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Passos N.88, Novembro 2007

RUBRICAS

Cartas

pela Redação

Uma companhia verdadeira
Caro padre Carrón, há anos um parente meu tem sérios problemas pessoais e eu sempre estive presente e fiz o que devia por uma série de motivos que posso definir apenas como moralistas. Viver essa realidade apenas na superfície era viver constantemente na mentira e, de fato, tudo era pesado e insuportável, a ponto de não conseguirmos ter nenhum tipo de relacionamento, a não ser aquele que se baseava nos momentos de ajuda. Uma noite de outubro do ano passado, falei com meus amigos do grupo de Escola de Comunidade sobre todo o meu mal estar, a minha raiva e a minha impotência. Sabia que eles não poderiam me tirar meu cansaço, mas eu buscava consolo. E aqui está o belo da questão: embora concordando comigo sobre o peso da situação me chamaram a atenção para não me colocar como medida e para ver neste fato a modalidade concreta com a qual o Mistério se apresentava a mim – olhar este relacionamento não como problema mas como oportunidade de salvação. Estas palavras não me deixaram tranqüila: o rosto de Cristo que me chama e me diz “olhe para mim, estou aqui”. A graça do Espírito e o amor de Maria me tomaram pela mão e me deram o dom de reconhecer o Mistério dentro dessa circunstância: o cêntuplo foi dado em abundância a mim e àquele parente pelo qual corri o risco de sufocar se não tivesse meus amigos por perto. Desde que compreendi o verdadeiro significado da minha dificuldade, o meu estar sempre presente transformou-se em estar próxima a esta pessoa.
Cecilia,
Treviglio – Itália



Dois fatos simples
Caro padre Carrón, quero lhe contar duas breves e simplicíssimas experiências como forma de lhe agradecer pelo trabalho que nestes três anos nos tem ajudado a realizar na Escola de Comunidade. Sem tal trabalho, de fato, o meu olhar, como capacidade de ver dentro da realidade, incluindo a mim mesma, não existiria mais. No máximo, seria como um olho envelhecido, cego pela catarata dos casos fortuitos da vida. São duas coisas muito pequenas pelas quais certamente o mundo não teria nenhum interesse mas, como dizia Dom Gius, são estes os momentos nos quais se faz memória e que, um pouco como os postes de eletricidade, sustentam toda a estrutura. O primeiro episódio, que ainda conservo no coração, aconteceu nos poucos minutos em que ouvimos, no início de uma Escola de Comunidade, a canção brasileira Águas de Março. A beleza daquele dueto me comoveu tanto que não pude deixar de dizer: “Para mim, poderíamos parar por aqui e ir todos para casa”. Aquilo pelo qual nos reunimos, aquilo a que estamos nos educando, a Beleza, a Perfeição, tinha se aproximado de nós de maneira rompente naquela canção. De repente, percebi que tinha se tornado impossível para mim me desligar disso, que me “lembraria para sempre” e que este é um pequeno passo em direção à certeza. O segundo episódio aconteceu quando visitei a paróquia de Civitavecchia onde está exposta a imagem de Nossa Senhora que chorou sangue. Na capela onde é venerada, à sua direita, pode-se ler em uma tabuleta uma citação em que o autor confessa que não sabe o que pedir, nem sabe rezar, mas está ali diante da Beleza para admirá-la, para pousar o olhar sobre ela. Eu também sou uma pobre coitada, não consigo articular nem uma oração mas ainda tenho a capacidade de olhar. E é exatamente essa a única coisa que ainda me torna capaz de “olhar o meu eu de modo apaixonado e terno”.
Silvia


