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Passos N.65, Setembro 2005

DESTAQUE / LA THUILE

A esperança do mundo... na universidade

por Anna Leonardi

A experiência dos universitários de Comunhão e Libertação (CLU), no relato de três jovens, assume as cores da terra em que cada um deles vive. Giovanni Cesana em Nova York (EUA); Lioubov Beschastnova em Moscou (Rússia); Anthony Usidamen em Lagos (Nigéria) testemunham que a vida na universidade – e, portanto, o estudo – pode ser provocada e transformada a partir do encontro permanente com o Movimento.
Giovanni, formado em Medicina, partiu para a Columbia University para realizar um projeto de pesquisa: “Depois de alguns meses, surgiu a oportunidade de continuar a especialização em cirurgia geral, que eu havia começado na Itália. Nos EUA, essa especialização prevê 110 horas de trabalho por semana! Nós acordamos todo dia às 3h30 e se trabalha até às 11h da noite”. Giovanni pergunta a Chris, que está fazendo especialização nesse setor há três anos, como está conseguindo levar essa vida. “Eu não vivo”. “Por que, então, continua fazendo?”, provoca. “Comecei, e agora preciso terminar”, responde ele. “Para você o trabalho já se tornou uma droga. Quando você salva uma vida, sente-se um deus”, continua Giovanni a provocar; e vai adiante: “O trabalho torna-se a nova religião; os professores são os seus sacerdotes: ensinam como a gente deve dormir, comer, lavar-se, que remédios tomar quando se sente cansado ou desconcentrado. A única saída (se eliminamos Cristo) parece ser a morte; de fato, as estatísticas revelam que na especialização em cirurgia ocorre a maior taxa de suicídios da América”. Já nos primeiros meses da sua chegada aos Estados Unidos Giovanni vê-se obrigado a enfrentar, junto com seus colegas, essa difícil questão, pois três companheiros jogaram-se pela janela da Biblioteca da Universidade de Nova York. Também nesse caso, a universidade providenciou tudo: fóruns de debate, encontros, um blog para desabafar. “Nós, do CLU – conta Giovanni –, nos perguntamos como podíamos mostrar aos nossos colegas que a vida é positiva, que é bela. Nos EUA a coisa é difícil, porque parece que tudo já foi feito. Sobretudo em Nova York – por exemplo, no metrô – é um contínuo vai-e-vem de pregadores que querem nos converter para a sua visão de mundo”. Como anunciar Cristo nesse ambiente? Giovanni fala do seu encontro que teve com o padre Giussani, quando pensou em submeter a ele o dilema: aceitava ou não a proposta de especializar-se em cirurgia na Universidade de Colúmbia? Falou a ele do ambiente duro em que deveria viver por três anos, e que não poderia morar com os Memores Domini nem participar das atividades da comunidade. Mas don Gius foi direto: “Vá em frente! A vida é obedecer à realidade, porque a realidade é Cristo”. “Toda a vida do CLU em Nova York – prossegue Giovanni – recomeçou a partir dessa frase; isto é, tornou-se obediência. Mas sempre numa comparação, ou seja, na amizade, como pude entender naquele diálogo com Giussani”. "Também entendi que a educação não é compreender 99,9% de CL, porque depois pode acontecer o 0,1% restante, e aí você está frito! O que consola é que há alguém contigo. Isso é o que o CLU procura ser nos EUA”.
Para Lioubov, ortodoxa que vive e estuda em Moscou, este ano representou uma nova etapa: “Eu e meus amigos procuramos viver o CLU da forma recomendada pelo Movimento: o fundo comum, as férias, a Escola de comunidade. Na jornada de início do ano, eu disse que nós estávamos ali por causa de Cristo, para que ficasse claro o conteúdo das nossas propostas, inclusive para quem estava ali pela primeira vez”. Como Lioubov temia, muitos, ao ouvirem isso, foram embora; mas os que ficaram, “ficaram de fato”. Há três anos lêem juntos O Senso Religioso; “não conseguimos terminá-lo tal é a densidade dos nossos encontros”. Lioubov fala, depois, da inauguração da Biblioteca do Espírito, em dezembro, no centro de Moscou. Padre Pino participou do evento. “Procurei convencer muitos dos meus amigos a irem até lá, para conhecê-lo. Para eles, era um absurdo perder uma noite de estudo desse modo. Fiz ‘chantagem’, convidando-os para jantar conosco depois. E todos se encantaram com esse homem, enchendo-o de perguntas e interessados nas respostas. No final, nem ligavam mais para o jantar!”. Lioubov é a única do Movimento na sua universidade; “sozinha, a gente corre o risco de perder o sentido do que faz; quando isso acontece, a gente percebe, fica triste e se arrepende. Mas a certa altura entendi que para afirmar o significado de tudo eu não precisava inventar atividades especiais (que, aliás, sozinha, eu não conseguia organizar): basta ser eu mesma”. Assim, durante o curso de literatura francesa, Lioubov enche-se de coragem, sai da rotina e propõe à classe e à professora uma dissertação sobre O Anúncio à Maria, de Paul Claudel. “No início – lembra – a classe parecia desinteressada, mas no final todos pareciam contentes, tanto que a professora incluiu o texto de Claudel no programa dos exames. Agradeceu-me pelo meu modo de estudar, mas também acrescentou: ‘Não ponha muita fé nesses mitos!’. Para mim, foi uma oportunidade de dizer a todos quem eu sou”.
Anthony, nigeriano, conta como era a sua vida antes do encontro com o Movimento, ocorrido no último ano de faculdade: “Eu não estava acostumado a seguir nada, não pensava em nada, vivia a vida, simplesmente. E a cultura do meu povo facilitava esse estilo de crescer sem direção. No começo da adolescência, eu alimentava um monte de desejos (amor, beleza, conhecimento), mas a negatividade que reinava à minha volta levava-me a achar tudo isso impossível. Com o Movimento, meu coração recomeçou a viver, porque entendi que todas as coisas têm um sentido”. A partir desse momento, Tony dedicou-se ao estudo com toda a energia de que era capaz, tomado pelo desejo de conhecer, sabendo que os exames também tinham algo a ver com a felicidade. A uma diaconia do CLU, Tony e os seus amigos perguntam como podiam compartilhar com os outros esse novo modo de enfrentar a realidade. “Colocamos em ação a nossa criatividade: usamos a música, a poesia de Leopardi para encontros mais abertos. Não era um projeto, mas o testemunho da beleza que havíamos encontrado. Se era verdadeira para nós, então seria para todo mundo também”.