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Passos N.74, Julho 2006

EXPERIÊNCIA - Europa Central Vida de CL

Pessoas diferentes unidas
em um povo novo

por Emanuele Bianchi e Federico Rinaldi

A Assembléia dos Responsáveis de Comunhão e Libertação nos países da Europa Central se reunu na esplêndida paisagem do castelo-basílica de Sonntagberg, perto de Viena. “Alguém nos aconteceu”: um fato os levou até lá

por Emanuele Bianchi e Federico Rinaldi

Áustria, República Tcheca, Eslováquia e Hungria, em outras palavras: Europa Central. Não há outro lugar no mundo em que, em um raio de apenas 300 Km, vivam povos de língua, cultura, passado e presente tão profundamente diferentes. Além do alemão e das línguas eslavas, poemos ouvir entre nós uma língua musical e de raiz completamente diferente, o húngaro. A história do Movimento nessa região começou no período comunista: relacionamentos cultivados fielmente no decorrer de anos, por meio de visitas periódicas e encontros clandestinos com os amigos italianos. Em 1995, depois de um encontro fortuito de Dom Giussani com Christoph Schönborn – que tinha sido recentemente nomeado Arcebispo de Viena –, no pátio de San Damaso, no Vaticano, chegam em Viena os primeiros estudantes universitários italianos. Logo em seguida, também os alcançaram alguns padres que formaram uma casa de sacerdotes da Fraternidade San Carlo. O tempo fez amadurecer as sementes plantadas no decorrer dos anos em Bratislava, Budapeste e Praga.
O ponto de partida é o mesmo para todos: um encontro, o deparar-se com um fato humano que muda de maneira substancial a vida cotidiana.

Lucie, Deborah e os outros
E hoje acontece como ontem. Em fevereiro deste ano foi realizada a Assembléia da Europa Central conduzida por padre Pino e Davide Prosperi, em Sonntagberg, um lugar maravilhoso distante uma hora a oeste de Viena. Neste encontro, Lucie, estudante de Agronomia em Praga, contou sobre o primeiro convite para almoçar que recebeu de padre André e padre Stefano, que trabalham como capelães na faculdade: uma humanidade diferente, um interesse excepcional pela pessoa, um gosto único por todos os particulares. Um fascínio que não é possível deixar de seguir, procurando agarrá-lo e torná-lo próprio.
Deborah, estudante, conheceu o Movimento há pouquíssimo tempo: “Inicialmente não fiz nada além de – um pouco cautelosa – ficar junto com as pessoas que estavam ao meu lado e fazer aquilo que elas faziam. Agora, percebo que caminhei com Cristo. Ele me acompanhou e me acompanha por meio desses amigos: tudo foi revolucionado”.
Padre Pino, que naquela época também tinha participado da Diaconia Nacional de Boston (EUA), esclareceu os termos da questão: “Ao contrário da situação inicial, hoje existe um ponto de união na diversidade: Cristo que, por meio de uma amizade, reuniu os elos de uma corrente provada pelo tempo e rompida pela história. Só loucos teriam enfrentado uma viagem tão longa e a nevasca mais forte dos últimos anos para virem se encontrar, se não tivessem um motivo claro, uma certeza que os impelisse: ´Alguém nos aconteceu’ seria uma afirmação incompreensível se fosse uma idéia. No entanto, é um fato e é exatamente isso que os trouxe, que nos trouxe aqui!”.

Reconhecer o desígnio de um Outro
As inúmeras contribuições da Assembléia evidenciam como, nas questões de todos os dias, é pedida a cada um de nós a simplicidade de reconhecer o desígnio de um Outro; é desse reconhecimento que nasce a aceitação serena da circunstância e a paixão por aquilo que se tem entre as mãos, “sussurro de Alguém que chama”.
Margit falou da sua tarefa de mãe e esposa e do seu empenho para que sua família também participe da Beleza que ela encontrou. “Lemos na Escola de Comunidade que a Igreja é mãe dos fiéis, que não resolve todos os seus problemas, mas coloca os filhos em condições melhores para enfrentá-los. Do mesmo modo, eu, como mãe, não tenho a tarefa de substituir meus filhos, mas de acompanhá-los, ensinando-lhes a comparar tudo com o próprio desejo de felicidade.”
Maxi, estudante de medicina, falou do olhar mudado nas conversas com os pacientes no hospital e da serenidade ao enfrentar as inúmeras situações difíceis da vida. “É preciso ter a grandeza de ânimo de continuar a se colocar, incansavelmente.”
Maria, grávida de Mathias, enviou sua contribuição por carta, explicando como, graças a uma nova postura humana, tudo, até o medo ligado à gravidez, é “libertado” fazendo com que as circunstâncias tornem-se o lugar amado, onde Cristo se torna presente por meio de rostos amigos que caminham a seu lado.

Enfrentar aquilo que se deve fazer
Padre Pino resumiu tudo na resposta dada à pergunta de Luca: “É inútil ficar pensando em como crescer e servir ao Reino de Deus. Basta enfrentar com lealdade aquilo que se deve fazer, aceitar com esperança aquilo que a realidade propõe e pedir que o Seu desígnio se manifeste”. Ainda: “A cada momento somos chamados a dizer sim, a honrar a liberdade que nos foi dada”.
O despertar dessa consciência – como podemos observar nas colocações – é possível mediante o relacionamento cotidiano com pessoas que tornam Cristo presente e que já vivem de modo diferente.
“Cabe a nós procurar o lugar onde isso possa acontecer. Essa afirmação, hoje, poderia escandalizar qualquer pessoa, porque vivemos em tempos caracterizados pelo individualismo, posição que é contra a natureza da pessoa humana, a qual, desde os primeiros momentos de vida, se desenvolve com base em um relacionamento”.
Tendo Cristo como ponto de partida, também se revela mais claramente a nossa vocação na vida, aquilo que a realidade nos indica como tarefa: o matrimônio, a família, o trabalho. Por exemplo, “aquilo que os filhos lhe pedem – disse o italiano Davide Prosperi que, nestes anos, tem acompanhado as comunidades da Europa Central com uma paternidade comovente – é que vocês sejam testemunhas de uma verdade à qual possam agarrar-se. De outro modo, perdem a bússola. É preciso apenas ser leais com o próprio coração”.
“Nas atividades cotidianas, os conteúdos somente se tornam acontecimento se são acompanhados de um envolvimento pessoal – lembra Pepe, na síntese. Mesmo os vários gestos públicos destes tempos, as apresentações, as mostras, os concertos, as Escolas de Comunidade, todo esse efervescer de vida, só é possível graças ao sim e ao empenho de cada um”.
No domingo, antes da partida, foi feita uma proposta em relação aos passos a serem dados nos próximos tempos, inspirada no vídeo de Dom Giussani sobre Educar é um Risco: comparar tudo com o coração e suas exigências, sempre conscientes da liberdade. Ou seja: educação.