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EDITORIAL

Um interesse por toda a realidade

Em novembro do ano passado, Papa Francisco durante o Congresso da Igreja Italiana fez um apelo: “Por favor, não olheis da varanda da vida, mas comprometei-vos, imergi-vos no amplo diálogo social e político”. Olhar da varanda é a atitude de tantas pessoas quando se fala de política. Sobrecarregados com os problemas e as dificuldades que às vezes parecem insuperáveis, como o atual momento do nosso país, com escândalos de corrupção e crise na economia, podemos viver um cansaço da liberdade e da responsabilidade, que se traduz numa desconfiança em relação a qualquer formação política.
Mas isso não tem origem só na política; a causa é bem diferente: uma crise do eu diante da realidade do dia-a-dia, da “vida que quebra as pernas”, como dizia o poeta Cesare Pavese.

Há esperança de sairmos desta situação bloqueada, que nos deixa insatisfeitos e desiludidos? Basta talvez darmos um mínimo de atenção a nós próprios para reconhecermos que em cada um continua a existir o desejo de um bem, ainda que mal se note e seja até inconscientemente. Como afirmava Luigi Giussani, o fundador do Movimento Comunhão e Libertação, é uma “exigência de relações exatas, justas, entre pessoas e grupos, a exigência humana natural. Desejo que a convivência ajude na afirmação da pessoa, que as relações ‘sociais’ não sejam um obstáculo para a personalidade no seu crescimento”.
Este desejo é como a bandeira da liberdade humana, que fundamenta o espírito de uma verdadeira democracia: a afirmação e o respeito pelo homem na totalidade das suas exigências de verdade, beleza, justiça, bondade e felicidade. Todo o jogo da vida social deveria ter como objetivo supremo o de manter vivo e alimentar o desejo do qual jorram os valores e iniciativas que juntam os homens.

Enquanto cristãos, pertencemos a uma realidade que alimenta esta esperança e que nos lança num interesse por toda a realidade, a começar pelas relações mais íntimas e familiares (a mulher, o amigo, a música...), até às relações do mundo.
Como disse recentemente o Papa Francisco, no recebimento do Prêmio Carlos Magno: “Somos convidados a promover uma cultura do diálogo, procurando por todos os meios abrir instâncias para torná-lo possível e permitir-nos reconstruir o tecido social. A cultura do diálogo implica uma autêntica aprendizagem, uma ascese que nos ajude a reconhecer o outro como um interlocutor válido, que nos permita ver o forasteiro, o migrante, a pessoa que pertence a outra cultura como sujeito a ser ouvido, considerado e apreciado (...). Assim a paz será duradoura”.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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