Na capital baiana um encontro fala de "A beleza desarmada", livro de Pe. Julián Carrón. Na mesa, os convidados se surpreendem com a proposta de um trabalho educativo com os jovens. Uma ajuda aos desafios do presente
“Sessão Especial homenageia o Movimento Comunhão e Libertação”. Assim estava a chamada no site da Arquidiocese de São Salvador em meados do mês de abril. A Sessão Especial aconteceu no Plenário Cosme de Farias, na Câmara Municipal de Salvador, um imponente marco da arquitetura colonial de Salvador, em 27 de abril. Chegamos ao local, no início da noite, quando o Centro Histórico da cidade começava a receber turistas para as noites agitadas do Pelourinho.
A Sessão Solene foi uma iniciativa de Joceval Rodrigues, Vereador de Salvador em seu quarto mandato e membro da Renovação Carismática. Conheceu Comunhão e Libertação numa visita a casa de Otoney Alcântara (responsável da comunidade de CL em Salvador) a convite de amigos comuns. Joceval assume a palavra inicial num ato solene na Câmara, diante de cerca de 200 pessoas e conta com muita tranquilidade como a amizade vivida com aqueles de Comunhão e Libertação o ajudou a viver com mais humanidade a política. Ele relatou que foi necessário que aquela Sessão Solene fosse aceita pela maioria dos vereadores numa sessão de votação que por unanimidade aprovou a iniciativa.
Para os que estavam ali era comovente ver um amigo se arriscar publicamente a dizer o quanto o Movimento o ajudou na vida. Todos que estávamos ali podíamos também levantar e dizer o quanto encontrar esta companhia fez com que nossas vidas dessem uma grande reviravolta e se enchesse de sentido. Particularmente em mim nasceu uma grande gratidão por aquele momento, porque também eu poderia me levantar e dizer o quanto o carisma de Dom Giussani me educou e continua me educando, me sustenta diante da vida com suas alegrias e dificuldades.
Otoney também estava presente na Sessão e fez uma breve colocação falando do mal estar que nos atinge na sociedade atual. Também falou do homem como desejo de felicidade, e da necessária experiência de certeza na vida, pois quando se vive assim, se desperta o uso da razão, que diz respeito também à fé.
O evento na Câmara Municipal tornou-se ocasião para o lançamento do livro A beleza desarmada, de Pe. Julián Carrón, apresentado por Marco Montrasi, responsável nacional de Comunhão e Libertação, que foi a Salvador exclusivamente para aquele gesto. Ele começou dizendo que ler o livro é como encontrar com uma pessoa que abre novos horizontes diante do momento dramático que estamos vivendo.
Como o encontro também tinha a provocação da educação, Marco nos relata que Pe. Carrón, olhando para Dom Giussani, retoma o conceito de educação como introdução à realidade total, não no sentido de conhecer todas as particularidades do mundo, mas no sentido de introduzir ao significado da realidade: “Qualquer pedaço de realidade que eu encontre, eu preciso encontrar um significado”. Por isso, “educar é como abrir uma ferida, é escancarar o tamanho do coração, não é introduzir conceitos, mas sim aumentar a capacidade de conter algo. Quando alguém faz assim comigo, quando me introduz a algo assim, é como um copo que aumenta de tamanho, pode conter mais, por isso é dramático, por isso é uma ferida. [...] Uma outra coisa muito bonita sobre educação é: alguém que ensina a aprender. O escopo daquilo que estamos falando não é educação em si, mas é que a educação é como alguém que te ensina um caminho quando você está perdido”.
Valor da educação. Sobre os jovens, Marco se diz fascinado pelo modo como Pe. Carrón confia na capacidade que os jovens têm de julgar: “Eles têm dentro algo que podem e sabem usar, e quando um jovem é olhado assim, e se desperta algo dentro, se torna mais livre”.
