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Passos N.133, Dezembro 2011

RUBRICAS

Cartas

O MÉTODO DE CRISTO PARA MIM TEM UM NOME: LUISA
Luisa chegou no início de junho e, com ela, uma avalanche de mudanças e descobertas. Os primeiros dias em casa foram desafiadores, muitas vezes doloridos. Diante de todas as possibilidades – cólica, refluxo, febre, dor de ouvido, etc –, eu me descobri impotente, me dei conta de que nada poderia fazer para livrar a Luisa de qualquer “mal” e minha fragilidade foi escancarada. Diante disso, a primeira grande lição que Luisa me trouxe foi a oração. Recorrer Àquele que nos fez, a mim e a Luisa, com um pedido sincero e livre de qualquer pretensão, pois estava constatado que eu nada poderia fazer. Entregar a minha vida e a vida da minha filha nas mãos de Nossa Senhora e pedir que ela, como mãe, nos enchesse de afeto e nos acariciasse com seu manto. Assim fomos vencendo as primeiras batalhas, unidas a Cristo e à Nossa Senhora, em oração, a cada mamada, pedindo também o auxílio do Anjo da Guarda. Assim também meus limites foram sendo colocados em evidência e reconhecê-los me fez aprofundar o relacionamento com a Luisa e com Cristo. Entendi que somos iguais, filhas do mesmo Pai, feitas com o mesmo coração sedento de infinito. Naquele silêncio que só vive uma pessoa que passa um dia inteiro com um recém-nascido, pude ver nascer um amor imenso, um amor que não sou capaz de criar ou entender e, neste cenário, percebi que o que acontecia ali era grandioso, era o próprio Deus, novamente se fazendo carne no olhar da minha pequena e me provocando. Entendi que as poucas coisas que eu ainda “controlava” acabaram de fugir ao meu controle. A partir dali, o meu centro afetivo se deslocava do meu próprio umbigo e eu comecei a compreender o sentido da caridade e da doação. Eu estava entregue, fisicamente, emocionalmente, com todas as minhas forças, para aquele ser que Ele criou e colocou na minha vida, como uma novidade introduzida que abala tudo. A minha vaidade foi desconstruída, o meu casamento foi reconstruído. O meu olhar para o meu marido mudou, assim como o meu amor por ele; cada vez que o via brincando com a Lulu, era como se uma paixão reascendesse dentro da nossa casa. Tomada por essa experiência avassaladora, decidi me afastar do trabalho e me dedicar exclusivamente à criação da nossa pequena. Mais uma vez, experimentei a doação, a entrega, dedicar o meu tempo, a minha vida a essa criatura feita de amor por Ele. Uma entrega sem ressalvas, sem garantias de retorno, sem conforto ou comodidade. Foi preciso me desvencilhar dos meus próprios pré-conceitos, das minhas vaidades, para encarar a minha realidade e entender que acompanhar de perto o crescimento da Luisa é um presente e um milagre. Hoje meu coração está tranquilo e aberto a todas as novidades e ensinamentos que o relacionamento com minha filha Luisa me trazem. Assim me sinto mais livre diante da vida e mais próxima de Cristo, disposta a viver o que Ele me propõe, e não é pouca coisa. As novidades são diárias e meus planos não são capazes de acompanhar esse ritmo. Obrigada Pai, por me dar uma companheira fiel para juntas percorrermos esse caminho de graça. Obrigada, Luisa, por ser essa companheira.
Fernanda, São Paulo (SP)

