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Passos N.185, Outubro 2016

CINEMA

“E eu, a quem pertenço?”

por Simone Fortunato

Algum tempo depois do arrojado resgate do pequeno Nemo, o peixinho Marlin deve ajudar a amiga Dory a reencontrar os próprios pais

Está entre o remake e a sequência o novo desenho da Pixar que, no decorrer dos anos, nos presenteou com muitas pérolas preciosas: da trilogia de Toy Story a Valente, de Wall-E a Up, até chegar ao recente Divertida Mente. Todos, filmes que têm em comum um nível técnico altíssimo e reflexões não banais sobre família, afetos, identidade.
O coração de Procurando Dory, assim como o de seu predecessor Procurando Nemo é, de fato, uma pergunta fundamental: “A quem pertenço?”. Este é o questionamento de Dory em vários momentos do filme. De quem eu sou, qual a minha origem, a minha casa, a minha família? Quem se pergunta é uma peixinha que, assim como o pequeno Nemo no filme anterior (imperfeito porque dotado de uma barbatana atrofiada), tem uma deficiência, um grande limite: não tem memória, ou melhor, não tem memória recente e, portanto, se esquece do que acabou de lhe acontecer. No entanto, apesar desses contínuos esquecimentos (que, metaforicamente, são os limites de todos: as pequenas mesquinhezes, os muitos erros e desatenções diários), Dory lembra-se muito bem da própria origem. Um pouco porque, como é dito num certo ponto da narrativa “é lógico ter pais, ter nascido de alguém”, mas sobretudo porque, como se descobrirá depois de muitas surpresas, a verdade do coração sempre vem à tona.
Procurando Dory é uma grande aventura, riquíssima de encontros e reviravoltas: um verdadeiro e próprio road movie na água onde o Destino bom passa através de muitos pequenos encontros de amigos que ajudam a encontrar o caminho para casa; a companhia de Marlin e Nemo, de focas, polvos, de uma multidão de peixes, todos a seu modo dispostos a ajudar Dory, que sabe o que é essencial e fica agarrada a isso. Agarrada a uma origem boa, feita de pais amorosos que nunca perdem a esperança e que veem sempre o positivo nela, será mais fácil para a peixinha azul descobrir com olhos novos a beleza do mundo, como destaca o esplêndido final em mar aberto.