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Passos N.137, Maio 2012

A HISTÓRIA

Anterior ao erro

“São para mim!” Claro que sim. Não havia passado nenhuma semana do seu aniversário e sobre o banco do carro estão dezoito rosas, como seus anos, um bilhete e um presente. Mas Inês não pergunta apenas por perguntar, é que não esperava dele esta lembrança. Levanta os olhos e por um minuto o fixa: Olha o rosto daquele homem que sempre pensou que deveria cancelar da sua vida, pelo fato que nunca esteve presente. Quando ele foi embora abandonando a mãe e a irmã mais velha, ela ainda estava na barriga. Agora estão aqui juntos, sentados no carro, diante da escola. “Então vamos almoçar.” Foi ela que o convidou depois de ter ouvido aquelas palavras na noite anterior.

Ela estava em um encontro, sobre relacionamento entre pais e filhos. No palco, Franco Nembrini, professor e pai de família, explicava que todos somos educadores, porque existimos, porque os outros nos olham e, qualquer coisa que façamos diz algo sobre nós. Fala do filho pródigo, do pai que lhe ama tanto a ponto de deixa-lo partir. E do amor. “O amor vem antes do erro. A educação é feita de um olhar: para mim você está bem assim.” Essa frase, é como se tivesse sido pronunciada apenas para ela. Sai dali e a primeira coisa que faz é ligar para o pai, para pedir-lhe que almocem juntos no dia seguinte.

Chegam ao restaurante. Ele começa a falar com certo alivio: “Veja, agora que estou um pouco melhor posso me permitir lhe trazer para comer...”. “Mas o que não ia bem antes?”. Pela segunda vez em toda vida, começam a falar abertamente: a história da família deles, e aquela que ele viveu depois de deixa-las, e todas as palavras e os fatos sobre os quais sempre evitaram comentar, presos durante anos em um relacionamento tão superficial a ponto de envenena-los. Ele fala por bastante tempo e Inês o olha em silencio: um homem forte, decidido, certo de nunca ter errado em nada, que começa a chorar. “Quando a sua irmã nasceu, eu estava no hospital com sua mãe. Ao invés, quando você nasceu eu não estava presente. É isso que eu não me perdoo. E não me perdoo todo o mal que eu lhe fiz nestes dezoito anos de vida...” Ela responde imediatamente: “veja que os milagres e os perdoes são possíveis, de outro modo eu não estaria aqui te olhando no rosto”. Mas ele insiste, sobre o mesmo mal; continua a falar de todos os sofrimentos que lhe causou no passado, “isso não poderei nunca eliminar”.

Inês teria um elenco pronto. Poderia redobrar a dose e recriminá-lo. Papai... Mas se detém. O seu coração, agora, está pleno de outra coisa. E ela percebe isto: “Papai, lhe faço um exemplo. Eu gosto muito de camarões com molho rose. Imagine que eu lhes descobrisse hoje pela primeira vez, e dissesse: ‘Não, agora não como, porque por dezoito anos eu não comi...’ Poderia dizer isso no lugar de me deliciar com eles!”. Ela o olha nos olhos e sorri: “É o mesmo para você. Pode começar. Agora.”