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Passos N.191, Maio 2017

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Em foco

Tempo de reformas

No Brasil, é tempo de reformas. Quando olhamos em torno, nada parece ter as condições mínimas de continuar como está. Parece ser preciso reformar a previdência, as leis trabalhistas, a educação, a segurança, o sistema político, os partidos, a moral dos homens públicos... Contudo, em um desencontro que oscila entre o trágico e o patético, os governantes parecem querer reformar algumas coisas, enquanto o povo quer reformar outras! Como podemos discernir o certo do errado, o justo do injusto, a necessidade da imposição?

Tempos de reformas nos pedem realismo e abertura. As ideologias, venham de um lado ou de outro, nos impedem de olhar a realidade tal como ela é, de compreendermos o que é realmente necessário, quem são os possíveis companheiros de caminhada rumo ao bem comum, que condições permitirão superar as adversidades do momento. Elas também impedem nosso diálogo, que – para ser verdadeiro e útil – sempre implica na abertura para o outro, interesse e solidariedade para com seus dramas e suas condições.

É um tempo em que quatro critérios enunciados pelo Papa Francisco na Evangelii Gaudium (Nº 221ss) podem ser particularmente úteis: (1) “o tempo é superior ao espaço”, a conjuntura do momento deve ser vista numa perspectiva temporal mais ampla; (2) “a unidade prevalece sobre o conflito”, conhecemos os jogos de interesse e os conflitos que permeiam a vida social e política, mas temos que buscar decidir juntos em função do bem comum; (3) “a realidade é mais importante do que a ideia”, o realismo deve superar as ideologias; (4) “o todo é superior à parte”, precisamos superar nossos interesses particulares para construir esse bem comum. São critérios bastante precisos, que muito podem nos ajudar no diálogo social.

Mas esses critérios parecem não bastar. Diante da impotência e da indignação de quem está longe do poder e vê homens públicos que aparentam total descaso para com os dramas da população, diante da insegurança e do desânimo de quem mais sofre com as consequências da crise econômica, precisamos de mais do que isso. E novamente a sabedoria da Igreja e a experiência cristã vem em nosso socorro, nos propondo a liberdade de quem deposita sua esperança na companhia que o próprio Deus feito homem oferece a nossa vida.

A Igreja não dá a solução dos problemas, mas no ajuda a nos colocar naquela “atitude verdadeira” que torna possível enfrentá-los, como dizia Dom Giussani. Essa consciência da dependência de Deus nos torna homens inteiros na realidade, sem nos distanciar das coisas,mas com uma criatividade e energia que não nascem de nós.