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Passos N.116, Junho 2010

DESTAQUE - JUNTOS, COM PEDRO

“Diante daquele pranto, reencontrei um Pai”

por Alessandra Buzzetti

O encontro com as vítimas e as lágrimas do Papa, em Malta, marcaram a todos. Mas o que aconteceu depois? Fizemos essa pergunta a alguns dos protagonistas daquele encontro, que contam por que “pela primeira vez poderia perdoar quem me fez tanto mal

“Quando vi o Papa chorar na minha frente, me perguntei: por que ele sofre assim por uma coisa da qual ele não tem nenhuma culpa? Então, comecei a sentir paz dentro de mim. Pela primeira vez, pensei que poderia perdoar quem me fez tanto mal.”
Joseph Magro, 38 anos e dois filhos, acabou de deixar a Nunciatura de Rabat, em Malta, onde encontrou o Papa com outras sete vítimas de abuso. No pescoço, o terço branco, com o brasão de Bento XVI. Ao lado de Joseph, está Manuel: ele também, debaixo da gravata, carrega uma pequena corrente com o rosto de Cristo; ele também tem quase 40 anos, dois filhos pequenos e a ferida ainda sangrando pelos abusos sofridos – quando criança – por alguns religiosos da Casa São José, instituto que acolhe menores em dificuldades, a poucos quilômetros de distância de La Valleta. “O Papa pegou minhas mãos, as apertou e eu entendi o quanto estava sofrendo”, nos conta Manuel: “Eu disse que estava triste por ele que não tinha nada que ver com esses fatos, disse que eu amo a Igreja e sinto dor por quem a suja dessa maneira em nome de Jesus Cristo!”. Estas foram as palavras do breve diálogo entre Manuel e Bento XVI. O Papa chegou na hora do almoço, depois da missa com os católicos de Malta, visivelmente cansado. No entanto, estava decidido a não desiludir a espera mais profunda do coração daqueles oito homens de quem os padres tinham violado a infância e a inocência. O encontro aconteceu na capela, começou com uma oração coletiva, antes do breve colóquio pessoal que Bento XVI dedicou a cada um.
Manuel está abalado, não contém as lágrimas enquanto descreve o olhar humilde de Bento XVI, por quem se sentiu abraçado tão profundamente a ponto de sentir novamente, depois de tanto tempo, confiança em si mesmo. “Disse que acreditava em mim, que confiava em mim”, repete sem pausa.

UM GESTO CORAJOSO. Manuel é um nome fictício; o anonimato – explica – é para proteger os filhos – de 7 e 9 anos –, para não colocar em seus ombros o peso de uma história que ele mesmo, durante 13 anos, tentou apagar de todas as maneiras. Nunca a tinha contado a ninguém, nem à sua mulher.
Assim, também Joseph, interno por um período de 10 anos na Casa São José, durante dois anos – de 1988 a 1990 –, foi objeto das perversões de um sacerdote. O mesmo padre que – em 1995 – celebrou seu casamento.
“É difícil explicar”, conta Joseph. “Para nós, meninos sem pais, aquele padre era realmente como um pai. Eu deixei o instituto quando tinha 18 anos e foi ele quem encontrou um trabalho para mim. E assim, também, para tantos outros. Mas, cada um de nós pensava que era o único menino de quem ele abusava.”
Um segredo inconfessável, ainda mais para um jovenzinho frágil, a quem a vida já tinha pedido tanto, abandonado pelos pais e, nesse contexto, habituado a salvar a todo custo o nome e as aparências.
Até que, em 2003, Lawrence Grech, também vítima das violências acontecidas na Casa São José, decide denunciar, para não permitir que isso continue acontecendo.
O processo está em andamento, mas sempre há atrasos e adiamentos. Depois do apelo público dos bispos de Malta, que denunciaram os padres pedófilos, mas sobretudo depois do encontro do Papa com as principais testemunhas de acusação, outras três vítimas se apresentaram.
Um paradoxo, êxito da grande pressão da mídia desses meses? Ou o fruto de uma possibilidade entrevista de poder olhar de maneira mais verdadeira para uma ferida até agora descartada, através do gesto corajoso de um Papa que não teme a verdade e toma para si culpas que não são suas, mostrando ao mundo o rosto do Único que pode curar as feridas?

O MESMO NOME. “Senti-me curado, porque encontrei um santo”, responde Joseph sem hesitação.
“O papa é muito diferente daquilo que vemos na TV, ou de como o descrevem os jornais. É humilde e sensível, calmo, mas sofredor. Quando lhe disse como me chamo, imediatamente reagiu, porque temos o mesmo nome. Fiz-lhe a pergunta que mais se repetia no meu coração: como os padres puderam fazer aquilo comigo? O Papa respondeu que não sabia, que era um mistério, porque essas pessoas tinham feito um juramento diante de Deus. Assegurou-me que rezará por mim. Um encontro inesquecível.” Uma memória viva que, para Joseph, continua, de maneira surpreendente, todas as noites, quando recita o terço com suas duas filhas. Confessa que não sabia nem mesmo os Mistérios e que nunca tinha rezado com a família antes. “Por que decidi rezar o terço? Porque se o Papa me presenteou com ele, quer dizer que deseja que eu o use!”, é a resposta. Simples e imediata, como a de um filho que reencontrou seu pai.