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Passos N.146, Março 2013

TESTEMUNHO - No coração da fé

A vida do meu filho

por Alessandra Stoppa

Uma gravidez de risco, a escolha de uma mãe e meses no hospital. Depois, o encontro com alguns universitários. Rosto após rosto, em volta de um menino doente, nasce uma rede de assistência. Apenas pelo desejo de ir ver “o que acontece”

Este filho era todo seu. Só seu. Pelo simples fato de que Alessandra levou adiante uma gravidez difícil, enquanto muitos em volta a aconselhavam a interrompê-la. Inclusive alguns médicos. Inclusive seu marido. Ela decidiu ter a criança embora as ecografias mostrassem uma má-formação grave; enfrentou uma cirurgia da criança dentro do útero e, depois que Frederico nasceu, precisava cuidar dele vinte e quatro horas por dia em um quarto de hospital. Os meses passaram, e o menino continuou ali, nunca foi para casa. As cirurgias, a doença que se tornou crônica, as diálises, todas as preocupações de uma mãe, e muitas lágrimas também. “Lembro-me do dia da primeira cirurgia de urgência”, conta Alessandra: “Eu fiquei ali, fora da sala de cirurgia, esperando por horas, rezando, sozinha”.
No entanto, hoje, entra naquele quarto na ponta dos pés. Agora, há algo entre ela e esse lugar, um pequeno quarto dentro do departamento de Pediatria de uma clínica de Milão que foi toda a sua vida nos últimos meses. Com o seu filho, está Ilária, uma jovem de 24 anos. Acabou de trocar de turno com Pietro, que por sua vez trocou com Bea, que trabalhou durante a noite. “Entro devagar”, diz Alessandra, “porque quero ver o que tem aqui”.
É a primeira que se pergunta do quê se trata. “Não é algo que depende de mim, porque chego e encontro tudo isso. É algo que não é feito por nenhum de nós. Mas que existe porque Frederico existe.” Ele está ali, no berço, lindo. Tem seis meses. Não dá para perceber que sua condição é tão delicada. Está ligado aos pequenos tubos da diálise peritoneal, rodeado de bichos de pelúcia, e olha em volta curioso. Se lermos sua ficha clínica, é um milagre que esteja vivo. “Damos um passo a cada dia”, diz Alessandra. Conta tudo o que ela e seu filho viveram, inclusive a dor. Mas logo é possível ver que vivendo tudo isso, ganhou a si mesma, porque tem o rosto radiante. A gravidez, as discussões em casa com o marido e a escolha solitária, mas simples: “Era meu filho...”. Foram poucos os que a entenderam. Seus alunos, por exemplo. E nunca teria pensado nisso. Ensinava Ética em uma escola da periferia milanesa. Aqueles jovens com a cabeça cheia de clichês, a favor do aborto e sem interesse por ninguém, quando viram sua barriga crescer e souberam dos problemas do menino, se transformaram: “Força, professora! Coragem, não desanime...”. Imediatamente ficou claro para ela como eles eram: “Vi quanta fome tinham. E você só pode saciá-los com a sua própria vida”.

