IMPRIME [-] FECHAR [x]

Passos N.150, Julho 2013

RUBRICAS

A HISTÓRIA: A tarefa de Gabriel

A gaita de foles na correia de couro e o olhar fixo na Grande Cúpula. Assim, Gabriel andou por Roma na esperança de tocar sua gaita para o Papa. Veio de Milão, com seus pais, para participar do encontro dos Movimentos com o Santo Padre. A carteira de identidade diz que tem trinta e dois anos, mas tem a transparência de uma criança. Talvez seu desejo seja tão tenso e puro por causa da deficiência que tem, uma incapacidade psicomotora com a qual nasceu. Perdeu o trabalho há pouco tempo, porque a firma onde trabalhava faliu. Mas quando se apresenta às pessoas, diz num único fôlego: “Gabriel, trabalhador, sou coroinha, toco gaita de foles”. Buscando a si mesmo dentro das tarefas do dia a dia.

Domingo de manhã, está na Praça São Pedro para a missa de Pentecostes, no setor dos deficientes. A mãe, Marinella, o convenceu a guardar a gaita na mochila. O Papa está dando a volta pela Praça no papamóvel e os voluntários disseram que ele também passará por ali. “Porém, não vamos gritar Francisco”, diz Gabriel a todos os que estão em volta dele: “Vamos fazê-lo ver que entendemos o que ele disse ontem durante a vigília”. Coração, pulmões e garganta se empenham para dizer: “Jesus, Jesus!”, que é interrompido apenas quando o papamóvel está a dez metros dele e para.
O Papa olha para ele: “Estou chegando! Vou até aí!”. Desce. Cumprimenta os doentes que encontra, um por um. Até chegar em Gabriel, que o espera com os braços erguidos, como alguém que atingiu a meta mais importante da vida. E quando o tem diante de si, se abandona a ele. Olhando para eles, não dá para saber qual dos dois abraça mais forte. Separam-se só para se olhar nos olhos. E Gabriel aproveita para dizer: “Pode rezar uma Ave Maria por mim?”. Francisco responde: “Tudo bem, mas reze pelo Papa todos os dias”. “Ok, eu vou fazer isso, de verdade”.
Os braços de Gabriel soltam o pescoço do Papa enquanto a mãe, de trás, o segura pela blusa. “Só depois me dei conta, vendo-me na filmagem, que eu o segurava assim. Queria conter sua impulsividade, mas, sobretudo, eu também queria entrar dentro daquele abraço”.

O Papa se afasta. Gabriel fica com sua mochila e a gaita. Não conseguiu tocá-la, mas aconteceu outra coisa maior. Percebeu melhor o que era, no dia seguinte, quando voltou para casa. A busca por um trabalho recomeçou: não será fácil encontrá-lo, mas precisa dele. É algo que se apresenta continuamente entre as questões domésticas e o desejo de tocar. “Mas me senti em paz”, conta: “Porque o Papa me deu uma tarefa. Assim que acordo me ajoelho e rezo um Glória por ele. E à noite, o terço”. No dia seguinte, de novo. E de novo. Prometeu que o faria...