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Passos N.190, Abril 2017

DESTAQUE | UNIVERSITÁRIOS

Estou vivo na universidade

por Isabella S. Alberto
















No Brasil a presença cristã também se faz presente entre as carteiras das universidades. E isso faz a diferença na vida. Jovens de CL contam o que acontece quando se “encontra” uma proposta

Em todo o mundo é igual: os jovens universitários, que estão na casa de seus 20 anos, encontram-se todos diante da mesma questão: a busca pela felicidade. E vivem uma inquietação para descobrir se existe algo – ou alguém – que responda a essa espera. Esse tema foi colocado em foco por padre Julián Carrón nos Exercícios Espirituais realizados no início de dezembro na Itália, e também nas férias nacionais realizadas no Rio de Janeiro (ver Passos março) no início deste ano. Um caminho que continua agora com o retorno às aulas e o reencontro com colegas e professores. Para falar sobre suas descobertas, três estudantes conversaram conosco. Flavia, de 21 anos, cursa Engenharia Química em Belo Horizonte; Gabriele, de 22 anos, é estudante de Economia no Rio de Janeiro; e Ricardo, de 23, estuda Medicina em São Paulo.

Recentemente vocês participaram de um encontro nacional, guiado por Marco Montrasi (Bracco), responsável de CL no Brasil. O que mais chamou a atenção de vocês naquela convivência?
Gabriele:
Falamos sobre a sinceridade de coração. Se olharmos a nossa experiência, vemos que a misericórdia salva as coisas. É maior do que o erro, assim como vimos na Apac, pois visitamos juntos a unidade de Nova Lima. Fiquei muito impressionada por perceber que é sempre o recuperando diante da liberdade dele. As celas estão abertas durante o dia. Por que eles não saem de lá? E enquanto você conversa com eles você se esquece que está numa prisão. Cada coisa é pensada para recuperar aquelas pessoas, e de fato se aposta o tempo todo na liberdade, baseando tudo no amor, confiança e disciplina. Isso é algo muito verdadeiro.
Ricardo: Quando o Bracco começou o jantar conosco ele disse: “Não é para inventar perguntas, é para colocar as urgências que vocês têm”. Uma conversa iniciada assim já fez toda a diferença. E as pessoas começaram a colocar o que elas tinham de mais importante naquele momento. Coisas doloridas também, até questões últimas sobre a morte. E falávamos do presente, do que aconteceu com a gente e como podemos enfrentar até a morte. Falávamos da questão da gratuidade absoluta, que nós nascemos para essa gratuidade absoluta. São coisas que fazem o meu coração vibrar. E desejo seguir cada vez mais, até o fundo, a história que me aconteceu.

Podem contar um pouco como estão vivendo a experiência de participar do CLU (grupo de CL universitários) nas suas cidades?
Gabriele:
A coisa mais bonita entre nós é a experiência de amizade que estamos vivendo no grupo do Rio. Mesmo sendo poucos é uma ajuda muito concreta para a minha vida. De fato nasceu pela pertença ao Movimento, a Igreja e ao cristianismo, único que pode gerar esta familiaridade entre a gente. A gente se encontra nas universidades para a Escola de Comunidade e uma vez por mês para uma assembleia geral. Temos nos envolvido nas propostas. Começamos a Caritativa com as Irmãs da congregação de Madre Teresa dee oferecem refeição aos moradores de rua, e vamos lá ajudá-las lavando a louça, distribuindo a comida. É uma ocasião de reconhecer juntos a Presença de Cristo. Também procuramos ser fieis ao Fundo Comum e à Escola de Comunidade.
Flavia: Em Belo Horizonte também somos poucos, e algo bonito que aconteceu foi a retomada da caritativa no ano passado. Uma vez por mês ajudamos num dia de convivência com os ex-alunos do CEDUC. A gente cozinha para eles, canta, joga juntos. Eles percebem que tem alguma coisa ali, mas não sabem explicar. E um fato que me marcou é que um menino andou horas para chegar lá porque não tinha o dinheiro da passagem. Mas falou: “Eu precisava vir encontrar vocês”.
Ricardo: Participo de um grupo com outros estudantes de medicina. Fazíamos os encontros no Instituto da Criança, mas indo à Itália em dezembro, para os Exercícios com padre Carrón, eu e o Thiago tivemos ocasião de conhecer grupos de universitários lá e ficamos marcados por como eles estão inseridos dentro do ambiente. Voltamos com o desejo de entrar na faculdade mesmo. São dois anos que nos encontramos, mas ninguém sabia da nossa existência. Até fizemos gestos públicos, mas o alcance foi pequeno. Fomos, então, nos apresentar ao Centro Acadêmico dizendo que a gente existia. Esse era o nosso objetivo. Eles ficaram contentes e nos cederam um espaço para fazer a Escola de Comunidade sinalizando que é um encontro de CL. Agora estamos planejando um encontro público em breve. Em São Paulo temos mais dois grupos em outras universidades e fazemos juntos a Caritativa e temos uma assembleia mensal. Outra coisa marcante que aconteceu no CLU nacional foi a criação dos visitors. Somos quatro estudantes que visitam outras cidades e isso nos uniu muito também e nos permite ver a beleza que acontece nos outros lugares.

Como está sendo para vocês a retomada das aulas após tudo o que viram durante as férias e o início do ano?
Gabriele:
Voltei com grande desejo de reencontrar os meus amigos da faculdade. E quando cheguei contei logo sobre a visita na Apac. E muitos deles têm uma vida dramática e um deles me disse: “Amo você porque você é uma pessoa rara”. E olhando pra eles pensei que o meu lugar era ali com eles, mesmo sem ter as respostas para os problemas deles, e eles me obrigam a olhar para a minha experiência. E voltei com maior desejo de amar e respeitar a liberdade dos outros, sobretudo os mais próximos. É só numa experiência de amor gratuito e de paciência infinita que eu posso olhar assim para o outro. Esse agora é o meu desejo. Todos os acontecimentos que vivi neste tempo me levaram a aceitar este desafio que me é proposto.
Ricardo: Eu tenho já um desejo de encontrar os colegas de faculdade. Costumo ficar atento aos colegas e consigo identificar os sinais de quem quer viver uma humanidade. Às vezes é uma tristeza, como aconteceu com uma pessoa, e eu perguntei por que ele estava triste e se tornou um grande amigo. Também desejo que aquilo que eu encontrei no Movimento eu possa encontrar no estudo, que eu possa viver Cristo no estudo. Isso é bem desafiador. Também com os amigos do Movimento que estudam comigo, não precisamos ficar todos juntos nos trabalhos da faculdade, porque aqui a gente aprendeu algo que onde quer que a gente esteja vamos poder comunicar. Então, nos perguntamos: o que será mais útil? Estamos livres.
Flavia: A vida tem uma unidade, então é a mesma coisa que eu vivo no Movimento e na faculdade. Eles só me acham doida por ir acampar no mato, sem celular nem internet. E no relacionamento com eles se confirma a experiência que eu faço.