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Passos N.56, Novembro 2004

50 anos de CL / Encontros

A unidade reencontrada

por Paolo Carozza

Antes do encontro com o Movimento a vida parecia dividida em duas: de um lado, a fé, do outro, a cotidianidade

Durante muitos anos, antes de me envolver com o Movimento, estudei e exerci o Direito e dei aulas na universidade. O meu casamento era muito bom e eu tinha uma vida familiar alegre. Estava sempre rodeado de amigos e participava da Igreja com o estudo, a oração e o serviço. No entanto, uma separação entre estes três aspectos da realidade deixava em mim o desejo de algo diferente, de uma vida que conciliasse com intensidade todas essas coisas para que elas deixassem de ser esferas distintas da minha vida. Em particular, a vida de fé parecia algo “de outro”, separada da concretude do meu trabalho, da minha família e da minha humanidade. Quando encontrei o carisma de CL (ou, mais precisamente, o reencontrei, porque a semente já tinha sido plantada muitos anos antes, quando eu ainda era estudante, mas foram necessários quase 15 anos para que ela germinasse), o que mais me tocou desde o início foi o modo com o qual padre Giussani me ensinou a compreender a vida como vocação, não a buscar um chamado fora da concretude da minha vida de todos os dias, mas a ver a própria vida, na sua totalidade, como vocação.

Até os detalhes
Conforme crescia em mim essa maneira de perceber a vida, em vez de conceber o elemento religioso como algo imposto do alto ou acrescentado a todo o resto, a presença de Cristo passou a coincidir inteiramente com tudo: com o trabalho, com a minha família e com os meus amigos, até os mínimos detalhes. Assim, a atração pelo carisma de CL tornou-se, para mim, o dom de uma vida que reencontrou a sua unidade e adquiri uma maior consciência disso e a paixão pelo gosto e pela substância da realidade que me é dada a cada instante, uma razão para me doar completamente em cada coisa.
Entre os muitos frutos dessa vitalidade está a compreensão nova e mais profunda do significado do meu trabalho. Comecei a entender o que significava quando, nas antigas Instituições de Justiniano, se dizia: “Não é muito útil conhecer a lei se não se sabe nada sobre as pessoas para as quais as leis existem”. Estar empenhado com a pessoa humana – não como uma abstração, mas como uma realidade presente, uma carne cuja dignidade existe no nível mais profundo do nosso desejo de felicidade, liberdade e eternidade com o qual nós fomos criados –, este é o sujeito do Direito e do meu estudar, escrever e lecionar. A descoberta da minha humanidade me dá o ímpeto para aprofundar os problemas que devo enfrentar no campo dos direitos humanos fundamentais ou que dizem respeito à salvaguarda e liberdade das diversas culturas nas comunidades internacionais. Na aula, compreendo melhor que o meu ensinamento não consiste simplesmente em transmitir uma técnica, mas significa compartilhar a vida dos meus estudantes e encorajar neles um desejo de eternidade.

Nada menos que o significado
Muitas vezes, enquanto dou aula, não posso fazer menos do que parar e dizer aos meus alunos: “Abram os olhos e os ouvidos porque aquilo que está acontecendo aqui não é absolutamente nada menos que o mistério, o significado e o destino de suas vidas, e suas vidas são grandes e belas!”. Tenho por eles um olhar animado por uma afeição paterna e por um desejo pela felicidade deles que não teria conseguido adquirir sozinho, com as minhas próprias forças. Esse olhar me vem de um Outro, de um encontro com Cristo, sustentado pelo pertencer a uma companhia de pessoas cujos rostos me recriam a cada dia. Mas, sobretudo, surge todas as vezes que volto para casa e abraço minha mulher e meus filhos. É aqui que vivo mais agudamente a minha necessidade de misericórdia e de ternura. Aqui experimento mais intensamente o meu desejo de ser totalmente presente para eles. Aqui encontro a fonte de esperança que me dá a razão para viver cada dia, não obstante todos os erros e os momentos de distração. Aqui vejo mais claramente que mudei. Não que a vida do Movimento tenha tido um efeito sobre o meu trabalho como tal, mas teve um impacto sobre o meu trabalho exatamente tornando-o uma parte inseparável da experiência de uma unidade de vida, vivida na presença de Cristo. E, assim, comecei a seguir como um filho aquele olhar que padre Giussani tem, o Rosto do qual ele nunca se cansa de nos falar a respeito, para que a minha vida possa ser unida e eu possa ser pai, marido, professor, pesquisador e amigo, em suma, possa ser totalmente homem.