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Jérôme Lejeune: A santidade de um homem normal

por Maria Emília Marega
29/08/2012 - Agência Zenit

RIMINI, terça-feira, 27 de agosto de 2012 – O Meeting de Rimini recordou o médico francês Jérôme Lejeune, descobridor da base genética (Trissomia do cromossoma 21) da síndrome de Down.

Memória que não se limitou à mostra Genética e a Natureza Humana na visão de Jérôme Lejeune, mas teve lugar também num encontro, com auditório lotado, onde várias pessoas testemunharam a grandeza científica e humana do Prof. Lejeune.

Durante a celebração de abertura da causa de sua beatificação, o beato João Paulo II, falou de Lejeune como modelo do leigo cristão que “utilizou a ciência somente para o bem do homem”.

De Jérôme, recordou Jean Marie Le Méné, presidente da Fundação Lejeune, devemos imitar a coerência e a personalidade unificada, não existia apenas o médico, ou o pesquisador, mas o homem.

Para contar um pouco sobre o homem Jérôme, ZENIT conversou com a Sra Birthe Bringsted Lejeune, esposa do médico que poderá se tornar beato.

ZENIT: Um marido com “fama de santidade”. Com o sacramento do matrimônio a santidade não é mais individual, mas se realiza na unidade do casal. Como seria isso para a senhora?

Sra Lejeune: Penso que a santidade é alguma coisa do cotidiano, é enfrentar a vida normalmente. Nunca imaginei que meu o marido pudesse aspirar a ser beato. Durante tantos anos vividos juntos eu nunca pensei nessa possibilidade.
Tenho certeza que se Jérôme fosse vivo não pensaria nessa possibilidade, e mesmo que tivesse imaginado, não era “consciente”. Acho que a santidade é algo que se compreende apenas depois. Não é que ele tinha idéias de santo.
Eu acho que em qualquer matrimonio é preciso muita paciência, fidelidade e não se deter nos problemas, mas andar além deles junto à pessoa com a qual se vive.

ZENIT: Jérôme era um homem que estudava muito e trabalhava muitas horas por dia. Como conseguia conjugar família e trabalho?

Sra Lejeune: Sim! Trabalhava muito! Mas amava o trabalho, e não fazia por dinheiro, fazia por paixão.

ZENIT: Hoje em dia muitas famílias reclamam a ausência do pai, pois os maridos trabalham muito e passam a maior parte do tempo fora de casa. Como era na família Lejeune?

Sra Lejeune: Jérôme trabalhava muito, mas quando estava em Paris às 19:30 estava em casa para o jantar. Chegava até um certo ponto e ai eu dizia: Agora é hora de comer!E ele parava o que estava fazendo. Tinha uma vantagem: o laboratório e o hospital eram perto e ele conseguia almoçar em casa praticamente todos os dias. Eram momentos de muita alegria, ele nos contava tudo o que tinha acontecido durante o dia. Os pacientes que ele tinha visitado, os problemas que tinha enfrentado. Ele era muito atento, nunca dizia o nome das pessoas, também pela privacidade. Quando ele viajava me escrevia todos os dias. Tenho uma mala de cartas. São cartas interessantes, que contam o que ele normalmente fazia. Hoje, servem para a causa de sua beatificação, mas a família é mantida afastada de qualquer questão sobre o processo.

ZENIT: E como era com os filhos?

Sra Lejeune: Mesmo quando estava em outros países, no Japão, nos Estados Unidos, não ia dormir sem antes ter escrito para eles. Quando ele não estava em casa eu lia as cartas para os nossos filhos. Mesmo que não estivesse presente tinha sempre alguma coisa para contar. Tinha um relacionamento profundo com os filhos.

ZENIT: O que a senhora sente quando vê tantas pessoas gratas ao seu marido? O que acha dessa “fama de santidade”?

Sra Lejeune: Jérôme não é santo ainda! Mas me emociono muito. Tem um jovem português, 24 anos, afetado pelo Trissonoma 21, que todos os anos vai a Fundação para nos visitar. Ele pega as fotos do meu marido, beija e abraça. Eu digo sempre que não precisa ir todos os anos, mas ele tem necessidade de recordar Jérôme. Têm algumas pessoas que organizam todos os anos uma missa em memória do meu marido, apesar de terem passados 18 anos desde sua morte. E todos os anos a igreja de Notre Dame em Paris fica cheia de gente, muitas são crianças afetadas pelo Trissomia 21 que vão para recordar Jérôme.

ZENIT: Normalmente a santidade é vista como algo impossível de ser alcançada, algo extraordinário. Seria então apenas para alguns?

Sra Lejeune: Independentemente do resultado da causa de Jérôme, para os filhos ele é o pai, para mim o marido... Nada de particularmente extraordinário.

ZENIT: Quando o Dr Lejeune decidiu dizer não ao aborto, tentaram colocá-lo à parte, sofreu uma certa discriminação. Como foi?

Sra Lejeune: Não fomos colocados à parte, entramos em guerra!
Muitos doadores da Fundação nos apóiam exatamente porque dizem que temos muita coragem de defender a vida.
A nossa força de lutar é sustentada também por João Paulo II desde que ele foi visitar o túmulo do meu marido. Este ato nos deu muita força.

ZENIT: Sobre a felicidade...

Sra Lejeune: A minha felicidade é saber que tenho 28 netos e uma família muito unida. Somos muitos e unidos, isso me faz feliz. Tenho uma filha casada com o professor Jean Marie Lémé, presidente da Fundação e apaixonado pela bioética, tem 9 filhos; tenho outra filha que tem 9 filhos; um dos meus filhos é casado com uma professora de filosofia, e eles eram muito amigos de João Paulo II. O Papa polaco gostava de falar de filosofia e certa vez os convidou para passar uma semana em Castel Gandolfo.

A sra Lejeune contou também que o Dr. Jérôme Lejeune participou de vários Congressos no Brasil e ela mesma foi ao Brasil com o beato João Paulo II na Delegação Vaticana em visita ao Rio de Janeiro. “Foi magnífico, tinham muitas pessoas”, recordou com alegria.

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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