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Passos N.185, Outubro 2016

DESTAQUE | MEETING

As perguntas nascidas da tecnologia

por Marco Bersanelli

Ciência e afins. Do “Espaço WHAT” às ondas gravitacionais, no Meeting discutiu-se muito sobre como a tecnologia questiona nossas vidas. Eis por quê

É difícil pensar em um aspecto da nossa vida que não seja continuamente modificado, ou transformado pelos avanços cada vez mais arrojados da tecnologia. Poderíamos deixar de discutir um tema do gênero no Meeting de Rímini? Procuramos fazê-lo evitando a tentação de colocar no centro respostas pré-confeccionadas ou percursos definidos, mas, em primeiro lugar, confessando a nossa impossibilidade, ou mesmo apenas incapacidade de dar soluções prontas. Ao contrário, deixamos todo o espaço para as perguntas, o diálogo, a escuta. Com uma grande vontade de encarar sem medo os grandes desafios que tudo isto está provocando.

O Espaço WHAT, que é uma sigla para a frase em inglês “What’s Human About Technology?” (“O que há de humano na Tecnologia?”), proposto pela Associação Euresis e pela Fundação Ceur, teve um formato experimental. Um trabalho em andamento mais do que um produto acabado. De um lado, um amplo espaço livremente acessível, uma série de vídeos exemplificavam alguns vértices da alta tecnologia, tratando de temas como a micronanotecnologia, a robótica, a biotecnologia, a realidade virtual. O objetivo não era esgotar um impossível elenco, mas suscitar algumas questões imperativas, às vezes inquietantes, que a tecnologia coloca diante dos nossos olhos.
Do lado oposto, sobre um pequeno palco, duas vezes por dia algumas personalidades de diversas áreas encontravam-se para um diálogo informal diante de um grupo que variava sempre entre 150 e 200 pessoas. Os relatores não eram apenas cientistas, mas também filósofos, empresários, advogados, poetas: não há âmbito que não seja contagiado pela tecnologia, e nunca de modo banal.
Houve diálogos verdadeiros, ágeis e intensos. Sobretudo, a discussão era aberta a todo o público: talvez as melhores coisas tenham emergido exatamente nesses diálogos espontâneos. Isso mostrou bem que a singularidade do Meeting é sobretudo o povo que o frequenta: a participação ativa, atenta, crítica, aberta das pessoas tem algo de particular, é uma riqueza filha de uma educação que vem de longe; e que gera um clima que impressiona as grandes personalidades que, em alguns casos, estão ali pela primeira vez.
Em um canto do WHAT os visitantes podiam experimentar alguma tecnomagia, como fazer um pequeno drone voar com as próprias ondas cerebrais, enquanto um vídeo fazia uma síntese sobre o tema. Enquanto isso, a conversa guiada prosseguia rica e vivaz, chegando a questionar “que bem para nós” pode definitivamente vir da tecnologia. O homem sempre tentou imitar e reproduzir a realidade. Hoje, o virtual entra no nosso relacionamento com a natureza, a arte, a história, o esporte. Qual é a fronteira entre virtual e real? Há algo na realidade que não é reproduzível? Por que isso nos interessa? Estava exposta, como amostra, uma cópia da obra Ramos com flor de amêndoa, de Vincent Van Gogh. Mas aquela era uma cópia “indistinguível” do original. Feita com técnicas avançadíssimas que reproduzem o quadro com detalhes microscópicos, repropondo até as pinceladas, a mão do autor. E então, sabendo que o que estamos vendo é radicalmente indistinguível do original, ainda permanece o desejo de ver o original? E por quê? Até agora, ninguém deu uma resposta convincente.

Em que condições a mediação nos aproxima, ou nos afasta, do objeto? A micronanoeletrônica revolucionou nossa maneira de nos relacionarmos com o ambiente e, sobretudo, entre nós. Hoje, temos nas mãos objetos que contêm uma tecnologia que até poucos anos atrás estava, quando muito, apenas em algumas empresas. Temos acesso a uma grande velocidade e quantidade de informações. Mas a conversação entre os seres humanos é cada vez mais rara. Estamos perdendo alguma coisa?
A tecnologia faz parte da própria natureza do homem, satisfaz o seu desejo de utilidade e de conhecimento. Ela também é o instrumento crucial para indagar a natureza, como ficou evidente nas belíssimas colocações de Laura Cadonati e Roberto Battiston sobre a descoberta das ondas gravitacionais.
Mas até que ponto pode chegar o “tipo de satisfação” que a tecnologia promete? Como dizia uma frase de Platão escrita na parede, “para que serviria uma técnica capaz de nos tornar imortais se, depois, não soubéssemos o que fazer com a imortalidade?”.
Aflora, aqui, a centralidade do sujeito, de alguém capaz de usar e julgar. O Papa Francisco dizia: “O homem deve conduzir o desenvolvimento tecnológico sem deixar-se dominar por ele”. Que olhar é necessário para valorizar os frutos da genialidade humana sem nos tornarmos submissos a eles? Quem saberá educar este olhar? De que coração precisamos para que possamos conhecer o universo sem perdermos a nós mesmos?