Enfim, ficou claro que a Beleza Desarmada é como encontrar alguém que te faz encontrar o teu “eu”, a tua humanidade, o teu coração. “Tudo tem a origem no ‘eu’. E quando o ‘eu’ se corrompe, quando essa consciência se corrompe, se corrompe tudo. Não é um problema dos políticos, é um problema nosso, e nós temos que ajudar todo mundo a recuperar isso. Por isso a educação é um encontro como esse”, afirmou Marco. “Mas sem medo, parece um trabalho de formiguinha, parece um grão de areia em um deserto, mas é esse trabalho que precisamos fazer. Não são os outros, mas todos nós: é recuperar esse sentido do ‘eu’, porque quando nasce o ‘eu’, eu volto a dar valor às coisas, eu volto a dar valor ao dinheiro, eu volto a dar valor à coisa pública, volto a dar valor à pessoa. O valor em si não nasce por acaso, mas nasce quando alguém é despertado na consciência do próprio ‘eu’, é isso aquilo que mais falta hoje, e eu acho que é como a tarefa que um homem de boa-vontade tem que fazer”.
Eu que trabalho com jovens, na Universidade Católica do Salvador, pedi ajuda para entender como olhar para os desejos deles, desordenados, confusos, intensos. Eles buscam respostas rápidas nas inúmeras dificuldades nos estudos, nos relacionamentos, com a família, sinto que eles precisam encontrar algo que possa juntar todas essas coisas. A resposta é sempre uma apatia, ou revolta, ou pior ainda, o cinismo. Como ajudá-los a levar a sério esses desejos, a não reduzi-los, a abrir a ferida?
Marco respondeu a minha pergunta lembrando que no livro, Pe. Carrón cita um texto do poeta Tagore, que “expressa todo o amor que um pai ou um adulto deve ter para aqueles a quem deseja o crescimento. Quando há esse amor, o jovem logo o reconhece porque vê alguém que lhe dá o espaço para crescer”. E fala assim a poesia: “Neste mundo aqueles que me amam procuram por todos os meios me manter preso a eles. O teu amor é maior que o deles e, ainda assim, me deixas livre”. E Pe. Carrón retoma: “O amor liberta e dá espaço para a liberdade do outro para que possa crescer, esse é o desafio que os jovens nos lançam e que nós, adultos, temos que entender e aceitar”.
E, no livro, ele continua reforçando que devemos amar esses desejos que eles (os jovens) têm. “É amar mais os desejos que eles têm e a capacidade que eles têm, porque talvez esteja escondida, talvez passem períodos em que parece que não têm, mas dentro é como aqueles vulcões que parecem estar inativos, todo mundo tem. É amar isso”. Mas é um desafio. “Porque é algo que tem que acontecer antes em mim, não neles. Talvez é o meu desejo que está morto, talvez sou eu que estou mais preocupado com ele, mas a minha vida já perdeu um pouco de atrativo. Enquanto que aquilo que mais move um jovem é um atrativo, é uma atração, é ver alguém que não se escandaliza, que te abre sempre uma porta”.
Por fim, falou a Secretária de Desenvolvimento Social e Cidadania da Prefeitura de Camaçari, Simara Ellery. Com um intenso brilho no olhar, se comoveu ao falar da alegria de estar ali (havia sido convidada para substituir outra pessoa) e agradeceu pelo momento que estava vivendo: “Que presente! Eu bebi destas palavras que ouvi. Foram, para mim, extraordinárias. Confesso que eu não conhecia o Movimento Comunhão e Libertação, mas eu estou me sentindo aqui em comunhão. Eu estou me sentindo aqui em busca da liberdade, eu estou pensando nos meus filhos, estou pensando nos filhos de outros; fiquei pensando que caminho que eu vou dar para tantos jovens em Camaçari que estão sem rumo: eu tenho que estar em comunhão com vocês. Eu renasci e estou me sentindo muito feliz, me ajude a libertar os nossos jovens”.
O vereador Joceval Rodrigues encerra a Sessão dizendo que foi uma das mais simples, mais belas e mais ricas Sessões especiais das quais presidiu na Casa Legislativa.
Enfim, para mim, mais um encontro aconteceu. Quando saímos do Plenário participamos de uma pequena confraternização organizada pelos amigos, e eu tinha o gosto de vida nova, um coração ressuscitado, parecia adormecido e foi reavivado diante de uma Presença Presente! Parece que o meu coração (meu eu) precisa sempre desses momentos.