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Passos N.173, Setembro 2015

FÉRIAS NACIONAIS

Um povo novo

por Isabella Santana Alberto | Fotos de Kika Antunes

As férias nacionais da comunidade: quatro dias de convivência com velhos amigos e novas faces. Entre testemunhos, jogos e festa, uma novidade que pedia apenas para ser olhada e reconhecida

Após curvas sinuosas e muito verde, chega-se de carro ao hotel de Águas de Lindóia/SP, que fica a 180km da capital paulista e 8km antes da divisa com Minas Gerais, para as férias nacionais de CL. Para quem chegou de mais longe foi organizado um ônibus saindo de Campinas/SP. E já no aeroporto se notava uma grande alegria começando pelos cumprimentos e sorrisos no reencontro entre pessoas de diversas cidades do país. E impossível não notar a disponibilidade do Marcão de São Paulo, que voluntariamente organiza todo o transporte para receber cada pessoa do melhor modo.
Assim foi o início das férias, na qual quatrocentas pessoas se reuniram entre 23 e 26 de julho. Evento esperado por adultos de todas as idades, jovens e muitas famílias com crianças, que há meses estão se programando, inclusive se organizando financeiramente para poder participar deste momento. É o que Walter, do Rio de Janeiro, exemplifica em sua carta: “Para mim, tudo começou nos primeiros dias de janeiro, quando a Clara, minha filha de 10 anos, ganhou uma agenda e perguntou o dia das férias para anotar ali (além do dia da Coleta de Alimentos e Rio Encontros). Eu fiquei muito tocado, pois percebi o quanto eram importantes para ela estes momentos. E nestes meses ela sempre ficou falando que nas férias iria encontrar os amigos. Então, eu e Dani tivemos que nos organizar para este momento, abrindo mão de várias coisas neste tempo de crise. Porém, estando presente nas férias, vivendo aqueles dias cheios de surpresa, posso dizer que verdadeiramente valeu o sacrifício”.

Abertura da criança. “Que aqui, cada um de nós possa se sentir olhado”. Com esta proposta, Marco Montrasi (Bracco), responsável nacional do Movimento, resumiu na primeira noite a proposta daqueles dias que teve como tema “Uma presença no olhar”. Pela manhã a oração do Angelus e, em seguida, breves pontos para manter vivos na memória como proposta de trabalho para aquele dia. O convite era o seguimento das atividades sugeridas – brincadeiras, música, festa, passeio no bosque com as crianças, testemunhos, vídeo –, além de utilizar todo o tempo livre, tendo a abertura da criança, prontos a receber a novidade, sem ficar presos nos esquemas do que já se sabe. Trabalho que poderia ser feito olhando a si mesmo em ação e prestando atenção nos encontros que fazemos (“o eu renasce num encontro”). Encontros na beira da piscina, na fila do restaurante, cuidando das crianças. Foi o que experimentou Leandro, de Brasília, que conheceu o Movimento há mais de 20 anos quando era estudante. Chegou ali em busca de descanso, mas aderiu ao gestos e brincadeiras e pôde se surpreender: “Eu nem vim com a intenção de buscar, mas achei. Porque tive o olhar de criança de que o Bracco falou, de estar aberto às coisas da vida”. Mesma experiência que fizeram os jovens colegiais e universitários que aceitaram o convite de ajudar na arrumação do salão do encontro. Ali, no serviço de ordem, se lançaram como protagonistas.
Durante as férias foi possível novamente reconhecer que existe um lugar no qual é possível a geração do sujeito, e o amadurecimento da fé. Adultos como crianças, cheios de criatividade e alegria como vimos na confecção de máscaras, na música do Sarau Tradição, na viola do Chico Lobo, nos arranjos do Tatá Sympa e nos demais músicos, no entusiasmo das brincadeiras, que reuniu pessoas de todas as gerações com criatividade e animação incomuns. Mesmo diante da dureza da vida, como nos testemunharam amigos que enfrentam fase de desemprego, ou doença. “Como os primeiros cristãos, como o povo de Israel, alguém os colocou juntos e cada um se sentiu preferido. Somos um povo novo. Não estamos cada um perdido, sozinho, no seu próprio caminho!”, lembrou-nos Bracco.

