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Passos N.184, Setembro 2016

RUBRICAS

Cartas

MUDAR O MUNDO A PARTIR DE SI
Durante a Assembleia de Escola de Comunidade de julho, dentre tantas coisas que foram ditas por Bracco, todas elas muito bonitas e importantes, me chamou muito atenção quando ele dava o juízo do porquê participávamos das propostas que nos eram feitas pelo Movimento. De como alguém ouvindo aquelas coisas não poderia sair de lá da mesma maneira que chegou. Isso tudo respondendo à pergunta se era verdade que a misericórdia seria capaz de mudar o mundo. E também falando sobre as férias nacionais que aconteceriam em julho... Porque todos nós estamos enfrentando dificuldades, sem dúvida, não só aqueles que não puderam ir enfrentam as mazelas da crise econômica que estamos enfrentando no momento, ela chegou para todos! E eu também me perguntava do porquê todo aquele esforço para poder participar das férias. O próprio padre Paulo tinha feito a pergunta diretamente a mim em umas das reuniões: “Luciana, por que você vai às férias? Por que todo esse movimento de vender doces para arrecadar dinheiro?”. Fiquei com essa pergunta, e com a resposta do ano passado. Porque ano passado, ano do meu casamento, eu tinha claro a ideia de ir: porque é com aquelas pessoas que quero jogar toda a minha vida, quero viver meu casamento, olhar para meu esposo, esperar os filhos, enfim, viver a família como aqueles meus amigos vivem! Isso tudo continua sendo verdadeiro, mas a resposta do ano passado não era suficiente para a necessidade do meu coração de hoje. Foi então que recebi, através do site da Revista Passos, o artigo denominado “Na prisão, o rosto feliz de Tiago”, onde Aurora, uma de nossas amigas, conta como foi para Tiago, um detento, ter recebido a permissão de ir aos Exercícios da Fraternidade deste ano, e como foi sua volta à prisão, os amigos que o esperavam e a guarda que pediu a ela para levá-la no próximo ano! Imediatamente, me veio ao coração: “É por isso! É por isso que vamos às férias! E não só às férias, mas à Escola de Comunidade, à Assembleia! É por isso que não posso perder nada! Para poder ver Jesus mudar tudo! E mudar o mundo!”. Desta maneira, começamos a mudar o mundo, como falava Bracco na Assembleia, porque começamos a mudar o mundo dentro de nós, dentro da nossa casa, do nosso trabalho. É desta forma, através de nós, tão pequenos, tão miseráveis, tão pecadores que Deus muda tudo.
Luciana, Rio de Janeiro (RJ)

BANCO DE SOLIDARIEDADE
Junto com vocês estou bem
Há três anos, chegou ao Banco de Solidariedade a sinalização da necessidade de Suela, mãe solteira, e decidimos entregar-lhe uma cesta básica mensal. Logo nasceu um relacionamento de amizade e afeição entre nós. Muitas vezes a convidei para almoçar em minha casa e conheceu minha família. Vinha com a filha e dizia que se sentia bem na nossa companhia. Depois de um ano ela me disse que gostaria de batizar sua filha, com 6 anos, e também falou que estava pensando em receber também ela os Sacramentos. Quando lhe perguntei o porquê, me disse que queria viver como eu. Com a ajuda de amigos do Banco e da Fraternidade procuramos a paróquia próxima à sua casa e ali encontramos uma catequista que se disponibilizou a acompanhá-la. O percurso durou dois anos. Suela pediu que eu e meu marido fôssemos seus padrinhos. Participar dos retiros foi para mim uma graça que me permitiu conhecer com quanto amor e paternidade a Igreja acolhe os seus filhos. Nossa amiga recebeu o Batismo, Crisma e Primeira Comunhão; sua filha recebeu o Batismo e já se prepara para a Primeira Comunhão. Quando lhe perguntei como se sentia após ter recebido Jesus, me disse: “Estou mais serena, mais contente, mesmo com todos os problemas que continuam ali. Por que não encontrei vocês antes?”.
Nadia, Milão (Itália)