Frutos no interior
Dia 22 de setembro, um sábado ensolarado, muito calorento e, sobretudo cheio de poeira, nos encontramos num sítio perto da cidade de Ribeirão Preto, junto com nossos amigos Roberto e Alessandra da comunidade de Araraquara, para um dia de convivência e uma assembléia de Escola de Comunidade entre todos os nossos pequenos grupos que se reúnem semanalmente na cidade. Em condições tão “indecentes” como estas em que o calor e a falta de chuva nos levariam a buscar refresco numa piscina ou na sombra de nossas casas, o que leva cada um de nós a buscar por uma “estranha companhia”, a estarmos juntos? O que torna este gesto razoável? Sérgio nos fez esse questionamento ao concluir o momento da assembléia e, retomando uma frase de Giussani, respondia: “o desejo de viver certos de algumas grandes coisas”. Procuramos esta experiência de certeza, porque desejamos milagres em nossa vida e os que já estão acontecendo nos fazem desejar que aconteçam cada vez mais e mais. O milagre de viver sendo plenamente humanos é o que nos enche de gratidão pelo Dom do Espírito que se realiza neste lugar que é a Igreja, o Movimento, onde podemos reconhecer a continuidade entre o nosso caminho e o dos primeiros que seguiam a Jesus. Os testemunhos que foram oferecidos durante a assembléia documentaram os sinais desta continuidade: a experiência de disponibilidade de Ana Maria em deixar sua cidade para vir em missão a Ribeirão; uma presença nova experimentada por Carmen no trabalho e especialmente nas relações educativas; a superação da solidão vivenciada por Alessandra e Roberto numa experiência de amizade real e simples como são as visitas mensais de Cristina em Araraquara. Experiências e gestos simples, mas impensáveis fora do horizonte da Graça.
A vinda de padre Douglas Arão de São Paulo foi um belo e gratuito sinal do abraço do Movimento à nossa pequena companhia interiorana. Assim o rosto de Cristo se mostra em nossas vidas, nos abraça do jeito que
somos, nesta cidade com calor de 40 graus!
Marina,
Ribeirão Preto – SP



O dom do Batismo
Nos últimos meses a minha vida mudou. Passei por um período difícil devido em grande parte à separação dos meus pais, fechei-me em mim mesma e toda a dor que experimentava, não compartilhava com ninguém. Construí uma máscara de falsa felicidade atrás da qual me escondia. Continuei assim por cerca de dois anos, depois, entrei para a Universidade. Aqui, uma colega de curso conseguiu olhar além da minha máscara, viu a minha tristeza e a compartilhou comigo: convidou-me para a Escola de Comunidade. Naquele mesmo dia participei da primeira missa da minha vida. Depois desse primeiro encontro a minha vida tornou-se um crescendo de acontecimentos belíssimos; mudei-me para Bolonha e conheci pessoas incríveis, antes de tudo, minhas companheiras de apartamento. Mudei, o meu modo de viver as coisas mudou; a cada dia me dava conta cada vez mais de que a beleza que via todos os dias não podia ser apenas obra nossa e, sobretudo, não podia acabar cada vez que eu tomava o trem de volta para casa. Com o tempo, entendi que tudo aquilo que vivo não acaba, é algo de infinitamente grande, a minha experiência cristã vive junto comigo, é algo que me acompanha em cada passo e, por meio dos meus amigos e das pessoas que me querem bem, eu posso vivê-la sempre. Comecei a rezar muito pedindo para que a minha pergunta e o meu desejo de viver essa experiência permanecessem sempre vivos, mas ainda não me sentia preparada. Então, tomei uma grande decisão: decidi batizar-me. Decidi tornar-me cristã, fazer um percurso que me fizesse entender cada vez mais aquilo que estou vivendo. Decidi compartilhar essa experiência com minha amiga Benedetta, que foi fundamental para a minha conversão. Ela foi a primeira pessoa cujo modo de viver me fascinou, pela sua sensibilidade e simplicidade me transmitiu um amor que chega muito mais alto, me ajudou a descobrir e aceitar algo que até alguns meses atrás eu não via. Depois de cerca de quatro meses comecei a ver de modo diferente também a situação que vivo em casa. Ninguém poderá tirar a minha dor. No entanto, é certo que nisto não estou e nunca estarei só.
Alice,
Cesena – Itália



