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Passos N.197, Novembro 2017

MAGISTÉRIO

Mergulhar no mistério de Cristo

por Papa Francisco

Homilia do Papa Francisco na manhã de terça-feira 24/10, na capela da Casa Santa Marta.

A homilia do Pontífice teve como ponto de partida a Primeira Leitura extraída da Carta aos Romanos, na qual São Paulo usa contraposições – pecado, desobediência, graça e perdão – para que possamos compreender algo, mas sente que é “impotente” para explicar este mistério. Por detrás disso tudo, está a história da salvação, da criação, da queda e da redenção. São Paulo, portanto, nos leva a ver Cristo, e não tendo palavras suficientes para explicá- Lo, “nos impulsiona”, “nos empurra, para que caiamos no mistério” de Cristo, explica Francisco.
Essas contraposições, portanto, são somente passos no caminho para imergir- se no mistério de Cristo, que não é fácil de entender: é tão “superabundante”, “generoso”, “inexplicável”, que não se pode entender com argumentações, porque estas levam até certo ponto. Para entender “quem é Jesus Cristo para você”, “para mim”, “para nós”, o Papa.
Em outro trecho, São Paulo, olhando Jesus Cristo diz: “Amou-se e deu a si mesmo por mim”. Dificilmente se encontra alguém disposto a morrer por uma pessoa justa, mas somente Jesus Cristo quer dar a vida “por um pecador como eu”. Com essas palavras, São Paulo tenta nos introduzir no mistério de Cristo. Não é fácil, “é uma graça”. Isso foi compreendido não somente pelos santos canonizados, mas também por muitos santos “escondidos na vida cotidiana”, pessoas humildes que depositam unicamente a sua esperança no Senhor: entraram no mistério de Jesus Cristo crucificado, “que é uma loucura”, afirma Paulo.

Trata-se, contudo, continuou o Pontífice, de um caminho difícil, porque “nós não estamos acostumados a entrar no mistério. Quando vamos à missa, sim, rezamos é verdade; sabemos que Jesus vem; inclusive, sabemos que ele está na palavra de Deus, que ele vem na comunidade”. Mas “isto não é suficiente”. De fato “entrar no mistério de Jesus Cristo é mais, é deixar-se ir naquele abismo de misericórdia onde não existem palavras: somente o abraço do amor. O amor que o levou à morte por nós. Quando nós vamos nos confessar porque pecamos – sim, devo tirar os pecados, digamos; ou “que Deus me perdoe os pecados” – vamos, contamos os pecados ao confessor e ficamos tranquilos e contentes. Se fazemos assim não entramos no Mistério de Jesus Cristo. Se eu vou lá, vou encontrar Jesus Cristo, entrar no mistério de Jesus Cristo, entrar naquele abraço de perdão do qual fala Paulo; daquela gratuidade de perdão”.
À pergunta sobre “quem é Jesus Cristo para ti”, se poderia responder “o Filho de Deus”, se poderia recitar todo o Credo, todo o Catecismo e é verdade, mas se chegaria a um ponto em que não conseguiríamos dizer o centro do mistério de Jesus Cristo, que “me amou” e “entregou-se a si mesmo por mim”. “Entender o mistério de Jesus Cristo não é uma coisa de estudo” – observa o Papa – porque “Jesus Cristo é entendido somente por pura graça”.

Uma ajuda, disse Francisco, pode chegar da “piedade cristã”, em particular do exercício da via-sacra: “É caminhar com Jesus no momento em que ele nos dá o abraço de perdão e de paz”. E é “bonito percorrer a via-sacra”, talvez, “em casa, pensando nos momentos da paixão do Senhor”. De resto, “também os grandes santos aconselhavam a começar sempre a vida espiritual com este encontro com o mistério de Jesus Crucificado”. E “Santa Teresa recomendava às suas monjas: para chegar à oração de contemplação, à oração elevada que ela praticava, começava com a meditação da paixão do Senhor”. Diante de Cristo na cruz, sugeriu o Pontífice, é preciso “começar e pensar. E assim, procurar compreender com o coração que me amou e se entregou a si mesmo por mim”. Que é precisamente o que Paulo nos quer explicar neste texto tão difícil, cheio de contradições: deseja levar-nos ao abismo do mistério de Jesus Cristo”. Porque cada um poderia dizer: “Sou um bom cristão, vou à missa aos domingos, pratico obras de misericórdia, recito as orações, educo bem os meus filhos”, e isto “está muito bem”. Mas é preciso ir além: “Tu fazes tudo isto: mas entraste no mistério de Jesus Cristo?”, isto é “aquele que não podes controlar”? Eis então que o Papa aconselha a rezar a São Paulo – uma “verdadeira testemunha que encontrou Jesus Cristo e se deixou encontrar por ele e entrou no mistério de Jesus Cristo” – a fim de que “nos conceda a graça de entrar no mistério de Jesus Cristo que nos amou, se entregou à morte por nós, que nos justificou diante de Deus, que perdoou todos os pecados, até as raízes do pecado: entrar no mistério do Senhor”. E, concluiu, “sempre que olharmos para Cristo crucificado, pensemos que este é um ícone do maior mistério da criação, de tudo: Cristo crucificado, centro da história, centro da minha vida”.