MEETING DE RÍMINI
TU ÉS UM BEM PARA MIM
Não conheço, em todo o mundo, um evento comparável ao Meeting. Sou diretor do Centro de Ética e Cultura da Notre Dame University, a maior universidade católica dos Estados Unidos, e desde 2008 participei cinco vezes da manifestação. Estou habituado a grandes eventos, e, no entanto, quando desembarquei nos pavilhões de Rímini pela primeira vez, me senti muito pequeno. A primeira coisa que nos impressiona no Meeting é a sua grandeza, as proporções fora de escala. São tantos lugares, tantas pessoas fechadas dentro da Feira durante uma semana inteira. Mas logo entendemos que a multidão e a grandiosidade dos espaços não são o aspecto mais interessante. O que a longo prazo marca mais é a alegria profunda que anima essa manifestação. Alegria que toma corpo nos milhares de voluntários, jovens estudantes, mas também profissionais estabelecidos, que trabalham gratuitamente para que o Meeting se torne uma realidade. Vejo um espírito de amizade, abertura, serviço e entusiasmo pelo encontro que permeiam todo o evento. No plano cultural as exposições e conferências são muito estimulantes. Mas, quando se vai embora, o que fica é a lembrança das pessoas e das amizades que nascem. O Meeting, no decorrer dos anos, tornou-se muito importante para mim, não apenas do ponto de vista pessoal, mas também profissional. Permitiu-me encontrar personalidades extraordinárias do mundo inteiro. Há alguns anos convidamos personalidades que encontramos no Meeting para a nossa Conferência de Outono. No ano passado, por exemplo, convidamos o padre Julián Carrón, que falou sobre liberdade. Estamos felizes por poder colaborar e não vemos a hora de que esse relacionamento cresça e possa integrar-se ao trabalho que fazemos todos os dias na Notre Dame.
Orlando Carter Snead, Indiana (EUA)

NÃO ESQUEÇAIS A HOSPITALIDADE
De fato, Deus se utiliza das mais diversas formas para nos levar ao Seu encontro. A chegada do Marcos e sua família ao seio do nosso lar, mesmo que motivada por uma situação muito grave de doença, foi um dos encontros mais preciosos que eu e Eduardo fizemos no mês de aniversário de um ano do nosso matrimônio... É verdade que só amamos se somos amados, a vida é um dom porque alguém nos quis. A capacidade da acolhida tem sua origem no encontro que fazemos todos os dias com Cristo através do relacionamento de amor com o esposo, pais, irmãos, enfim, com a família e amigos. Acolher alguém é uma manifestação do acolhimento originário de Deus. Como disse Giussani, “a acolhida e a partilha são a única modalidade de um relacionamento humanamente digno, porque somente nelas a pessoa é exatamente pessoa, ou seja, relação com o Infinito”. Então, é a consciência de ser amado que nos permite perdoar a diversidade do outro, abraçar o diferente e desenvolver um amor verdadeiro pela pessoa, até mesmo por alguém que acabamos de conhecer. Sou somente agradecimentos pelo crescimento da minha família na vivência de todas as circunstâncias dramáticas e também na felicidade das graças alcançadas diariamente junto com a Danielle, sua irmã, filha, sogra, amigos e do próprio Marcos, com um acolhimento verdadeiro, pois sempre corremos o risco do moralismo. Tudo que acontece em nossas vidas tem um significado último, como diz este trecho de Hebreus 13,2: “Não esqueçais a hospitalidade; pois, graças a ela, alguns hospedaram anjos, sem o perceber”.
Ana Isabela, Salvador (BA)

