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Passos N.164, Novembro 2014

MAGISTÉRIO

“A Igreja, corpo e obra-prima de Cristo”

Discurso do Santo Padre na Audiência Geral na Praça de São Pedro, quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Prezados irmãos e irmãs, bom dia! Quando se deseja salientar como os elementos que compõem uma realidade estão intimamente unidos uns aos outros, formando uma só realidade, usa-se com frequência a imagem do corpo. A partir do apóstolo Paulo, esta expressão foi aplicada à Igreja e reconhecida como a sua característica distintiva mais profunda e mais bonita. Então, hoje queremos interrogar- -nos: em que sentido a Igreja forma um corpo? E por que é definida “corpo de Cristo”?
No Livro de Ezequiel é descrita uma visão um pouco especial, impressionante, mas capaz de infundir confiança e esperança nos nossos corações. Deus mostra ao profeta uma planície de ossos, separados uns dos outros, secos. Um cenário desolador... Imaginem uma planície cheia de ossos. Então, Deus pede-lhe que invoque o Espírito sobre eles. Naquele instante, os ossos movem-se, começam a aproximar-se e a unir-se entre si, neles crescem primeiro os nervos e depois a carne, formando-se assim um corpo, completo e cheio de vida (cf. Ez 37, 1-14). Eis, assim é a Igreja! Recomendo-lhes que hoje, em casa, peguem a Bíblia, no capítulo 37 do profeta Ezequiel; não esqueçam, e o leiam, é muito bonito! Esta é a Igreja, uma obra-prima, a obra- -prima do Espírito, que infunde em cada um a vida nova do Ressuscitado, pondo-nos uns ao lado dos outros, uns ao serviço e em ajuda dos outros, fazendo assim de todos nós um único corpo, edificado na comunhão e no amor.

Mas a Igreja não é apenas um corpo edificado no Espírito: a Igreja é o corpo de Cristo! E não se trata simplesmente de um modo de dizer: mas o somos verdadeiramente! É o grande dom que recebemos no dia do nosso Batismo! Com efeito, no sacramento do Batismo Cristo nos faz seus, nos recebendo no âmago do mistério da cruz, o mistério supremo do seu amor por nós, para depois nos fazer ressurgir com Ele, como novas criaturas. Eis: assim nasce a Igreja, é assim que a Igreja se reconhece como corpo de Cristo! O Batismo constitui um renascimento autêntico, que nos regenera em Cristo, nos torna parte dele e nos une intimamente entre nós, como membros do mesmo corpo, cuja Cabeça é Ele (cf. Rm 12, 5; 1 Cor 12, 12-13).
Então, daqui brota uma profunda comunhão de amor. Neste sentido é iluminador que Paulo, exortando os maridos a “amarem as suas esposas como o próprio corpo”, afirme: “Como Cristo faz à sua Igreja, porque somos membros do seu corpo” (Ef 5, 28-30). Como seria bom se recordássemos mais frequentemente o que somos, o que o Senhor Jesus fez de nós: somos o seu corpo, aquele corpo do qual nada nem ninguém pode privá-lo e que Ele cobre com toda a sua paixão e todo o seu amor, precisamente como um esposo faz com a sua esposa. Mas este pensamento deve fazer nascer em nós o desejo de corresponder ao Senhor Jesus e de compartilhar o seu amor entre nós, como membros vivos do seu próprio corpo. Na época de Paulo, a comunidade de Corinto encontrava muitas dificuldades neste sentido, vivendo, como também nós tantas vezes, a experiência das divisões, das invejas, das incompreensões e da marginalização.
Nada disso é bom porque, em vez de edificar e levar a Igreja a crescer como corpo de Cristo, fragmenta-a em muitas partes, desmembrando-a. E isso acontece inclusive nos dias de hoje. Pensemos nas comunidades cristãs, em algumas paróquias, pensemos nos nossos bairros, quantas divisões, quantos ciúmes, como se critica, quanta incompreensão e marginalização! E o que isso comporta? Desmembra-nos uns dos outros. É o início da guerra. A guerra não começa no campo de batalha: a guerra, as guerras têm início no coração, com incompreensões, divisões, invejas e com esta luta contra o próximo! A comunidade de Corinto era assim, eles eram campeões nisso!

O apóstolo Paulo deu aos Coríntios alguns conselhos concretos que são válidos também para nós: não ser invejosos, mas nas nossas comunidades apreciar os dons e as qualidades dos nossos irmãos. Os ciúmes: “Aquele comprou um carro” e sinto aqui uma inveja; “Este ganhou na lotaria”, e outra inveja; “E aquele é bem sucedido nisto”, e mais uma inveja. Tudo isso desmembra, faz mal, e não se deve fazê-lo, pois assim os ciúmes aumentam e enchem o coração! E um coração ciumento é um coração amargo, um coração que em vez de sangue parece conter vinagre; é um coração que nunca está feliz, é um coração que desmembra a comunidade. Mas, então, o que devo fazer? Apreciar nas nossas comunidades os dons e as qualidades dos outros, dos nossos irmãos. E quando sinto inveja – porque todos sentem, todos somos pecadores – devo dizer ao Senhor: “Obrigado, Senhor, porque concedestes isso àquela pessoa”! Estimar as qualidades, tornar-se próximo e participar no sofrimento dos últimos e dos mais necessitados; manifestar a própria gratidão a todos. O coração que sabe dizer obrigado é um coração bom, um coração nobre, um coração feliz! Pergunto a vocês: todos nós sabemos dizer obrigado, sempre? Nem sempre, porque a inveja, os ciúmes nos limitam um pouco. E, finalmente, eis o conselho que o apóstolo Paulo dá aos Coríntios e que também nós devemos dar-nos uns aos outros: não consideres ninguém superior aos outros. Quanta gente se sente superior aos outros! Também nós, muitas vezes, dizemos como aquele fariseu da parábola: “Obrigado, Senhor, porque não sou como aquele, sou superior!”. Mas isso é feio, nunca se deve agir assim! E quando estiverem prestes a fazer isso, lembre-se dos seus pecados, daqueles que ninguém conhece, envergonhe- se diante de Deus e diga: “Mas Tu, Senhor, Tu sabes quem é superior, eu fecho a boca!”. E isso faz bem. E, sempre na caridade, consideremo-nos membros uns dos outros, que vivem e se entregam para o bem de todos (cf.1 Cor 12–14).
Caros irmãos e irmãs, como o profeta Ezequiel e como o apóstolo Paulo, invoquemos também nós o Espírito Santo, para que a sua graça e a abundância dos seus dons nos ajudem a viver verdadeiramente como corpo de Cristo, unidos como família, mas uma família que é o corpo de Cristo, e como sinal visível e belo do amor de Cristo.