Homilia de 16 de junho, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 25 de 18 de junho de 2015
Foi a “teologia da pobreza” o nó central da homilia do Papa Francisco. A reflexão do Pontífice partiu do trecho da segunda carta aos Coríntios (8, 1-9), no qual são Paulo “está organizando na Igreja de Corinto uma coleta para a Igreja de Jerusalém, que vive momentos difíceis de pobreza”. Para evitar que a coleta se verificasse de forma errada, o apóstolo “faz algumas considerações”, uma espécie de “teologia da pobreza”.
Especificações necessárias porque, explicou Francisco, “pobreza” é uma palavra “que causa sempre perplexidade”. Com efeito, quantas vezes ouvimos dizer: “Mas este sacerdote fala muito sobre a pobreza, este bispo fala de pobreza, este cristão, esta religiosa falam de pobreza... Mas são um pouco comunistas, não é?”. E, ao contrário, sublinhou o Papa, “a pobreza está exatamente no centro do Evangelho”, a ponto que “se nós tirássemos a pobreza do Evangelho, nada se entenderia da mensagem de Jesus”.
Eis então explicada a catequese de Paulo “sobre a esmola, a pobreza e as riquezas” que começa com um exemplo tirado da experiência da Igreja da Macedônia. Ali, “na grande prova da tribulação — porque sofriam tanto devido às perseguições — na pobreza extrema, a sua alegria abundou e abundaram na riqueza da sua generosidade”. Ou seja, ao dar, ao suportar as tribulações enriqueceram-se, tornaram-se jubilosos. É, acrescentou Francisco, o que se encontra numa das bem-aventuranças: “Bem-aventurados são vocês quando lhes insultarem, perseguirem...”.
Depois de ter citado este exemplo, Paulo dirige-se de novo à Igreja de Corinto: “E dado que vós sois ricos, pensai neles, na Igreja de Jerusalém”. Mas, perguntou o Papa, de qual riqueza fala Paulo? A resposta lê-se imediatamente depois: “Sois ricos em todas as coisas: na fé, na palavra, no conhecimento, em todo o zelo e na caridade que vos ensinamos”. Segue-se uma advertência: “Assim, dado que sois ricos, abundai também nesta obra de generosidade”. Ou seja, fazei com que, explicou Francisco, esta riqueza tão grande — o zelo, a caridade, a palavra de Deus, o conhecimento de Deus — chegue aos bolsos. Porque, acrescentou, “quando a fé não chega aos bolsos, não é uma fé genuína”; e esta é “uma regra de ouro” que deve ser recordada.
Do trecho paulino sobressai, portanto, uma “contraposição entre a riqueza e a pobreza. A Igreja de Jerusalém é pobre, está em dificuldade econômica, mas é rica, porque tem o tesouro do anúncio evangélico”. E foi justamente “esta Igreja de Jerusalém, pobre”, que enriqueceu a Igreja de Corinto “com o anúncio evangélico: deu-lhe a riqueza do Evangelho”. Quem era rico economicamente, na realidade, era pobre “sem o anúncio do Evangelho”. Há, disse o Pontífice, “uma troca recíproca” e assim “da pobreza vem a riqueza”.
É neste ponto, explicou o Papa, que “Paulo com o seu pensamento, chega ao fundamento daquilo a que podemos chamar ‘teologia da pobreza’, porque a pobreza está no centro do Evangelho”. Lê-se na epístola: “De fato, conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo: era rico e fez-se pobre por nós, a fim de que vos torneis ricos por meio da sua pobreza”. Portanto, “foi justamente o Verbo de Deus que se fez carne, o Verbo de Deus nesta condescendência, neste abaixamento, neste empobrecimento, que nos tornou ricos nos dons da salvação, da palavra, da graça”. Este “é o centro da teologia da pobreza” que, de resto, se encontra na primeira bem-aventurança: “Bem-aventurados os pobres de espírito”. Francisco explicou: “Ser pobre é deixar-se enriquecer pela pobreza de Cristo e não querer ser rico com outras riquezas exceto as de Cristo. É fazer o que Cristo fez”. Não é só fazer-se pobre, mas é “dar mais um passo”, porque, disse, “o pobre me enriquece”.
Citando um exemplo concreto do dia-a-dia, o Papa explicou que “quando oferecemos uma ajuda aos pobres, não fazemos de modo cristão obras de caridade”. Estamos diante de um ato “bom”, “humano”, mas “não é a pobreza cristã que Paulo menciona e prega”. Porque pobreza cristã significa “que eu ofereço ao pobre do que é meu e não do que é supérfluo, também do necessário, porque sei que ele me enriquece”. E por que me enriquece o pobre? “Porque Jesus disse que ele próprio está no pobre”.
O mesmo conceito é afirmado por Paulo quando escreve: “Nosso Senhor Jesus Cristo, de rico que era, fez-se pobre por vós, para que vos tornásseis ricos por meio da sua pobreza”. Isto acontece “cada vez que me desfaço de algo, mas não só do desnecessário, para dar a um pobre, a uma comunidade pobre, a tantas pessoas pobres às quais falta tudo”, porque “o pobre me enriquece” enquanto “é Jesus quem age nele”.
Eis porque, concluiu o Papa, a pobreza “não é uma ideologia”. A pobreza “está no centro do Evangelho”. Na “teologia da pobreza” encontramos “o mistério de Cristo que se rebaixou, se humilhou e se empobreceu para nos enriquecer”. Assim, compreende-se “porque a primeira das bem-aventuranças é: ‘Bem-aventurados os pobres de espírito’”. E “ser pobre de espírito — frisou o Pontífice — é ir por este caminho do Senhor”, o qual “se rebaixou” a ponto de se fazer “pão para nós” no sacrifício eucarístico. Isto é, Jesus “continua a rebaixar-se na história da Igreja, no memorial da sua paixão, no memorial da sua humilhação, no memorial do seu rebaixamento, no memorial da sua pobreza, e enriquece-nos com este ‘pão’”.
A sugestão final para a oração: “Que o Senhor nos faça entender o caminho da pobreza cristã e a atitude que devemos assumir quando ajudamos os pobres”.
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