UMA ORAÇÃO ENTRE AS BANCAS DO MERCADO
Caríssimo padre Carrón, ontem, como todas às quartas e sextas, fui ao mercado municipal para pegar frutas e verduras, coisa que faço há mais de três anos, para o Banco de Alimentos. Nós vamos com quatro pessoas, às vezes seis, e em banca por banca pedimos doações de frutas e verduras. A coleta é dividida no local e entregue a quinze entidades. Depois de mais de três anos de presença somos muito bem vistos e mesmo quem não tem nada para doar nos presenteia com um sorriso e uma saudação. Há pessoas muito generosas. Um homem me deu novecentos e oitenta quilos de tangerinas, alguém que não tinha me visto veio me procurar para me dar dois mil quilos de batatas novas ainda embaladas nas caixas. Ontem, outra pessoa me deu uma tonelada de uvas brancas chilenas, belíssimas e muito boas. Há também quem doa coisas estragadas... Nós agradecemos e as jogamos fora. Instaurou-se um clima agradável. Há quem faça sinal de que não tem nada, quem nos chama de “Banco de Alimentos”. Em uma banca pequena, que tem muita dificuldade para sobreviver, me dão sempre – sempre! – duas caixas de verduras das mais bonitas. Às vezes, enquanto ando de uma banca a outra agradeço ao Senhor pela generosidade com uma oração. E, quando ninguém nos dava nada, dizia: “Jesus, olha que estou aqui por você”, e as doações começaram a acontecer. Mas eu disse isso como oração, não como um lamento..
Ernesto, Turim (Itália)

UMA PRESENÇA NO OLHAR
Mais uma vez termino as férias encantada. Tenho uma relação desde pequena com uma família, que se inaugurou com uma menina que chegou com cara de uma bênção, de um presente. Mas minha relação com essa menina foi se complicando ao longo do tempo. Apesar disso, ela era o maior motivo para eu me intrigar com essa família... Diante das complicações com essa menina, ouvi de uma pessoa a seguinte frase: "essa parece que nasceu para sofrer", e essa frase me perturbava os pensamentos... Como nasceu para sofrer? Todos nós temos o desejo de sermos abraçados na vida, e de ter um abraço que dê sentido à nossa dor... E vim para as férias para tentar ser o mais paciente possível na relação com essa menina... E me surpreendi com o tema das férias: "Eu preciso da misericórdia para viver?". E, então, diante dessa pergunta, eu percebi que a misericórdia era: mudar o foco do olhar que estava voltado para o negativo... Então passei a observá-la com a tentativa de fascinação... E essa fascinação me veio de imediato ao vê-la acolhendo, brincando e se doando para Amparo (uma menina argentina com deficiência visual que estava conosco) de um jeito que nenhuma outra criança se dispôs a fazer... Eu passei a vê-la como um brilho! E quando eu passei a elogiá-la e dizer que ela era uma menina encantadora, ela se tornou cada vez mais encantadora! E com isso ela me fez perceber que não era só com ela que eu não tinha misericórdia... Para mim a misericórdia é olhar para o outro e procurar entender sua dor, e sua situação, e não rebaixá-lo por isso, e sim, se esforçar a enfrentar as dificuldades junto dele! E eu respondo com toda certeza que eu preciso da misericórdia, dos amigos, da família, e de Deus... Porque eu não dou conta da minha vida sozinha, eu preciso de companhia para ser abraçada! Jesus era a misericórdia em pessoa e acredito que temos que buscar as coisas que nos fascinam em Cristo e colocá-las em prática. Saio dessas férias com uma mudança no olhar novamente e com o desejo de seguir esse caminho e de abraçar e ser abraçada eternamente.
Letícia, São Paulo (SP)