O JUBILEU DA DIOCESE DE PAULO AFONSO
Estou muito agradecida a Deus por ter podido estar presente à festa dos 40 anos da diocese de Paulo Afonso. Tudo o que vi me surpreendeu positivamente: a começar pelos momentos de oração na Catedral, onde fomos nos confessar. Havia um clima sério de oração. Logo, também os distraídos, se davam conta das graças de um jubileu e da possibilidade de reconciliação e de abraço que nos esperava. Bastava olhar em volta e se deixar tocar. A forma de acolhida na porta da Catedral pelas irmãs, a disponibilidade dos padres em confessar, tudo comunicava que cada um estava sendo esperado por nossa mãe, Maria, que queria mais uma vez oferecer o seu Filho. Este foi o primeiro encontro. Outra riqueza surpreendente foi encontrar e conhecer as inúmeras experiências e grupos religiosos que atenderam ao convite de Dom Guido e estavam ali, naqueles dias, em missão pelas ruas, casas e hospitais de Paulo Afonso. Foi bonito ver rostos jovens e alegres de moças e rapazes vocacionados falando de sua experiência de fé, falando de sua associação, de sua regra, de sua missão com uma vivacidade que nos deixavam felicíssimos ao ver que a igreja é vivíssima e jovem! Particularmente estivemos próximos dos amigos da comunidade Betânia (que moram em Salvador) e da comunidade Arca de Maria que estão em Pernambuco. O ponto alto da festa do jubileu foi a procissão e a missa com o Núncio Apostólico no sábado à tarde. Foi uma festa realmente maravilhosa. Calculam-se vinte mil pessoas em procissão pelas ruas da cidade. Um povo religioso, de uma fé muito concreta, devoto de Nossa Senhora de Fátima e do Senhor do Bonfim, cujas imagens eram seguidas pelo povo em procissão. Nunca a cidade tinha reunido tantas pessoas de toda a diocese daquele jeito! Eu, principalmente neste último ano, havia acompanhado nosso amigo Dom Guido nos preparativos deste jubileu, porém, para mim, tudo foi muito além da expectativa, qualquer coisa de extraordinário, algo que é sinal de Algo maior e imponente: Cristo nunca para, está sempre operando, fazendo “maravilhas”! Era inevitável reconhecer este “além” naquilo que víamos. Nada podia justificar aquela beleza, aquela riqueza que nossos olhos viam, só Cristo presente, aqui e agora! Tudo isso tinha a sua origem no sim que Dom Guido dá diariamente, na tristeza e na alegria, ao pedido que Cristo lhe fez de ser bispo e bispo de Paulo Afonso. Tudo isso refletia o seu ímpeto missionário e seu amor à Igreja, a toda Igreja. Após três anos, vimos na ocasião do jubileu, que incidência tem para toda a diocese a presença de Dom Guido. Após a missa, fomos comer uma pizza com o grupinho de jovens que fazem a experiência de CL. São uns dez jovens. O que chama a atenção nesse grupo é a consciência de que encontraram uma novidade para suas vidas que atende sua exigência de amizade verdadeira e de liberdade: muitos falaram que estavam juntos porque ali podiam ser si mesmos, sem máscaras, sem preocupação de ser de um jeito, faziam a experiência de serem aceitos do jeito que cada um é, com limites, com as brigas e que a amizade é mais verdadeira por isso; ninguém se escolheu, mas se reconhecem amigos de caminho. A pizza não era muito boa, mas ficar ali naquela roda de amigos era como estar com Jesus na beira da praia quando Ele ofereceu peixe assado aos seus que estavam cansados após uma noite sem pescar nada, nos dizia Otoney. Era assim mesmo! Encontrar aquele grupinho mais uma vez foi muito gratificante para mim, pois Cristo escolhe quem Ele quer, onde quer e os reúne. E, realmente, podíamos dizer que nós quatro de Salvador que estávamos ali, Otoney, Paulo, Cesare e eu, éramos um corpo só com aqueles meninos que estavam maravilhados de pertencer a uma coisa grande. No outro dia, contamos animados tudo isso a Dom Guido no café da manhã em sua casa. Era visível que cada um de nós havia deixado o que tínhamos para fazer em Salvador para estar ali, ao menos naquele dia, com aquele grande amigo, porque a razão é movida pela afeição; éramos um grupinho dos afeiçoados, que reconheciam a companhia que Dom Guido nos faz na vida. Em seguida, partimos para Salvador. Também a viagem me surpreendeu. Foi muito simples, mas extremamente bonito voltar naquela companhia de amigos. De fato, é fácil reconhecer uma autoridade e aderir a ela: seguíamos espontaneamente Otoney por ver nele o ponto mais agudo daquilo que encontramos, amamos e estamos dando a vida.
Regina, Salvador (BA)

