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Passos N.162, Setembro 2014

APROFUNDAMENTOS

Em Santo Domingo, os Exercícios Espirituais e o encontro com as Carmelitas

por Maria Helena N. Souza

Neste ano, 25 pessoas participaram dos Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação realizados na região. Foram onze dominicanos, uma cubana, nove haitianos, dois italianos, o padre Emílio, espanhol, e eu. Apesar de todos os desafios e dificuldades – sobretudo para os haitianos passarem pela fronteira e entrarem na República Dominicana –, quando todos chegaram à casa de retiro, o que predominou foi a alegria pelo reencontro ou pelo encontro com as pessoas novas e a gratidão por sermos espectadores do milagre da unidade que estávamos vivendo, embora fossemos provenientes de 6 países com línguas e culturas diferentes.

Realizamos os Exercícios no Mosteiro das Carmelitas de Santo Domingo. Uma das monjas, Irmã Ana Julia, pertencia à Fraternidade Comunhão e Libertação. Antes de entrar no Mosteiro, participava do Movimento em Santo Domingo, chegou a ir ao Meeting de Rímini e foi em um dos Exercícios Espirituais que ela reconheceu a sua vocação. Quando soube que estávamos ali para realizarmos os Exercícios, solicitou permissão à Madre superiora para nos cumprimentar. A Madre não só permitiu, como propôs o encontro para todas as outras Irmãs.
Assim, nos receberam no parlatório, ficando as 18 Irmãs sentadas na Clausura e nós 25 sentados do outro lado da grade. Houve um diálogo entre nós e todos ficaram muito marcados com o encontro, simplicidade e alegria das Irmãs que, após contarem a história da Ordem Carmelita, nos disseram que o objetivo pelo qual vivemos e pelo qual elas vivem é o mesmo.

No domingo à tarde, após os Exercícios, pudemos participar da entrada de uma noviça no Mosteiro. Foi um grande acontecimento! O padre Emílio fez uma benção especial e, ao se despedir, a noviça agradeceu a presença de todos, dizendo que embora seus amigos da Paróquia não estivessem ali, ela tinha ficado muito surpreendida e contente com a bela festa que havíamos feito e que entendia que nós éramos o povo de Deus que ela esperava que a acompanhasse nesse momento. Para todos nós, foi uma ocasião comovente e de testemunho da beleza da presença concreta de Cristo que nos atrai a Si.

Neste ano, contamos com a ajuda do Giacomo (italiano do Movimento que trabalha para a Fundação AVSI), que tem um grande talento para cantar, ensinar os cantos do Movimento e para nos reger. Um amigo dominicano que foi pela primeira vez em um gesto do Movimento, aprendeu e tocou as músicas no violão. Projetamos os cantos, pois não foi possível imprimir os livrinhos, e quando começamos a cantar a uma só voz Ojos de cielo, Razón de vivir, La strada, Povera você e outras músicas da nossa história ou da tradição dominicana e haitiana, senti a ternura de Cristo que tem piedade do meu nada. Naquela sala, éramos de fato um povo. Era impossível não sentir o coração vibrar.

Durante todo o encontro, padre Emílio nos ajudou a cuidar de cada gesto, educando o nosso coração sobre o sentido do silêncio ao entrar no salão, o sentido da música, a forma de rezar os Salmos, de estarmos na Missa ou de estarmos juntos nos momentos das refeições. Assistimos ao vídeo do Retiro realizado por Padre Carrón na Espanha e nossos amigos haitianos contaram com a tradução das palestras na língua Crioulo. Diante da beleza do que estava acontecendo entre nós, veio-me o desejo de silêncio e me dei conta de que cuidar do meu relacionamento com Cristo era a melhor forma para crescer na amizade com cada um nos momentos em que compartilhávamos nossas experiências. Foi evidente que mais importante do que a preocupação com a organização, era o reconhecimento da Presença de Cristo que estava agindo e cuidando de cada coisa. Percebi como as coisas não estavam nas minhas mãos, tudo me era dado de forma gratuita e como é verdade que, ao obedecermos, “vivemos melhor”, é mais correspondente, nossos olhos vibram e nos tornamos mais amigos.

Os momentos de almoço e jantar foram ocasiões para nos ajudarmos a julgar aquilo que estávamos vivendo à luz do que tínhamos ouvido nas palestras. No sábado, após o jantar, do lado de fora do refeitório, todos tinham o desejo de continuar conversando sobre o impacto que as palestras de sábado tinham causado. De forma natural, fizemos uma pequena assembleia, na qual um de cada vez fazia uma pergunta, ou falava sobre como tinha se sentido provocado, ou contava uma experiência que acabava respondendo à pergunta feita por uma outra pessoa.

No sábado à noite, assistimos aos vídeos sobre a vida de Dom Giussani traduzido para o Crioulo e das três entrevistas realizadas com Dom Giussani e transmitidas, na Itália, pela Rete 4 (traduzidas para o espanhol). No domingo, após o vídeo da Assembleia dos Exercícios realizada na Espanha, ao perguntarmos se ainda havia alguma questão não respondida, vários quiseram fazer suas perguntas ou contar um testemunho.

Sherline comentou que, ouvindo o trecho da música La strada que diz: “é bonita a estrada que te leva para a casa e onde já te esperam”, pensou que, no final deste caminho, Deus está a sua espera. Mas, depois, ouvindo Ojos de cielo – “olhos de céu, não me abandones em pleno voo”, “teus olhos de céu me iluminariam, meu caminho e guia” –, cresceu a certeza de que Ele está sempre com ela e que não a abandona neste caminho.
Ela ainda aproveitou o encontro para anunciar a todos o seu casamento no próximo dia 30 de agosto. Já seu noivo, Clifford, falou que, ao escutar padre Carrón durante aqueles dias, era como se tivesse telefonado para um amigo falando de suas dificuldades, e ele tivesse respondido, pois naqueles dias tinha encontrado as respostas. Depois nos falou sobre algumas dificuldades e desafios e como tem percebido que tudo o que lhe acontece é para seu amadurecimento, para o seu crescimento no relacionamento com Deus. E nos contou como reconheceu o sinal da Presença de Cristo na decisão que teve que tomar com relação à escolha do lugar onde irá morar.

Durante os Exercícios, senti-me muito grata e surpreendida com tudo que Cristo e Nossa Senhora estão fazendo acontecer na minha vida e na vida de nossos amigos. Era impressionante ver o sacrifício que muitos fizeram para estar ali, para preparar bem os momentos, e o desejo de estarem juntos. Como é verdade que é na experiência que podemos surpreender o que para nós é o essencial.