Parada, com as quatro setas do carro piscando, olho os filhos maiores entrando na escola. E é nesse instante que veem à mente os rostos das mães da Sandy Hook School, de Newtown. Também elas correram como nós, na manhã da última sexta-feira, levando os filhos à escola. Também elas fizeram isso automaticamente e com a mesma agitação. Sem serem tocadas pela ideia de que algum deles, justamente naquele lugar, poderia ser assassinado. Procuramos afastar o terror que toma conta de nós ao nos identificarmos com aqueles pais. Tentamos nos apegar ao cálculo estatístico, que nos diz que a probabilidade de que volte a acontecer a mesma coisa é pequena; vem à mente que não é assim tão fácil possuir armas e que hoje o nível de atenção está muito alto. No entanto, nada disso é suficiente para nos tranquilizar.
Dentro das quatro paredes da creche, enquanto ajudo minha filha mais nova a ajustar o uniforme, me pergunto o que quer dizer, no fundo, protegê-la. Somos mesmo impotentes frente ao mal, como se questionou o presidente Obama durante a cerimônia pelas vítimas? Precisamos manter nossos filhos sempre no ventre para que a segurança deles seja garantida?
Acontece, então, que a pequena Bianca decide fazer o que, em um ano e meio de creche, nunca fez: chorar. Um pranto denso, motivado pelo fato de que ela, hoje, não gostaria de estar aqui. Abraço-a, procurando consolá-la. Mas nada é suficiente para acalmá-la. Fica ainda mais evidente que não só nunca podemos preservar os filhos de todo o mal do mundo, mas que não somos nem sequer capazes de preencher o coração deles quando a vida começa a desafiá-los. Ainda que mantivéssemos o filho sempre agarrado a nós, não o tornaríamos feliz.
“É verdade que as crianças não podem morrer?”, ela perguntou durante o jantar, como se a chacina estivesse ali, no ar. “Às vezes, raramente, acontece. São crianças especiais que Jesus chama para junto de Si, porque quer fazê-las ainda mais felizes”, respondi, resistindo à tentação de mentir-lhe. Porque parece uma coisa demasiada para uma criança de quatro anos.
Ao sair, fecho bem a porta de entrada da escola e percebo que na relação com Ele está a única verdadeira certeza da vida. Porque ninguém mais no mundo jamais soube preencher assim o coração. Ninguém mais me fez sentir necessária, plena, até ao limite de mim mesma, inclusive diante da morte.
E assim, entrando de novo na corrente de tráfego, vou repensando na pequena dor da minha filha. Sei que hoje, junto com as suas colegas, fará o papel de pastorinha diante do menino Jesus no Presépio. “Faça como se não fosse apenas uma brincadeira”, digo, segura dAquele que de fato nos mantém de pé. E que abraça tudo. Inclusive as crianças de Newtown.
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