NAS RUAS DE BANGCOK DISTRIBUINDO BUDAS
Caro padre Julián, estou em Bangcok a trabalho. Não é a primeira vez que venho aqui e revi, com prazer, os lugares e o laboratório onde eu já trabalhei. Reencontrei também a pessoa que me convidou, mas não com o terno e a gravata de diretor, eu o encontrei com uma túnica alaranjada. Há um ano, frequenta o mosteiro budista e tornou-se monge. Para ser breve: ele quis me mostrar o que faz e convidou-me para ir com ele. Encontramos-nos na frente do hotel às 6h30. Chegou descalço com uma espécie de panela na mão onde arrecadava comida. Deu-me duas sacolas: uma para a comida e outra com uns cinquenta cartões vermelhos com uma imagem de Buda. Começamos a andar no meio da confusão habitual da cidade: ele na frente, e eu atrás. Ele não pedia nada, não saudava, não piscava. Apenas caminhava e, de repente, alguém, depois de cumprimentá-lo com as mãos juntas diante do rosto, deu-lhe uma sacolinha de nylon com comida. Depois, ajoelhou-se diante dele, tirou os sapatos e, com a cabeça inclinada e as mãos juntas, ouviu uma jaculatória pronunciada com certa solenidade por meu velho amigo “diretor”. Depois, eu lhe passei um cartão que ele deu à pessoa que abençoou. Fizemos isso durante duas horas. Depois, levou-me ao asilo dos pobres e fomos à ala dos velhos monges. Como nunca trabalharam, são muito pobres e completamente dependentes da ajuda dos outros. Começei a distribuir três ou quatro sacolinhas para cada um. Quem podia, me saudava à maneira thai (é um gesto de profundo respeito que não é feito sem motivo...), os mais doentes apenas me olhavam, e eu fazia o mesmo. Os menos velhos, depois que eu lhes entregara as sacolas, entoaram um canto ao qual todos se juntaram. Era uma bênção dirigida a mim. Perguntaram-me se era cristão, obviamente não porque “tenho os traços inconfundíveis de quem encontrou Cristo”, mas simplesmente porque tenho traços europeus. Em tudo isso, não me senti deslocado. Assisti à mesma cena trinta, quarenta vezes. A mesma reverência, a mesma jaculatória e meu cartão. É uma religiosidade generosa e simples que fala de uma necessidade: quer o chamemos Deus ou Buda, de qualquer forma, uma necessidade, a necessidade de todos. Quem sabe se, para estes que encontrei, o Mistério que invocam acontece. Porque essa é a grande questão também para mim, membro de CL experiente e bem informado. É até fácil ter simpatia pelo senso religioso dessas pessoas, mas a diferença não está em dizer que eu encontrei Cristo, mas se Cristo me acontece como aconteceu naquela manhã surpreendendo-me de modo misterioso e real, como uma atração fatal que polariza a minha atenção e o meu coração e não deixa nada fora.
Marco, Bangcok (Tailândia)

UMA CASA ABERTA
O sino bate e ao abrir o portão de minha casa entram Marquinho e Marcela, amigos de Belo Horizonte. Eles tinham ido buscar o Andrea no aeroporto da cidade, mas me contam que o avião não tinha visibilidade para descer. Para o “Jantar com os amigos de CL” tínhamos convidado não só a comunidade local, mas também amigos do trabalho e até uma amiga do Dener que há 20 anos não mantinha contato. Assim, enquanto jantávamos íamos conversando sobre a vida, caridade, amizade e até política. Mais tarde fomos informados: “Ele pegou a van que a empresa aérea disponibilizou e vai chegar mais tarde”. Eram duas da manhã quando meu sino tocou novamente, desta vez com o nosso amigo, exausto, mas muito feliz. Dentro de um silêncio, mas com uma alegria que transbordava em nossos gestos, acompanhamos o Andrea saboreando o jantar requentado. Para minha família é sempre muito natural receber amigos de CL em nossa casa, pois reconhecemos a paternidade de Dom Giussani e, em cada rosto novo, temos o abraço de um velho amigo. Foi um pedido de padre Tom ao celebrar nosso casamento: “Que a casa de vocês sempre esteja aberta aos amigos”. Um pedido que nós temos tido a graça de exercer nesses 10 anos. O dia seguinte foi muito intenso. Após o café da manhã fizemos uma assembleia com os voluntários que trabalharam no Dia Nacional da Coleta de Alimentos. Nossa comunidade é pequena (três casais e cinco universitários), por isso, ao ver os números da Coleta, é impossível não admitir a graça movendo esse gesto: duas toneladas de alimentos arrecadados; 11 entidades beneficiadas; 4 supermercados envolvidos e o milagre de mais de 150 voluntários. Elise conta-nos que a Coleta é uma metáfora para a vida. Leandra, uma das voluntárias que participa pela terceira vez do gesto, professora de inglês e participante da Renovação Carismática, diz reconhecer que a Coleta lhe corresponde plenamente. Quer continuar a ser convidada para os próximos anos e também diz desejar querer a mesma intensidade e gratidão que vê na amiga Elise. Ajudados pelo Marquinho, Marcela e Andrea, vimos algumas fotos da Coleta e fomos ajudados a fazer um juízo mais adequado sobre aquele acontecimento. Não é fácil tirar o foco do sentimento de euforia que gerou aquele evento, mas o juízo, quando verdadeiro, ultrapassa o sentimentalismo e chega até a raiz do real: o sucesso da Coleta não foi gerado por nenhum de nós, nos foi dado como presente. Aqueles 150 rostos estavam lá porque tinham sido tocados, fascinados ou, simplesmente, empurrados por um Outro. Essas pessoas se tornarão poeira em nossa memória se não nos ajudarmos a entender o verdadeiro significado daquele “sim” inexplicável. A Coleta se torna nossa apenas se chegamos ao fundo desse juízo. Depois almoçamos juntos em um restaurante e outros amigos lá apareceram. Marcos e Daniela, ambos professores de Estatística, vieram cumprimentar o Andrea. Ele estava trabalhando nesse sábado, mas chegou para ver aquele amigo tão especial. Peter, que apesar do nome inglês é um legítimo belorizontino, também professor de Estatística na Universidade Federal, é Adventista. Pela segunda vez participou integralmente da Coleta e disse ter sido tocado pela “carta da Bete”. Num reconhecimento de que o coração do homem é sempre o mesmo, permaneceu ao nosso lado até os últimos segundos do almoço, estendido por um brevíssimo passeio pelo centro histórico. Por fim, o convite para realizarmos uma Semana Santa com a comunidade de CL em nossa cidade, pois é natural o desejo de dividirmos aquilo que achamos belo com quem amamos. Quando nossos amigos foram embora tínhamos o coração cheio de gratidão por pertencer a essa companhia.
Bete, São João del Rei (MG)