Vizinhos de casa. Frederico nasceu de sete meses. Depois da primeira operação, dentro do útero, seguiram-se outras quatro. Alessandra conta: “Os escritos de João Paulo II sempre me acompanharam. Um dia li uma coisa que ficou dentro de mim: depois da recuperação de uma cirurgia, o Papa agradeceu a Nossa Senhora por aqueles dias de sofrimento. Não por ter se curado, mas por ter estado no hospital. Só depois eu entendi...”.
Alguns meses depois do parto, decide telefonar para um vizinho, Eduardo: pergunta-lhe se conhece alguém com conhecimento profissional que tenha disponibilidade para ficar um dos turnos na clínica, para que ela também possa estar com Gabriel, o outro filho, de três anos. Eduardo encontra uma moça chamada Ilaria, amiga de amigos, que está se formando em enfermagem pediátrica e se colocou disponível para ajudar aquela mãe, inclusive gratuitamente. Ele coloca as duas em contato e durante alguns meses não tem notícias do que aconteceu. Até que um dia, telefona para Ilária, para saber como as coisas terminaram. “Você precisa ir até a clínica! O que está acontecendo lá é um milagre.” Ele fica petrificado. “Um milagre? O que você está dizendo... Quero ver isso com meus próprios olhos.”
A partir daquele pedido, feito sem pensar muito, uma companhia tinha tomado forma. Depois das primeiras vezes, Ilária, convidou algumas amigas para conhecer a mãe e a criança, e elas também se ofereceram para ajudar e, depois, contaram para outras pessoas, que também quiseram ir. E voltaram. Agora, são mais de dez universitários que se revezam em turnos, noite e dia, com Alessandra. “Não só ajudaram Frederico”, conta ela: “Eles assumiram o meu papel. Depois de ter carregado um peso enorme sozinha, senti que podia confiar em alguém e comecei a me tranquilizar. Só diante deles percebi o quanto realmente precisava disso”. Jovens de vinte anos que estão ali às oito da manhã ou à meia-noite da sexta-feira. E ela chega e vê um espetáculo: “Olho para Pietro, que deixou os livros de Medicina e veio aqui para pegar Frederico no colo e cantar-lhe cantigas de ninar, ou Bea que toma conta dele com uma delicadeza incrível, quase sem conhecê-lo”. Fica maravilhada. Assim como as pessoas se impressionam com ela: “Perguntam-me onde encontro forças. Ou como faço para ainda acreditar em Deus... No fundo, querem saber que sentido tem tudo isso”. Seu filho parece não poder fazer nada, mas suscita as perguntas mais profundas. E também muita raiva. “Para todos é o mesmo menino, o mesmo fato, mas cada um lida com isso com a sua liberdade. E com resultados muito diferentes...”
Ela se deu conta de quanto os anos da juventude, vividos na experiência cristã, a marcaram. Só agora entende por que diante de escolhas difíceis conseguia ver tão claro e os outros não. “Devo muito aos meus pais, que me transmitiram a fé, e toda a riqueza acumulada – da qual não tinha consciência – veio à tona na adversidade. A fé construiu a minha pessoa mais do que imaginava.” A ponto de fazê-la experimentar, através da dor, uma alegria maior do que todas as outras: “Viver realmente, tocar com as mãos – o que torna impossível esquecer – o quanto é verdadeira a fé em Cristo”. Lembra-se de um dia, em particular. Frederico estava na UTI neonatal e corria o risco de morrer por causa de uma septicemia. Ela, ao lado, rezava, com o coração explodindo, enquanto faziam uma infiltração intraóssea colocando uma agulha em sua tíbia minúscula. “Estava muito aflita. Mas fiquei ali, e naquele momento entendi: Frederico sofre, Frederico se oferece.” Sua voz fica embargada. Silêncio. Ela e aquele menino em seus braços são a oferta de si diante dos meus olhos. Depois sorri, e recomeça: “A partir daquele momento, tudo se tornou mais bonito e mais simples. Era verdade para ele e para mim: é possível oferecer o sofrimento”.
Ouvi-la falar de Frederico é escutar sobre um dom acontecido especialmente para ela. “Gabriel, o primogênito, trouxe muita alegria e unidade para a minha vida e de meu marido. Frederico nos foi dado para que essas coisas sejam mais verdadeiras”. Chamou-o Frederico Emanuel, porque é a sua provação no Ano da Fé: “A própria pronúncia de seu nome é um pedido: Senhor, esteja comigo”. Sob o peso e a dor, quando ela tem vontade de abandonar tudo e desistir, pensa em seu filhinho, que luta para viver com todas as forças: “Ele luta e não diz nada. Entrega-se. Faz-me sorrir tantas vezes”.

Cada um de nós é perfeito. Para Ilária, Pietro, Bea e os outros, o tempo gasto verificando o oxímetro, cantando baixinho canções alpinas, ou apenas acariciando-o, mudou a concepção de si mesmos e das coisas. “Frederico me ensina que, para Jesus, cada um de nós é perfeito, me dá essa medida, que é Sua”, diz Raquel. Ou Laura: “Ele faz aflorar todo o meu desejo, que sufoco, durante o dia, no meio das coisas a fazer. Ele, tão pequeno, tão bonito, tão inocente, lembra-me que não estou me fazendo sozinha”. Quando Ilária aceitou vir aqui, o fez imediatamente: “Para mim, é natural cuidar de outra pessoa. É uma exigência que tenho. Mas o que aconteceu supera qualquer intenção e expectativa. Agora, vou me mudar para Nova York, para seguir meu caminho, mas se tenho tanta certeza de um desígnio sobre a minha vida é por causa dos meses que passei aqui”.
Quando Eduardo esteve pela primeira vez no hospital, viu Ilária trocar a fralda de Frederico: “Tinha o mesmo cuidado de minha mulher com nossa filha”. Com ela, havia duas moças que estavam ali pela primeira vez, por causa da curiosidade despertada pelas coisas que a amiga contou a elas. “Assim, me vi diante do menino”, diz Eduardo, “e me surpreendi olhando para ele como Ilária e seus amigos. Frederico é uma presença. Toca pelo simples fato de existir. Por ter sido criado”. Talvez seja isso o que acontece aqui, nos sentimos desejados.
Naquele dia, Eduardo voltou para casa e encontrou uma vizinha, que perguntou sobre Alessandra e o pequeno. “Olha, não há nada a temer”, respondeu: “Lá, vi uma coisa. Vou lhe contar...”.