Dizer “sim”
Caríssimo padre Julián, na confusão da volta às aulas dos filhos e do trabalho tudo está se tornando um pouco fosco. E, no entanto, desejo que a experiência permaneça viva em minha vida. Experimentei que toda a minha vida depende do meu relacionamento com o Mistério. E só assim posso ser protagonista da minha vida, mesmo quando me submeto ao bisturi (o que aconteceu pelo menos seis vezes nos últimos 3-4 anos) e quando as coisas não vão bem com meus filhos, quando temos problemas em nossa empresa, onde eu e meu marido trabalhamos juntos. E também quando vejo a beleza das montanhas ou estou com meus amigos, ou ainda quando dou graças a Deus porque meus filhos estão crescendo e começam a seguir os amigos que, para eles, foram um verdadeiro encontro. E, do mesmo modo, se jogo Cristo fora da minha vida torno-me imediatamente escrava das circunstâncias, bonitas ou difíceis. A Presença existe, mesmo quando eu não a percebo. Mas quando vivo com os olhos abertos e sinceros, tudo muda. As circunstâncias são as mesmas, mas consigo ver os milagres que estão acontecendo. Tudo isso foi possível por meio da convivência com os meus amigos, com aquela companhia à qual fiquei ligada muitas vezes de modo inconsciente ou desobediente. Não se trata da minha competência, mas da Graça de ter dito sim quando um amigo me disse para eu me confessar quinzenalmente. Primeiro, lhe disse: “Em quinze dias não faço nada de mal, é inútil que eu vá”, mas ele insistiu. A fidelidade à confissão tem me ajudado a experimentar na pele a objetividade do sacramento e o olhar de Cristo por meio do olhar do frade capuchinho que se tornou o meu pai espiritual. Com ele experimentei aquele “antes” que me quer bem e que me gera. Mais: foi uma redescoberta porque precisei reconhecer que já tinha feito esta experiência antes mas, depois, a abandonei, pois sempre recaio na distração. Vejo claramente que sem reconhecer e tomar consciência deste “antes” não sou nada.
Edina,
Budapeste – Hungria



A sabedoria do coração
Enviamos esta carta aos nossos amigos da comunidade de Fidenza, três meses após a morte de nosso filho Jacopo, em um acidente de carro. “Caros amigos, a dor que repentinamente caiu sobre a nossa família tem as dimensões de uma montanha, ou melhor, de um precipício, escuro e assustador: bloqueia o horizonte, embota o coração. É a escuridão da revolta, do ceticismo, do desespero, da razão incapaz de reconhecer um positivo, embora presente e vitorioso em última instância, como nos lembrou padre Carrón. No entanto, dentro de todo esse sofrimento e dessa dificuldade, de modo proporcional à força da dor, mas sempre um pouco maior, tornou-se presente de muitas formas uma ternura inefável e admirável. Antes de mais nada, no rosto e na companhia dos amigos da Fraternidade e dos universitários, que nos deram um afeto incessante e gratuito feito de pequenas e grandes atenções; na oração cotidiana, a grande companheira dos nossos dias; no desejo da familiaridade com Jesus, para nós verdadeiramente questão de vida ou morte; no dom da hospitalidade. Gestos e palavras há tempos um pouco óbvios foram pouco a pouco mudados por esta ferida e por esta ternura. Verdadeiramente um rio de bem começou a correr em volta de nós e nunca nos deixou sós, sustentando-nos e carregando a dor conosco. Sempre que a dor e a tristeza pareciam insuportáveis, Jesus tornou-se presente com consolações maiores. Uma frase de Dom Giussani descreve bem este nosso momento: “A dor é a sabedoria do coração porque nos faz pedir a cada instante”. Então, nós, pobres de tudo neste momento, pedimos e o Senhor respondeu. Pedindo, muitas vezes, simplesmente para poder viver, para chegar ao fim do dia. Tudo isso tornou o nosso apego a Jesus mais firme e a certeza da ressurreição, que é também a esperança de rever Jacopo, sustenta mais que nunca a nossa fé e a nossa família. Reconhecemos na nossa vida um fio sutil que, pela bondade materna de Nossa Senhora, nos leva a Jesus. A dor ainda está aqui, perto e dentro de nós, mas o horizonte da nossa vida não se abre sobre um abismo mas sobre o abraço, infinitamente doce e consolador de Jesus Cristo. E cada acontecimento, mesmo o mais doloroso, é por um propósito. Nós sabemos bem qual é o nosso: tornar presente a glória de Cristo na nossa carne. Nós rezamos e pedimos a todos os amigos que rezem por nós para que essa consciência, segundo a vontade de Deus, torne-se obra
em nós”.
Ernesto, Leila e Leonardo,
Fidenza – Itália



