IMPRIME [-] FECHAR [x]

Passos N.119, Setembro 2010

DESTAQUE - ELEIÇÕES

Política a serviço do povo

Por Otoney Alcântara e Isabella Alberto

Às vésperas das eleições de 3 de outubro, conversamos sobre o tema da política com Marcos Zerbini, deputado estadual em São Paulo, e fundador da Associação dos Trabalhadores Sem-Terra (ATST), que nestes 20 anos de história ajudou mais de 18 mil famílias a conquistarem seu próprio terreno para a casa própria, e da Associação Educar para a Vida, responsável por parcerias com 18 faculdades, que está beneficiando mais de 70 mil estudantes no curso superior

Marcos Zerbini se lançou na política pelo desejo de bem ao povo a quem sempre serviu. Suas ações não se baseiam no lucro e na vantagem, mas são decididas tendo como base a fé em Cristo. Buscando uma ajuda para que o momento das eleições seja uma ocasião de crescimento pessoal e uma oportunidade de verificação da própria fé, como nos desafiou padre Julián Carrón, dirigimos a Marcos Zerbini as seguintes perguntas.

O que é a política pra você?
A política significa um instrumento necessário para o trabalho que eu faço e para a realidade que eu vivo. Eu não inventei ser político, mas ao longo da minha história eu fui percebendo a necessidade de um parlamentar que representasse de verdade o trabalho que desenvolvemos na Associação. Por causa disso eu acabei sendo candidato, fui eleito vereador duas vezes, agora sou deputado estadual e concorro à reeleição. Para mim, política é uma das formas mais bonitas de construir o bem comum. E eu procuro na política representar o meu povo, as pessoas que fazem junto comigo o mesmo caminho. Acho que a política só tem sentido quando você tem isso muito claro. Primeiro, que ela serve para construir a história de um povo; segundo, que você pertence a esse povo; terceiro, o mandato deve ser usado para a construção da história desse povo. Se não tiver esse sentido, a política acaba se tornando algo individual, muito vazio e pequeno.
Também acho fundamental entender que a política não é diferente da vida, mas faz parte da vida. E, muitas vezes, as pessoas me perguntam: “Como é que você vive a política?”. Eu digo: “Da mesma forma que você vive a sua vida”. Porque, na política, eu não tenho que ser diferente daquilo que eu sou na minha vida. Se aprendemos com o Movimento, com Dom Giussani, com o Carrón que precisamos ser sérios na vida, temos que ser sérios na política, no trabalho, na família, na faculdade, em todo o lugar. Temos que ser sérios de verdade.
O que é a política na sua essência? A política é a arte do bem comum. Eu acho que todos aqueles que têm vocação para a arte do bem comum, devem começar a discutir política, se juntar para pensar em que ações podem ser feitas para ajudar a sua comunidade, para mudar a realidade em que vivemos, porque a política só tem sentido se você sabe o motivo pelo qual a faz.

A partir da sua experiência, com que critérios devemos nos colocar neste momento de escolha dos candidatos?
O critério para mim é muito simples: em primeiro lugar, quem mais me ajuda a construir a Igreja, ou, o que menos atrapalha a Igreja. Segundo, é quem acredita na pessoa, qual política ajuda mais a construir a pessoa. Se vivemos em um Movimento que diz que temos que encontrar o humano para encontrar Cristo, temos que buscar agora quem mais ajuda a construir o humano. Qual a proposta de Estado que eu quero? Qual é a pratica de Estado que eu vejo que é construída, que é vivida? É aquela que ajuda a construir a pessoa, ou é aquela que torna a pessoa dependente do Estado? Qual o Estado que eu quero? Qual o tipo de política que eu quero? Eu quero um Estado que ajude a construir leis que favoreçam a Igreja, que ajudem a construir a Igreja, ou quero um Estado que constrói leis que destroem a Igreja, que destrói aquilo que a Igreja acredita? Não precisamos de nenhum grande tratado político, ou teológico, ou sociológico para decidir. Precisamos olhar para a história daquelas pessoas que estão se candidatando e perguntar: quais delas ajudam mais a construir a pessoa e a Igreja?
Precisamos também dar um passo além, precisamos começar a discutir, a estudar, a fazer política – a boa política. A política que realmente muda o mundo. Ah, mais isso é difícil! É claro que isso é difícil, mas quem disse que ia ser fácil? Cristo não veio nos prometer tranquilidade. Eu acho que é esse o nosso papel, aceitar o desafio de carregar a cruz, com a certeza da ressurreição.
Mas existem muito critérios simples e claros, que nos ajudam a aplicar esse critério maior. Critérios que nascem da experiência da Igreja, em seu conjunto, e que podemos confirmar também na nossa experiência pessoal. Por exemplo, a discussão dos Direitos Humanos, a campanha clara de legalização do aborto, de permitir a experiência com células-tronco embrionárias; os bispos brasileiros não se cansam de insistir que isso não constrói o bem do povo. Não são propostas que nascem da solidariedade para com todos, mas do individualismo que não quer se importar com os demais. Por isso, quem defende propostas desse tipo acaba atacando a Igreja e, na prática, sendo contra ela. A segunda questão é que existe uma política no Brasil que se diz preocupada com o povo, mas não favorece a organização social. É feita por políticos que, quando estão no poder, só apóiam as organizações sociais controladas por eles e fazem aquilo que eles sempre disseram que eram contra, que é dar esmola para as pessoas – não ajudá-las a ser protagonistas da própria vida. A Doutrina Social da Igreja sempre defendeu este protagonismo, através do princípio da subsidiariedade. Temos que ser claros e dizer que não acreditamos em programas sociais populistas. Temos que nos perguntar se os programas sociais estão construindo este protagonismo ou estão criando uma legião de pessoas que ficam em casa sem trabalhar, sem perspectiva e esperança para a vida, pois isso seria terrível, seria a destruição de uma geração.

Em diversas cidades, conhecemos alguns candidatos com quem nasceu uma amizade e uma proximidade de ideias. Vale a pena nos arriscarmos para apoiá-los abertamente?
Eu acho que o critério fundamental no caso da escolha de um parlamentar é apostar na possibilidade de uma amizade. A candidatura se constrói ao longo do tempo, então não devemos nos preocupar se agora a pessoa não tem real possibilidade eleitoral. Se é uma pessoa que é séria eu acho que precisamos apostar, arriscar. Por exemplo, aqui em São Paulo, os deputados estaduais têm direito a uma emenda no orçamento, que significa mandar verba para vários municípios. A maioria dos deputados manda essa verba para 30 municípios ou até mais no Estado todo. Eleitoralmente isso é interessante. Nesses 6 anos de mandato eu enviei R$ 11 milhões em emendas para apenas dois municípios. Eleitoralmente isso não é inteligente, mas são os dois municípios onde eu construí uma relação de amizade com os prefeitos e eu não me arrependo disso. Não dá o mesmo retorno eleitoral, mas com essas duas pessoas eu construí um relacionamento que vai muito além do aspecto eleitoral. Eu insisto que o que muda o mundo são amizades verdadeiras e acho que devemos apostar na construção dessas amizades, inclusive concretamente fazendo campanha. Pois apostar nessa amizade significa se arriscar até o fim. E essa amizade parte de pessoas e rostos concretos.