CHEGAR (E NASCER) NO HAITI
Dia 12 de outubro, eu estava em Porto Príncipe. Naquela ilha, Colombo colocou, pela primeira vez no continente americano, a cruz de Cristo em um dia como aquele. Tudo foi destruído no Haiti: a catedral e o palácio presidencial são agora um monte de escombros, assim como a maior parte das casas da cidade. As pessoas enchem as ruas como se tivessem medo dos edifícios fechados. A necessidade de comer todos os dias e lavar-se, aproveitando qualquer recipiente de água, são as prioridades da maior parte das pessoas. O terremoto mostrou a fragilidade e a frivolidade de tudo, inclusive dos relacionamentos humanos. A terra tornou-se insegura e não confiável, as ruas foram destruídas, e mesmo as do centro da cidade ficaram cheias de buracos, tornando muito lento o trânsito de carros. A esperança parecia ter desaparecido, e poderíamos pensar que aquele povo não tem futuro. Mas os dias que passei naquele país contradizem essa opinião. O primeiro sinal chegou com o nascimento de um bebê. Quando cheguei ao Pronto Socorro de Waf Jeremie, irmã Marcella me levou rapidamente à sala de operações, dizendo-me: “Está para nascer um menino que corre risco de vida”. Vi-me diante de um recém-nascido que aquela religiosa e duas enfermeiras tentavam socorrer com pouquíssimos meios técnicos. Lutaram durante uma hora para salvá-lo, acompanhadas também por nossas orações. No fim, conseguiram reanimar o pequeno. A mãe, que ainda não tinha lhe dado um nome, pegou-o nos braços e o levou embora. Nascer é chegar e trazer uma esperança. Toda tristeza desaparece quando uma criança nasce. Da janela da sala de operações improvisada, era possível ver um veleiro que entrava no porto. Pensei: que coincidência! Que bonito chegar! Como não se comover e não se apaixonar por um início! Aqueles acontecimentos aumentavam minha curiosidade por aquilo que o dia estava me revelando. À tarde, tive um encontro com o Núncio Apostólico, que me contou que, naquele país, todos cantavam. Lá as cerimônias religiosas são sempre acompanhadas de muitos cantos, e nessas ocasiões todos se vestem de branco. De novo, algo indestrutível. A beleza e a música são algo que o terremoto não pode eliminar. No fim do dia, nos encontramos com as oito pessoas do Movimento que moram no Haiti, para retomarmos juntos o texto do Dia de Início de Ano. No fim do encontro, soube que alguns deles arriscaram a vida para participar daquele gesto, e diante da minha perplexidade, me disseram: “Não podemos perder o olhar de Jesus, que percorre a história desde o encontro com João e André, na Galileia, até hoje, em que chega a nós”.
Padre Julián, São Paulo (SP)



Dom Filippo assume Arquidiocese na Itália
No dia 21 de novembro recebemos a notícia da nomeação pelo Papa Bento XVI de nosso caro amigo Dom Filippo Santoro como Arcebispo da Diocese de Taranto/Itália. Com obediência e espírito de fé, Dom Filippo deixa a Diocese de Petrópolis e tomará posse no dia 5 de janeiro de 2012. A Dom Filippo nossa filial gratidão por esses 27 anos dedicados à Igreja do Brasil e em especial à construção sólida da presença de CL que tantos frutos gerou e continua a gerar entre nós.