O reencontro
Dom Giussani nos recomendava sempre fazer memória do primeiro encontro com o Movimento, para assim não nos esquecermos de como Cristo se fez e se faz presente em nossas vidas. Eu, porém, quero contar como foi o meu segundo encontro com CL. Já fazia cerca de um ano que eu estava afastada do Movimento: o trabalho e certas desculpas que eu dava a mim mesma me impediam que eu participasse da Escola de Comunidade, das reuniões da Fraternidade, das assembléias, dos retiros... Eu havia perdido o encanto com o Movimento. Aquele carisma que tinha me seduzido oito anos atrás me parecia só um discurso. Salvo raras exceções, eu não via refletido na vida das pessoas aquilo que eu lia nos textos de Dom Gius sobre a importância da companhia. Durante as minhas férias de julho tive a oportunidade de ir para a Itália e resolvi passar pelos lugares onde viveram os meus santos prediletos: fui a Cassino, Subiaco, Assis, Cássia e a San Giovanni Rotondo. Foram quinze dias belíssimos de muita emoção e oração. Três dias antes de voltar ao Brasil fui me despedir de uma prima de meu pai em San Giovanni a Piro (localizada a cerca de 430 km ao sul de Roma) e como ela não estava em casa resolvi entrar na igreja que fica ao lado da sua casa. Ao sair de lá me deparei com uma foto que apesar de tudo sempre teve um significado muito forte para mim: a de Dom Giussani ainda muito jovem acompanhado por um grupo de alunos. Era o convite das férias do Movimento. Eu poderia ter passado indiferente por esse cartaz, mas estranhamente fui invadida por uma euforia imensa ao saber que na cidade onde meu pai havia nascido existia o Movimento. Entrei em contato e no mesmo dia conheci Rino e no dia seguinte sua esposa Anna Maria e seus filhos, o casal Carlo e Gerarda, a Teresa, e Pedro Sarubbi (ator que interpretou Barrabás no filme A Paixão de Cristo de Mel Gibson) que estava de férias naquela região com sua esposa Maria e seus filhos. Todos me acolheram com muito carinho e entusiasmo ao saberem que a filha de um patrício deles que mora do outro lado do Atlântico também era do Movimento. De volta ao Brasil resolvi reatar os laços com CL. E, ao contar esse meu reencontro à priora do meu grupo de Fraternidade, eis que ela me fez a seguinte observação: “Anna, você fez aquele caminho por todos aqueles lugares para, três dias antes da sua viagem de volta, encontrar a resposta para o que você procurava”. De fato, Cristo quis me dizer que aquilo que eu estava procurando em Cassino, Subiaco, Assis, Cássia e San Giovanni Rotondo eu já havia encontrado em São Paulo, pois Ele já havia se manifestado na fragilidade e precariedade das pessoas do Movimento e que era dentro dessa companhia que eu deveria ser educada a compreender e aceitar não só a fragilidade e precariedade do outro ser humano, como também a minha própria.
Anna Maria,
São Paulo – SP


