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Passos N.115, Maio 2010

BRASIL - Via-sacra

No caminho do Calvário

pela redação

Em diversas cidades, a caminhada silenciosa intervalada por momentos de oração e leitura. Olhos voltados para Cristo, que morria por nós. Gratos e comovidos pela piedade ante o nosso nada

Um gesto proposto todos os anos por Comunhão e Libertação é a via-sacra na Sexta-feira Santa. Seguir os passos de Jesus durante o seu caminho ao calvário é um gesto de memória que nos permite entrar mais em relação com Ele e nos prepararmos para a grande festa da ressurreição. Há alguns anos, introduzindo o caminho da via-sacra no Santuário de Caravaggio, com os jovens universitários, Dom Giussani, dizia: “Não é um pensamento que devemos seguir agora, mas um Acontecimento no qual devemos entrar, é uma forma de memória e, como qualquer memória depende da seriedade com a qual o coração fixa os conteúdos da mesma memória, como meditação; o caminho, os movimentos, as palavras que se escutam, os cantos se tornam essa memória mais viva, mais pronta. Não devemos nos maravilhar se nos encontramos distraídos por alguns minutos, retomamos a atenção logo que nos demos contas. Antes de começar pedimos ao Senhor que faz todas as coisas, ao Pai grande, origem de tudo e, portanto origem também deste instante de pensamento, de sentimento, de desejo que nos invade, pedimos a Deus a graça de entender sempre mais, que o nosso coração compreenda sempre mais. Doa-nos a Tua ajuda porque a última evidencia não se escureça em nós, é como uma obscuridade que cobre a evidencia do Verdadeiro.”
Diversas foram as comunidades que realizaram o gesto. A seguir, alguns testemunhuos que exemplificam as experiências vividas no evento.


Petrópolis – RJ
Pelo segundo ano consecutivo realizamos a via-sacra aqui na Cidade Imperial. O ano passado foi muito bonito, mas este ano superou, pois fomos mais ousados e fizemos um percurso maior, passando por pontos turísticos, que por ser Sexta-Feira Santa, estavam cheios de turistas. Julian de la Morena no final da Assembleia de Responsáveis da América Latina disse: “Que proposta levamos para casa? É simples: fazer crescer esta amizade. E todos estamos convidados”. Voltei para casa com uma grande vontade de comunicar esta história aos meus amigos, aos alunos, a todos. E o gesto da via-sacra foi isto para mim. Viver o que Jesus viveu, e meu desejo é amar como Ele ama, acolher como Ele acolhe, olhar como Ele olha junto com os amigos aqui. E para pedir isso na Semana Santa não foi difícil, porque tudo indicava que com Ele tudo é mais, é o cêntuplo.
Vi este cêntuplo lá na Catedral da cidade. Encontramo-nos ali às 9h30 para a saída e eis que chega um homem e me pergunta se poderia seguir conosco. Digo-lhe que sim e ele vem. Seu nome é Walmir. E voltou no dia seguinte para o nosso retiro, e voltou na última sexta-feira, para a Escola de Comunidade. Durante o percurso, as pessoas que estavam na rua reagiram, muitas pararam e faziam o sinal da cruz, falavam mais baixo, sorriam, outras duas mulheres nos acompanharam até uma certa Estação.
Eu ia na frente para fotografar, e via aquela cruz que, sendo carregada, era o sinal supremo de amizade e amor por mim, pelo meu “nada”, morreu por mim, me ama, me aceita como sou, me prefere. O desejei ali olhando para todos os meus amigos e aqueles que se aproximavam, que todos pudessem fazer a experiência que eu faço: sentir-me amada, preferida, certa da misericórdia d’Ele. Uma amiga pediu para segurar a cruz e depois contou-me que este gesto ajudou-a a tomar coragem e se confessar, pois há muitos anos não participava deste sacramento. No dia seguinte, fizemos o nosso retiro. Quantos gestos simples, mas quanta certeza da presença d’Ele, quanta certeza que cada vez mais Ele precisa ser conhecido e amado. E eu, como resposta, digo: “Sim!” Quero amá-Lo e torná-Lo conhecido, e conhecê-Lo sempre mais até que chegue a dizer em tudo: “Minha preferência humana é por ti, ó Cristo”.
A via-sacra deste ano ajudou-me a dar esta resposta, a renovar o meu sim, a olhar par o povo que começa a nascer aqui e dizer que os nossos dramas, problemas e desejo têm uma resposta: Ele.
(por Inês Damasceno)


Rio de Janeiro – RJ
Guiada por padre Paulo Romão e Marco Montrasi, a via-sacra foi iniciada às 9h partindo da Igreja Santa Luzia, localizada no centro da cidade, até o Outeiro da Glória. “Não é um pensamento que devemos seguir, agora, mas sim entrar num Acontecimento”. Tendo em mente este comentário de Dom Giussani, a comunidade foi convidada a participar e a viver o percurso de Cristo em todos os momentos, com leituras de trechos do Evangelho, trechos de Charles Péguy, músicas cantadas e interpretadas pelo coral, oração do terço e momentos de silêncio. Sem dúvida, a via-sacra é o primeiro passo que damos em direção a Cristo, é o momento em que todos nós estamos voltados com toda atenção, para Aquele que mudou e muda a história do mundo, o Acontecimento. “É uma compaixão, uma piedade, uma paixão. Teve piedade de mim” (Luigi Giussani). Fomos resgatados e este é o início da vitória do Senhor em nossas vidas.
(por Karen Luna)


São Paulo – SP
Em São Paulo, a via-sacra percorreu o Centro Histórico da Capital Paulista. O gesto partiu da igreja do Mosteiro de São Bento, uma das mais antigas e tradicionais da cidade. O grupo foi saudado pelo Abade Dom Matthias e por padre Vando Valentini, que leu mensagem enviada por Marco Montrasi, responsável nacional de CL: “Que nossos olhos estejam voltados para Cristo e para Nossa Senhora a fim de que possamos oferecer e rezar pela Igreja e pelo Papa nesses dias marcados pelo ódio contra o sinal vivo de Cristo no mundo. É uma grande ocasião para pedir pessoalmente e mostrar para todos um olhar diferente, que parta da misericórdia e da Presença de Cristo que é mais forte do que qualquer pecado”.
 Como a igreja é um importante ponto turístico, não era raro ver pessoas que entraram no local para visitar e, interessados com o gesto que estava acontecendo, acabavam por permanecer e participar também da via-sacra. As três primeiras estações foram feitas dentro da própria igreja e, em seguida, a procissão seguiu pelas ruas do Centro com o silêncio e a simplicidade que lhe são característicos.
A quarta estação foi frente ao prédio da Bolsa de Valores de São Paulo, o coração do mercado financeiro do país. Padre Vando chamou a atenção para o prédio. “Diante do símbolo mais importante da economia da América Latina, nós estamos aqui para dizer que a cidade também precisa de Cristo, de nada adianta todo dinheiro se não temos Cristo”.
Durante o trajeto, a engenheira de produção, Eliane Gonçalves, afirmou em entrevista a uma rede de televisão local que “o significado é que vivemos com a esperança de um dia, todos nós ressuscitarmos”. A aposentada Elza Aparecida também falou sobre o gesto:“É a cruz de Cristo, é o renascimento, é a vitória, é a afirmação da nossa fé”.
Centenas de pessoas participaram da via-sacra que foi encerrada diante da igreja do Pateo do Collegio, local onde a cidade foi fundada. Ao final, foram distribuídos panfletos com o editorial de Passos comentando a Carta do Papa aos Católicos da Irlanda.
(por Carolina Oliveira)