Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 25 de 23 de junho de 2016
Há regras claras sugeridas por Jesus para não cair na hipocrisia: não julgar os outros para não sermos também nós julgados com a mesma medida; e quando sentimos a tentação de fazê-lo, é melhor primeiro olhar-se no espelho, não para nos escondermos com a maquiagem, mas para ver bem como somos realmente. Recordando que o único verdadeiro juízo é o de Deus com a sua misericórdia, o Papa Francisco recomendou que não cedamos à tentação de nos colocarmos no lugar do Senhor, duvidando da sua palavra.
“Jesus fala às pessoas e ensina muitas coisas acerca da oração, das riquezas, das preocupações fúteis, muitas, sobre como se deve comportar um seu discípulo” afirmou Francisco. E assim “temos este trecho do Evangelho sobre o julgamento” proposto pela liturgia (Mateus 7, 1-15). É um excerto em que “o Senhor é muito concreto”. De fato, se o Senhor “algumas vezes para nos fazer compreender, conta uma parábola, aqui é: direto, porque o julgamento é algo que só ele pode fazer”.
“O episódio começa” com uma palavra clara de Jesus: “Não julgueis, para não serdes julgados”. Portanto, “se não quiseres ser julgados não julgues os outros: ‘zás’, claro”. E o Senhor “dá um passo adiante”, indicando precisamente o critério da medida: “Porque com o julgamento mediante o qual julgais sereis julgados e com a medida com a qual medis, sereis medidos”.
“Todos nós queremos, no dia do julgamento, que o Senhor olhe para nós com benevolência, que o Senhor se esqueça de muitas coisas ruins que fizemos na vida” disse Francisco. E “isto é justo, porque somos filhos, e um filho espera isto do pai, sempre”. Mas “se julgares constantemente os outros, com a mesma medida serás julgados: isto é claro”.
“Primeiro, o mandamento, o facto: “Não julgueis para não ser julgados”“ reafirmou o Papa, acrescentando: “Segundo, a medida será a mesma que vós usais para com os irmãos”. E depois “o terceiro passo: olha-te ao espelho mas não a fim de te maquiar para que não se vejam as rugas; não, não, não é este o conselho!”. Pelo contrário, sugeriu Francisco, “olha-te ao espelho para te veres a ti mesmo, como és”. As palavras de Jesus são claras: “Por que olhas para o cisco que está no olho do teu irmão e não te dás conta da trave que está no teu? Ou como dirás ao teu irmão: ‘deixa que te tire o cisco do olho’ enquanto no teu há a trave?”.
“Como nos qualifica o Senhor – questionou-se o Pontífice – quando fazemos isto? Uma só palavra: “Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás ver com clareza para tirar o cisco do olho do teu irmão”“. Na realidade, não deveria surpreender a reação do Senhor que “se altera; é muito forte, e parece também que nos insulta: chama “hipócrita” quem julga os outros”.
A razão é que “quem julga – explicou o Papa – coloca-se no lugar de Deus, considera-se Deus e duvida da palavra de Deus”. É precisamente “o que a serpente convenceu os nossos pais a fazer: “Não, não, Deus é um mentiroso, se vós comerdes disto, sereis como ele”. E eles queriam colocar-se no lugar de Deus”.
Por esta razão, insistiu o Pontífice, “é muito feio julgar: deixemos o julgamento só a Deus, só a ele!”. A nós compete “o amor, a compreensão, rezar pelos outros quando vemos coisas que não são boas”, se serve “também falar com eles” para admoestá-los se algo parece não estar no caminho certo. De qualquer forma “nunca julgar, nunca”, porque “se julgarmos será hipocrisia”.
Aliás, afirmou Francisco, “quando julgamos colocamo-nos no lugar de Deus, isto é verdade, mas o nosso juízo é pobre: nunca, nunca pode ser um verdadeiro julgamento”. Porque, “o verdadeiro julgamento é o que Deus faz”. E “por que o nosso não pode ser como o de Deus? Por que Deus é Omnipotente e nós não? Não, porque ao nosso julgamento falta a misericórdia”. E “quando Deus julga, fá-lo com misericórdia”.
Na conclusão o Papa sugeriu que pensemos “hoje naquilo que o Senhor nos diz: não julgar, para não ser julgado, a medida com a qual julgarmos será a mesma que usarão para conosco; e, terceiro, olhemo-nos ao espelho antes de julgar”. E assim quando temos a tentação de dizer: “ela faz isto, ele faz aquilo”, é melhor olhar-se ao espelho antes de falar. Caso contrário, “serei um hipócrita – reiterou Francisco – porque me coloco no lugar de Deus”. E contudo “o meu julgamento é pobre: falta algo tão importante que o juízo de Deus possui, falta a misericórdia”. O Senhor, auspiciou o Papa, “nos faça compreender bem estas coisas”.
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