes unidas. Precisamos apenas encontrá-lo, descobri-lo em cada esquina da vida como fonte da nossa vida. Sem a preocupação de costurar com algum discurso a fé com a realidade, com o trabalho, com os relacionamentos. Esse dom de Deus já congrega tudo. “Sem mim nada podeis fazer”. Não há mais um abismo a ser preenchido com as nossas forças, mas uma Presença a ser reconhecida, uma superabundância de graça à qual ceder. E da qual tudo pode – finalmente – partir: o modo de trabalhar, o jeito de olhar os outros... Tudo.

Inclusive a política, que – não por acaso – a Igreja indica com uma fórmula impensável para quem não vive a experiência cristã: “Uma forma de caridade”. Um interesse por mim e pelo outro – pelo “nós” – que nasce dessa gratuidade e vem antes do poder, das leis, dos alinhamentos. É uma oportunidade para nós mesmos. Porque, como lembrava padre Julián Carrón a alguns responsáveis de CL há alguns meses, “está em jogo a fé como algo que abrange a totalidade da pessoa, e por isso todos os aspectos da vida”.
Frente ao desencanto que, hoje, circunda a política “temos uma oportunidade de comprovar, neste anos de eleições no Brasil, se a fé é mesmo capaz de despertar nosso interesse também por esse aspecto da realidade que cada vez desencanta mais”. Verificação da fé. Ou a descoberta, por meio da experiência, de quanto é sólido esse fio condutor. Essa é a grande oportunidade oferecida a nós neste ano. Seria lamentável desperdiçá-la.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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