PRÊMIO INESPERADO
COMO AQUELES QUE DOAVAM PELA CATEDRAL
Caro padre Carrón, o recebimento de um inesperado prêmio em dinheiro foi uma ocasião para nos perguntarmos a que somos apegados na vida. Somos casados e temos três filhos. Sou professora e meu marido tem um trabalho temporário na universidade. Não temos dificuldades financeiras, mas o trabalho não é seguro e, além disso, este ano decidimos colocar nossa filha mais velha em uma escola particular. Somando as várias despesas, os gastos mensais são realmente elevados. Em suma, um prêmio como aquele foi realmente um “presente do céu”. O primeiro pensamento que tivemos foi o de não ficar com tudo. Nosso desejo foi o de compartilhar uma parte do dinheiro, por uma gratidão que temos pela nossa história com o Senhor. É como se alguém tivesse nos confiado aquele dinheiro dizendo-nos: façam com que ele dê frutos para a construção do meu Reino. Certo, usar bem o dinheiro para a família faz parte da construção do Reino de Deus. Mas doar uma parte dele é, para nós, sinal de um reconhecimento: nossa família só pode ser construída sobre uma rocha, ou seja, a Igreja. Como aqueles que séculos atrás doaram o que tinham para a construção da Catedral de Milão, nós também pensamos em fazer uma oferta para a Fraternidade. Devemos tudo ao Movimento porque, se nos casamos, se temos filhos, se somos o que somos, devemos a uma história que nos conquistou anos atrás e ainda hoje nos conquista e faz nosso matrimônio e nossa vida reflorescerem.
Carta assinada

A JUVENTUDE NA IGREJA
Essa foi a minha terceira Jornada Mundial da Juventude. A primeira que participei foi em Madri, em 2011, e a segunda aqui no Rio de Janeiro em 2013. Posso dizer que toda JMJ sempre é diferente, pela minha própria visão e pelo que amigos que foram a edições anteriores me contaram. Pela experiência que vivi no Rio, fiquei decidido a ir ao próximo evento. E assim que o Papa anunciou, já comecei a preparação (pelo menos dentro do coração). Logo comecei a procurar preço de passagem e estimar o valor da inscrição. E colocava isso em oração, da mesma forma que fiz quando fui para Madri. Mesmo com o dólar e o euro alto, mesmo com as dificuldades de conseguir um intervalo no trabalho, eu pedi para que Deus “desse um jeito”. No fim, consegui me organizar e finalmente pude ir para a Polônia! E a experiência de participar da JMJ no país do meu amado São João Paulo II foi incrível. E essa Jornada tinha um toque especial, pois como eles mesmos falavam, era “a cidade dos santos”. A Polônia é um país berço de muitos dos Santos da Igreja Católica, como o próprio São João Paulo II e Santa Faustina. Os santuários desses dois ficam em Cracóvia. E o melhor: um do lado do outro! Deu pra sentir no ar, e também na espiritualidade, o cheiro de santidade naquele local! Por ser um país da Europa Central, foi possível ver muitos peregrinos que vieram do Leste Europeu, coisa que não vi em Madri e muito menos no Rio de Janeiro. E isso para mim foi muito bom, pois pude ter contato com a juventude desses países e ver o modo como são alegres e orantes. Chamou minha atenção os húngaros, que antes de comer fazem uma longa oração com cânticos muito bonitos (mas o que deu para entender foi somente a melodia!). O momento que mais me tocou nessa JMJ foi durante a vigília. Além do silêncio de 2 milhões de pessoas, a organização distribuiu velas para que acendêssemos. Formou uma imagem muito linda, que me lembrou da procissão das velas que acontece todo sábado em Fátima, Portugal. Quanto a Cracóvia, essa cidade é tomada de história e arte. E vemos isso nos templos da área central. Desde o Castelo de Wawel, onde moravam os reis da Polônia, com a capela real lindíssima, até as igrejas do centro que são simplesmente de tirar o fôlego. Toda parte artística das igrejas nos levam à contemplação de Deus. E foi em uma dessas igrejas que participei de uma adoração lindíssima do Societas Spiritus Sancti. O carisma deles é o Espírito Santo. E a adoração toda foi pedindo a presença do Espírito Santo no meio de nós. O grupo está presente em vários países, e cada um na sua língua orava um pouco com músicas suaves, e com instrumentos mais clássicos como o violino. E por fim, os momentos de missa de abertura, catequeses, encontros com o Papa, peregrinação e vigília sempre são uma benção a parte. São os momentos que realmente nos vemos como igreja, com os irmãos do mundo todo, em oração! Tenho certeza que em 2019 no Panamá também será um grande evento em que os jovens de todas as idades poderão reabastecer sua fé e os novos jovens se encantarem com a beleza da juventude católica!
Rafael, Rio de Janeiro (RJ)