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Passos N.202, Maio 2018

ATUALIDADE

O Projeto da AVSI: Hospitais abertos (e gratuitos)

por Giorgio Paolucci

Onze milhões de sírios sem cuidados pela carência crônica de recursos humanos e materiais. Assim, a ONG aceitou a proposta do Cardeal Zenari

O Alto Comissário da ONU para os refugiados a considera “a maior crise humanitária da nossa era”. E o colapso do sistema sanitário é uma das consequências mais dolorosas de uma guerra cujo custo humano cai especialmente sobre a população civil: 11 milhões e meio de sírios, 40 por cento dos quais são crianças, não recebem cuidados médicos adequados. Em Aleppo, as pessoas que não têm acesso aos hospitais são mais de 2 milhões, em Damasco mais de um milhão.

AVSI é uma das 16 organizações internacionais presentes na Síria e atua em diversas frentes para dar apoio à população: na capital com atividades voltadas para mulheres e crianças, em Aleppo dando suporte ao trabalho da Custódia da Terra Santa. Em 2016, acolhendo uma proposta do cardeal Mauro Zenari que, há dez anos, é núncio apostólico na Síria, AVSI lançou a campanha “Hospitais abertos” para permitir o acesso aos cuidados médicos gratuitos também aos mais pobres, por meio da consolidação de três hospitais filantrópicos: dois na capital e um em Aleppo. O objetivo é tratar ao menos 40 mil pessoas em três anos.
“As pessoas morrem mais por falta de cuidados médicos do que debaixo das bombas”, observou o cardeal Zenari. As infraestruturas sanitárias estão em condições dramáticas, também por causa das dificuldades de acesso ao fornecimento de energia elétrica, combustível e água potável, e devem levar em conta a carência crônica de recursos humanos e materiais. Estima-se que 58% dos hospitais públicos e 49% dos centros de saúde públicos estão fechados ou funcionando só parcialmente e que mais de 658 pessoas que trabalhavam nestas estruturas foram mortas. Por causa da imigração em massa que envolveu a população síria, o número de especialistas restante nos hospitais é insuficiente para lidar com a demanda de cuidados. De acordo com algumas avaliações, estão ainda ativos apenas 45% dos profissionais de saúde que trabalhavam no país antes do início da crise. A falta de parteiras, por exemplo, é uma faceta dramática desta emergência: cerca de 300.000 mulheres grávidas não têm condição de receber cuidados adequados.

As sanções que foram impostas, há anos, à Síria só fazem agravar a situação. As limitações não envolveriam formalmente as ajudas humanitárias, mas, de fato, o embargo complica a importação de medicamentos e de peças de reposição para os equipamentos de uso médico-hospitalar. Em vista do duplo uso (uso sanitário e militar) que poderiam ter, são bloqueados.
O projeto “Hospitais abertos”, patrocinado pela Congregação Vaticana para o serviço do desenvolvimento humano integral, é financiado por diversas instituições, entre outras, a Conferência dos Bispos da Itália (CEI), a Papal Foundation e a Fundação Policlínica Universitária Agostino Gemelli. A estes financiamentos se acrescentam as doações de particulares e de empresas italianas e as contribuições recolhidas através da declaração IRPF.
A CEI alocou um milhão de euros, dos quais 400 mil já foram gastos, provenientes dos fundos de doações à Igreja efetuadas via IRPF. Os valores arrecadados foram investidos em novos equipamentos médicos e em cursos de formação sanitária. Paralelamente ao compromisso de solidariedade concreto, a Igreja italiana está empenhada em promover eventos de diálogo: cabe neste âmbito o projeto de uma Conferência pela paz no Mediterrâneo, da qual falou recentemente o cardeal Gualtiero Bassetti, presidente da CEI.