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Passos N.121, Novembro 2010

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A história

Um homem verdadeiro, ali com ela

No espaço de uma folha, um panfleto com muitas questões. O desafio do Islã. O vazio da cultura dominante. E o debate desencadeado pelo projeto de uma mesquita no Ground Zero, no centro de Nova York. Um caos midiático, ataques e reações, como se previa. Mas que não leva a lugar algum. Por isso a comunidade de CL norte-americana preparou aquele panfleto, que começa a circular pelos locais de trabalho. E chega também às mãos de Sara, pesquisadora sobre o câncer num dos centros de excelência mundial dos Estados Unidos. Um templo da ciência.

Sara lê e decide: vai repassá-lo aos jovens que fazem ali o pós-doutorado. Porque aquelas linhas falam também da ciência, da sua absolutização, incapaz de dar respostas “às perguntas que continuamente ferem o coração do homem”. Os pós-doutorandos são uma centena, muitos vêm do Leste: China, Vietnã, Coreia, Índia. Respeitam muito os ritos e as religiões, mas quase todos são ateus. Sara lê o panfleto junto com eles. Sobre o “cientificismo”, nenhum debate, todos concordam. O que esquenta o ambiente é outra passagem, sobre Madre Teresa de Calcutá: “Uma pessoa brilhante, carregada de amor. Sua humanidade comoveu a todos”. Depois, as últimas linhas: “Convidamos todos a voltar os olhos para Madre Teresa e para o Homem ao qual ela entregou a vida. Na Sua Pessoa, presente hoje entre nós, podemos encontrar a única Verdade que pode nos dar a liberdade prometida pelos Estados Unidos”. Só alguns deles tinham ouvido falar de Madre Teresa. E vagamente. Jung, uma das estudantes, procura Sara no dia seguinte. Precisa conversar.

Ela é médica e vem de Gansu, província da China onde, em agosto, um deslizamento de terra havia matado mais de mil pessoas. Diante dessa tragédia, queria voltar para casa, queria ajudar. Mas depois pensou no trabalho aqui, na família, em um monte de coisas. Desistiu de partir. E começa a chorar. “Aquele é o meu povo e eu não fui. Madre Teresa foi aos mais pobres, e não por um mês, mas por toda a vida. Como é possível?”. De repente, outra pergunta: “Mas quem é esse Homem a quem ela entregou a vida?”. Sara lhe fala de Jesus. Ela escuta. Depois diz apenas: “Ela devia mesmo amar Jesus como um homem verdadeiro, ali com ela”. Sara exulta. Pensa naquelas linhas do panfleto que a tinham impressionado: “Na Sua Pessoa, presente hoje entre nós...”.

Sai Jung, chega John. Outro pós-doutorando. Comenta com Sara que naquele grupo há duas muçulmanas: “O que será que pensam do ‘confronto’ sobre o Islã? Certamente sofrem; que bom seria se se sentissem olhadas como Madre Teresa o fazia!”. Só isso. E vai embora. Com outros colegas, organiza um jantar para conversarem sobre o panfleto. As duas moças islâmicas também estão presentes. Não há nenhuma estratégia que possa prever algo semelhante. Não há palavras capazes de comover tanto a Jung como a John. Nem o panfleto. O que comove é “a Sua Pessoa, presente hoje entre nós”.