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Passos N.173, Setembro 2015

RUBRICAS - Em foco

Ter para onde olhar

O agravamento da crise política e econômica nacional, evidenciada nas novas manifestações ocorridas em agosto, gera em nós frequentemente uma sensação de desamparo e falta de referências. Para onde ir? Como o cidadão comum pode enfrentar uma onda de corrupção de tão grande proporção? O que fazer diante de uma recessão econômica que vai crescendo, destruindo vagas de trabalho e esperanças de futuro?

Neste momento, as maiores ameaças são, de um lado, a raiva que gera violência e mais frustração, de outro, o desânimo que imobiliza e deprime. Existe uma justa indignação com as mazelas daqueles políticos que não sabem honrar a confiança que os eleitores e os militantes de seus partidos depositaram neles. Existe uma necessária resignação com o período difícil que está vindo, pois a maturidade passa também por saber aceitar os dados da realidade, mesmo quando negativos. Mas tanto a justa indignação transformada em raiva quanto a necessária resignação transformada em desânimo nos impedem de construir o novo, de criar as condições de superação da adversidade, quer no nível pessoal quer no social.

A esperança não é uma ilusão voluntarista com relação ao futuro, nem pode nascer da negação das dificuldades do presente ou da prepotência das ideologias. A real esperança, aquela que é capaz de nos mover rumo a um futuro melhor, aquela pela qual vislumbramos a ternura de Deus para conosco, nasce sempre do reconhecimento de um fato já presente em nossa vida, do reconhecimento de sementes de vida nova que já brotam entre nós. Por isso, para ter esta verdadeira esperança é necessário ter para onde olhar.

Dom Giussani ensinava que Deus nunca nos deixa sem pessoas ou situações para as quais olhar, pontos de referência que nos ajudam a encontrar o caminho justo. Num momento como este, são pessoas que conseguem construir e redescobrir a positividade da vida em meio às dificuldades, obras e movimentos que trabalham com afinco e dedicação pela construção do bem comum. Quanto mais conseguirmos ver estas experiências positivas, descobrir sua força e os critérios que nascem de seu cotidiano, superando ideologias e partidarismos, mais facilmente conseguiremos superar as adversidades tanto no plano social quanto no pessoal.