Nos anos Sessenta, alguns estudantes do ensino médio da cidade italiana de Cesena decidiram partir para o Zaire (hoje Congo) para dar testemunho da experiência cristã que encontraram. Os amigos que permaneceram na Itália, a pedido de padre Ezio Casadei, responsável pelo grupo de colegiais de CL, os sustentavam através de diversas iniciativas para recolhimento de fundos. Com o tempo, este grupo missionário cresce e decide tomar forma jurídica. Assim nasce, em 27 de setembro de 1972, a ong AVSI que hoje, quarenta anos depois, está presente em 37 países do mundo, com 100 projetos de cooperação para o desenvolvimento e dezenas de milhares de crianças sustentadas à distância. Em 27 de setembro deste ano, Deogracious Droma, um professor ugandense que trabalha com a AVSI, apresentou-se no Palácio de Vidro, das Nações Unidas. Contou sua experiência no campo de refugiados de Dadaab, na fronteira entre o Quênia e a Somália. “Colhemos frutos da vinha que não havíamos plantado”, iniciou Alberto Piatti, secretário geral da Fundação: “O nosso único objetivo é o de levar algo que recebemos”.
Comecemos pelo fim. O que sentiu ao ver Deogracious na ONU?
Emocionou-me ouvir o nome deste amigo e o de Dom Luigi Giussani na assembleia das Nações Unidas. É nele que teve origem todo o nosso trabalho. O convite, através do ministro Giulio Terzi, foi um reconhecimento público ao valor de nossa educação.
O que impressiona quem conhece a realidade de vocês?
Nosso interesse é a dignidade de cada ser humano e vem antes do fato de que precise de alimento, casa e instrução. Recordo a mensagem de Bento XVI para a Páscoa de 2009, na qual falava da dignidade “inata” de cada pessoa. É claro que atendemos as necessidades emergentes, porém aprofundamos até chegar ao coração de cada homem.
Qual o critério que usam para atender uma necessidade em detrimento de outra?
Nunca fizemos um projeto dentro do escritório. Procuramos sempre atender aos pedidos de ajuda que nos foram feito. Depois se faz a verificação da possibilidade e utilidade reais de nossa intervenção, privilegiando os lugares onde já está presente uma comunidade cristã.
Que passos deu a AVSI nestes quarenta anos?
Sempre fomos a fundo naquilo que nos moveu na origem. E este aprofundamento vai passo-a-passo com o melhoramento das estruturas. Juízo e eficiência estão juntos em nossa obra. Até porque, a partir de 1996, ano em que iniciei meu trabalho na AVSI, passamos de um orçamento de quatro para trinta milhões. A ajuda de padre Julián Carrón tem sido fundamental.
De que forma ele tem acompanhado?
Foram três os momentos decisivos. O primeiro durante a sua visita ao projeto Ribeira Azul, em Salvador, no Brasil. Diante daquela iniciativa enorme que envolvia 135 mil pessoas e do qual se falou até no G8, padre Carrón disse: “Devemos reconhecer a origem, Quem nos permitiu realizar isto tudo”. O segundo, em Hauchipa, no Peru. Juntamos milhares de pessoas entre colaboradores que encontramos no lugar, mas “que conteúdo demos a estas pessoas que são intermediárias”, nos pergunta Carrón. O último e, talvez, mais importante aconteceu enquanto visitava escolas no Quênia: “É sempre mais importante o sujeito do que o projeto”, foram suas palavras. Através da ação, suscitar os recursos da pessoa, a sua autoconsciência. Tudo o que fazemos tem como único objetivo fazer do sujeito o protagonista. E também existem gestos que me ajudam particularmente no meu trabalho.
Um entre eles?
As Tendas de Natal. Permitem-nos entrar em contato de modo físico com o povo que desejamos expressar. Ajudam-nos a reconhecer que a nossa obra não é um totem a ser adorado ou do qual nos vangloriamos, porque não somos nós que a fazemos.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón