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Passos N.190, Abril 2017

BELO HORIZONTE | FESTA ROSETTA

Uma história compartilhada com o povo

por Monica Baeta - fotos de Kika Antunes

Centenas de pessoas reunidas para agradecer Rosetta Brambilla, em missão desde 1967 no país. Os jovens da sua obra, as surpresas, o samba. E a fidelidade a uma história: “Tem um mundo atrás dela”

No dia 4 de março aconteceu, em Belo Horizonte, uma festa para celebrar os 50 anos de vida no Brasil da querida Rosetta Brambilla, que chegou nestas terras como missionária a pedido de Dom Giussani, quando ainda era jovem recém-formada. Quem estava lá testemunhou um grande acontecimento e maravilhou-se sobretudo com o povo que estava presente.
Rosetta vive em um dos bairros da periferia na zona norte de Belo Horizonte – 1º de Maio – e, ao longo de sua vida, construiu o complexo chamado “Obras Educativas Padre Giussani” que atualmente atende a 1.200 crianças e adolescentes de 0 a 18 anos e suas respectivas famílias. São 4 Creches Comunitárias e 4 Reforços Escolares nos bairros Jardim Felicidade, 1º de Maio, Novo Tupi e Providência. Além disso, no Bairro Felicidade há uma Casa de Acolhida – Casa Novella – para crianças de 0 a 6 anos encaminhadas pelo Juizado de Menores por estarem em situação de risco, o Projeto Jovem Aprendiz em parceria com Empresas de Belo Horizonte e o Centro Esportivo Virgílio Resi. Desde o início teve a companhia do amigo Pigi Bernareggi, sacerdote italiano que mora e trabalha no bairro 1º de Maio.
Rosa (como também é chamada pelos amigos) encontrou a experiência do Movimento Comunhão e Libertação na Itália nos anos 60 e alguns anos depois chegou ao Brasil. Disse em seu agradecimento: “50 anos de Brasil e 56 anos de Ação de Graças pelo encontro feito com Dom Giussani e por ter sido escolhida e preferida por Deus. Não existe o tempo cronológico, existe o Sim no instante e a busca contínua do Rosto de Cristo. Deus usou e usa esta humilde serva para tornar visível o invisível. Agradeço ao Senhor, a minha família, a Companhia Vocacional , a todas as pessoas que trabalham e constroem a Obra Educativa Padre Giussani, aos amigos presentes e não presentes, e aos que estão longe por terem me sustentado neste anos de caminhada”.
Impressionava ver na festa a presença de tantas pessoas – uma quadra de esportes lotada de pessoas de todas as idades, cores e condições sociais, italianos, brasileiros. O Embaixador Italiano no Brasil Antonio Bernardini fez questão de comparecer e cumprimentar Rosetta em nome do povo italiano: “O Brasil e a Itália têm uma história de grande cooperação e nos orgulhamos especialmente deste trabalho da Rosetta”.

Um chamado. Na missa de Ação de Graças celebrada por Padre Giovanni Vecchio ficou evidente de onde tudo começou: “Na nossa vida, seja hoje como na época de Jesus, tudo tem início em um encontro”, disse Giovanni. “Você, Rosetta, sabe bem como aconteceu o encontro que marcou a sua vida, qual foi a ‘troca de olhares’ que te revelou a vocação e te ofereceu um caminho seguro à sua história”, completou.
Rosetta escutou com emoção a carta de padre Carrón, responsável do Movimento Comunhão e Libertação em todo o mundo, que disse, entre outras coisas: “Os seus primeiros cinquenta anos no Brasil me levam a pensar numa frase de Dom Giussani que estamos repetindo frequentemente entre nós nestes tempos: uma ‘história particular (…) é o elemento central da concepção cristã do homem, de sua moralidade, em seu relacionamento com Deus, com a vida, com o mundo’ (Generare tracce nella storia del mondo, p. 82). Você teria podido imaginar que um encontro de 1961, em Milão, com um jovem de Belo Horizonte haveria de marcar o início de uma aventura que a certa altura interceptou também você, revolvendo-lhe a vida até levá-la a Belo Horizonte? Dom Giussani nunca mais esqueceu aquele encontro, e de fato permaneceu fiel àquele início imprevisto, como disse na década de ‘90: ‘Eu sempre fui a São Paulo tranquilo, porque na existência de nosso movimento houvera um sinal, um certo encontro que fixou nosso olhar sobre o Brasil. Então seguimos com teimosia, ou seja, com fidelidade, este acontecimento’. Por quê? Porque para ele era o sinal de que ‘quem pode edificar no mundo a Igreja de Cristo é o Espírito de Deus, é o Espírito de Cristo! Os modos com os quais Ele obtém a sua finalidade não se podem prever’ (Vita de don Giussani, pp. 846-847)”.

Protegidos por sua bondade. O responsável do Movimento no Brasil – Marco Montrasi – estava presente e, agradecendo à Rosetta, disse: “Pensando na Rosa, me veio logo na cabeça que quando o Papa Bento XVI fez 65 anos de sacerdócio, num encontro diante de Papa Francisco, ele falou: ‘Na sua bondade eu me sinto protegido’. Então, pra mim, desde que cheguei e conheci a Rosa, cada vez que a encontro eu percebo isso: uma bondade na qual me sinto protegido. E nós precisamos encontrar quem tem este olhar sobre nós assim, que nos protege, algo que vem de dentro que é um olhar que faz despertar e te torna mais certo, mais tranquilo, dentro de todas as bagunças da vida. E a segunda coisa que me marca é que a Rosa não é a Rosa. Tem o mundo atrás da Rosa. É um olhar que te leva sempre para um Outro. E as pessoas mais fascinantes entre nós não são aquelas especiais ou geniais por si mesmas, mas são aquelas que levam sempre para um outro lugar, para um Outro, que te deixa quase um mistério que você quer conhecer”.
Foi também lindíssima a coletânea de textos e poesias preparados e declamados pelos jovens das obras, onde se evidenciou o desejo de felicidade e realização de cada homem e o coração grande que compartilha este desejo através da tentativa de resposta às necessidades mais concretas de cada dia como é aquela de ajudar a cuidar e educar o filho e acompanhar as famílias em sua luta diária.
E, é claro, não poderia deixar de faltar um bom samba e uma mesa farta de bebida e de comida típica mineira. As famílias e crianças prepararam um desfile de Escola de Samba com música feita especificamente para a ocasião em formato de paródia com fatos da vida da Rosa. Todos entraram na “quadra do samba” bem animados. Depois disso, o Grupo de Samba de Raiz “Ronaldo Coisa Nossa”, grandes amigos da Rosetta, embalou a festa com alegria contagiante.
A coisa mais impressionante nesta celebração da vida eram os olhares admirados, agradecidos, às vezes lacrimejantes e, sem dúvida tocados pela grande história da Presença de Cristo no meio dos homens, pessoas concretas que podem tocar e ver hoje a grande misericórdia e bondade d’Ele neste período tão conturbado.
Obrigada Rosetta pelo seu sim e sua fidelidade! E sejam outros tantos e muitos anos entre nós!