Partir de uma plenitude. Um ponto que marcou a todos os participantes foi ver a vivacidade do padre Ignazio. Missionário do Pime, recentemente deixou seu trabalho em Salvador para acolher o pedido de seus superiores para voltar a trabalhar em Macapá. E, ali, parecia uma criança, pelo olhar maravilhado e a alegria contagiante. E na sua simplicidade ensinou algo grandioso a todos os presentes, como bem definiu Alexandre, de São Paulo, na assembleia final: “Quando na missa o padre Ignazio falou para as mães pegarem as crianças, eu pensei que ele iria pedir para as crianças saírem, e o que ele fez foi justamente o oposto do que eu imaginava. E me marcou muito porque aquilo que aconteceu foi muito mais de acordo com o que eu desejava, porque não é verdade que eu desejava que as crianças estivessem fora. Eu desejava, na verdade, que acontecesse alguma coisa como a que aconteceu, que junta tudo; que consegue unir as coisas, e não dividi-las. Então me marcou muito essa maneira diferente de olhar. E no livrinho da Fraternidade tem uma parte em que Carrón fala que o cristianismo conquistou o mundo pela misericórdia, não foi pela crítica, não foi pela capacidade de apontar o que falta, mas foi pela misericórdia! E vendo isso acontecer, pensei que é essa a maneira de olhar para as coisas que desejo aprender, que é uma maneira de olhar as coisas de alguém que parte de algo que está cheio, que parte de uma plenitude, e por isso consegue enxergar o que tem na frente, não fica na confusão nem fica medindo o que falta, mas enxerga aquilo que existe na sua frente”.
Plenitude que pudemos identificar na exibição do vídeo “Dom Luigi Giussani 1922-2005. O pensamento, os discursos, a fé”, e na mostra sobre a vida do fundador de CL, ambos preparados para marcar a passagem dos 10 anos de seu falecimento, ocorrida em fevereiro Foi essa também a grande descoberta para Claudiana, de São Paulo: “Olhando para as outras mães do grupo de WhatsApp que conheci pessoalmente ali nesses dias, especialmente uma amiga a quem o grupo ajudou financeiramente para que ela estivesse lá, e vendo o caminho que estamos percorrendo juntas, cada uma em sua cidade, em sua casa, em suas rotinas de mães 24 horas por dia, notei que não estamos sozinhas, que um Outro nos colocou ali juntas. E, depois, olhando para minhas filhas, especialmente para a Letícia, que nesses dias foi toda carregada por essa companhia, me fez pensar que eu não basto para ela, e que bonito saber que existe um lugar, um povo que carrega adiante o destino dela! Isso me fez entender um pouco mais aquele salmo que diz: ‘A tua fidelidade se estende de geração a geração’. Depois, fiquei pensando: o que poderia gerar uma unidade entre nós? Somos mães, amigas, temos famílias com crianças, e nos relacionamos muitas vezes por Skype, por um mundo virtual. Naqueles dias entendi melhor que só Ele pode gerar essa unidade entre nós, e então o outro não me escandaliza mais, não espero nada dele a não ser ver Cristo ali, como na consagração durante a missa, onde todos, jovens, adultos e crianças, estavam a olhar para Ele! Por isso, descobri que o importante é que exista esse lugar, esse povo que caminha junto rumo ao destino comum de cada um que foi escolhido e preferido! Que exista um povo novo hoje!”.
Dias intensos, mas que não servem como uma pausa nas dificuldades da vida, ou para que fiquem na lembrança como algo bonito que passou, mas abrem um caminho de trabalho pessoal, como descreveu Kika de Belo Horizonte: “Aqui eu fiz a experiência de brincar e amar, e eu fui ‘colada’, a minha ânfora foi colada! E é tão bonito ver as marcas daquilo que eu sou e me recuperar. Então, eu vou para casa pensando em todas as coisas que eu desejo fazer e que não posso deixar esse meu ‘eu’ aqui, eu preciso carregar ele comigo e recomeçar”.

Águas de Lindoia (23-26/07/2015)

Encontro no salão. Tema: "Uma presença no olhar"

Momento de jogos.

Momento de jogos.

Boa música.

Missa celebrada por padre Ignazio e padre Paulo. Crianças foram convidadas a participar.

Passeio noturno com as crianças.

Momento de testemunho.

Noite de festa.

Foto do grupo. © Kika Antunes