Teatro na prisão
Casa de reclusão de Opera, Milão. Entro e não sei bem o que me espera. Estou ali porque minha amiga Betty pediu-me para fazer um laboratório de teatro com seus alunos presidiários, com idades entre 35 e 65 anos. Até então eu só tinha feito laboratórios com crianças, mas como aprendi que nada acontece por acaso, me “atiro” e vou em frente me colocando inteiramente. Logo encontrei nos olhos dessas pessoas a necessidade mais pura do homem, o de serem olhados com paixão, de serem perdoados e valorizados. Nisso, enquanto criaturas, somos iguais, mesmo se as escolhas de vida não tenham sido as mesmas. Na aula, liam Dante e encontraram no Canto X, a figura de Giotto. Assim, propus a eles um texto teatral que trazia valores como a descoberta e a valorização do talento, a presença de Deus em cada aspecto da realidade que é olhada atentamente e amada. Eu o reescrevi, fazendo adaptações pensando neles, em seu modo de se mover em cena, em sua forma de falar... Juntos, fizemos um verdadeiro laboratório, feito de escuta recíproca, confronto, valorização das características pessoais de cada um, encorajamentos. Superamos juntos o ceticismo e o medo de não conseguir representá-la. Pedi aos meus caros amigos e companheiros de vida, especialistas em teatro, para me ajudarem nessa aventura. Assim, Betta, Laura e Carlo vieram mais de uma vez trabalhar conosco. Tocada pela postura deles, no final do curso, depois do resultado positivo da montagem do espetáculo, representado diante de autoridades carcerárias, escrevi a cada um uma carta pessoal e sincera. Um deles me respondeu: “Quando as coisas parecem cair sobre a sua cabeça e você vê desaparecer tudo aquilo que construiu, você se sente perdido, acabado, pensa em não continuar e se pergunta se na vida pode existir ainda uma possibilidade para demonstrar aquilo que de bom pode construir, de poder fazer algo. Sobretudo se pergunta se alguém vai depositar em você confiança para que demonstre que pode fazer. Acredito que, na vida, não basta se colocar em jogo, mas é preciso que alguém lhe dê a possibilidade de fazê-lo. Você acreditou em nós, você se dedicou com paixão ao projeto que, embora pequeno, foi grande dentro de nós. Você acreditou pessoalmente em mim e me fez fazer algo para o qual me sentia inadequado e incapaz”.
Lorena,
Milão – Itália



Último desejo
Sou médica do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, local onde o poeta, escritor e filósofo Bruno Tolentino esteve em suas últimas semanas, tão frágil e tão forte... Só tive conhecimento de sua internação?nos seus últimos três dias de vida, quando já estava em coma. Não pude trocar ao menos algumas palavras com tão brilhante pessoa. Mas pude observar com admiração o carinho com que foi tratado pelos seus amigos da comunidade católica onde residia. Ele estava em seus últimos dias de vida, mas nutria um grande desejo de morrer em casa. E seus amigos moveram céus e terra para o conduzirem de volta: autorização por escrito de sua irmã no Rio de Janeiro, equipamentos hospitalares para cuidados em domicílio, estrutura domiciliar de isolamento, cuidadoras especializadas, ambulância UTI para transportá-lo. E tudo isto contra todas as orientações médicas. Só queriam fazer sua última vontade. Foi tudo muito bonito, mas não houve tempo hábil. O senhor Bruno se foi antes. Mas deve ter sido um bom amigo. Desejamos que seus amigos fiquem em paz. E eu lamento não ter podido ouvir alguma coisa deste grande pensador. Mas deixou-nos um bom legado: teremos o que ler e o que pensar durante muito tempo. Senhor Bruno, nossas saudades e nosso respeito.
Elisa,
São Paulo – SP



O Meeting de Rímini
Jamais sobre a terra eu vi um lugar assim, onde a realidade e a verdade coincidem, onde a realidade é transparente em todo seu significado. A razão é concretamente vivida por inteiro em sua natureza, em seu desejo e sede de infinito e busca de verdade a 360°. Há muitas conferências sobre todos os aspectos da realidade: da política à ciência e ao esporte, da arte à cozinha. Uma verdadeira busca da verdade, séria e minuciosa. Uma busca da verdade totalizante, que mergulha até suas próprias raízes, onde a razão e o coração procuram juntos sem nenhuma censura. Nem mesmo um detalhe é visto fora da realidade, mas dentro de seu significado total, com esta tensão desejosa do conhecimento da verdade enquanto tal. A organização das exposições e das salas de conferências, a limpeza e todos os serviços necessários são feitos unicamente por voluntários que reconhecem sua necessidade humana como definitiva e indispensável, e o fazem sem serem pagos. Nesse lugar acontecem fatos extraordinários que se impõem e surgem como uma beleza absolutamente correspondente que liberta o coração. O Meeting é uma catedral moderna onde cada pedra é modelada e colocada por um homem, por alguém que foi ferido pela beleza e que a busca ardentemente. Cada homem – do jovem que se improvisa cozinheiro e prepara os grelhados até o conferencista astrofísico americano, último prêmio Nobel –, cada um é protagonista apaixonado pela vida. Uma catedral moderna onde céu e terra se encontram, onde o Mistério pode ser encontrado e conhecido na origem mesmo da realidade.
Elena,
Paris – França