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Passos N.189, Março 2017

CINEMA

Cantando estações

por Beppe Musicco

Em Los Angeles, desabrocha o amor entre uma aspirante atriz e um pianista em busca de sucesso. Com essa história o filme foi vencedor de seis estatuetas no Oscar 2017: atriz, diretor, música original, trilha sonora, fotografia e design de produção

Um musical envolvente e às vezes esmagador, que relança um gênero de ouro em Hollywood, La La Land de Damien Chazelle é candidato a ser o filme do ano. Na realidade, é isso e muito mais: uma história de amor, na qual o romantismo e a melancolia são pungentes e afinados tanto com um passado sempre lamentoso (também através do grande cinema de outrora e do jazz dos tempos idos) como também contemporâneo, ao falar de desejos, sonhos, expectativas, talento, êxito.
Um filme que parece realmente antigo e moderno, na capacidade de evocar os clássicos (seria belo se os jovens que o amam redescobrissem alguns dos grandes filmes do passado citados com classe), mas também de relançar o cinema com uma arte viva, capaz de reinventar-se (a começar pelo incipit clamoroso, com um plano sequência que já está na história do cinema) e mesclar cores, humores, ritmos, sentimentos em um unicum imprevisível e original. De fazer as pessoas saírem da sala amando o cinema e a sua magia (lembra-nos a sensação que nos provocaram dois recentes filmes, muito diferentes, como The Artist e Hugo Cabret).
E que se trata de um retorno em grande estilo entende-se logo pela cena inicial: um longo plano sequência panorâmico que envolve com música e dança todos os motoristas envolvidos em um grande engarrafamento de trânsito em um trevo de Los Angeles. É nesta dinâmica explosão de sons e cores que são envolvidos também os dois protagonistas, Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling), dois personagens já definidos pelos carros nos quais estão sentados: Mia é uma moça prática, sem muitas ilusões, e dirige um comum sedan japonês que parece um táxi. Em compensação, Sebastian insiste tocando a buzina de um opulento conversível estilo anos 70, enquanto obsessivamente manda para frente e para trás uma fita-cassete para escutar sempre de novo um trecho de música jazz.
O primeiro encontro entre os dois possui as clássicas conotações do comportamento odioso de quem, estando ao volante, manda o outro para o inferno. Ambos lutam e sonham, para encontrar um lugar no firmamento do sucesso. Mia (e em um filme tão auto-referencial como poderia ser de outra forma?) tem uma parede inteira de seu quarto coberta por um pôster grande de Ingrid Bergman, e o apartamento que divide com outras moças, aspirantes a atrizes, é todo um reportar-se iconográfico aos grandes sucessos do cinema. Referências e lugares que continuarão durante todo o filme, desde o local onde Mia trabalha como garçonete (uma cafeteria nos Studios), até o cinema onde apresentam Juventude transviada, até o observatório astronômico nas colinas de Los Angeles, cenário garantido para dezenas de grandes títulos.
A história de amor entre os dois continua assim, em um incessante fluxo de reminiscências musicais e coreográficas, que não se pode deixar de comparar (com as devidas diferenças) às grandes atuações vistas em filmes como Cantando na chuva. Gosling e a Stone não têm a técnica de Fred Astaire e Ginger Rogers, mas harmonização e delicadeza não faltam, e o resultado é terno e envolvente, especialmente nos momentos mais românticos, cujo destaque é dado pelas noites estreladas e pelos passos de dança que começam no chão e acabam pairando no ar. Assim, Mia passa de um teste para outro com esperanças e desilusões que correm umas após as outras, enquanto Sebastian, que é despedido na noite de Natal por não ter respeitado o programa, é contratado pelo velho amigo Keith (o músico John Legend). E, mesmo com um repertório que certo não é seu, se encaminha para um sucesso feito de noites, turnês e discos para gravar. E a saudade dos tempos mais simples e mais claros se reflete em atuações que remetem aos anos 50 de Cantando na chuva e às fantasias de Um americano em Paris.
São tempos difíceis para Mia e Sebastian, talvez até mais do que os da transição do mudo ao sonoro do cinema, e o plano de fundo melancólico de La La Land não evita mostrar-se a quem olha. Gene Kelly e Debbie Reynolds agora estão definitivamente distantes, mas as vozes de Mia e Sebastian e de sua terna história de amor fazem com que os sintamos ainda uma vez próximos.

(Contribuição do site Il sentiere del cinema)