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DE SANTA MARTA

Riqueza e pobreza

por Papa Francisco
22/06/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 16 de junho, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 25 de 18 de junho de 2015

Foi a “teologia da pobreza” o nó central da homilia do Papa Francisco. A reflexão do Pontífice partiu do trecho da segunda carta aos Coríntios (8, 1-9), no qual são Paulo “está organizando na Igreja de Corinto uma coleta para a Igreja de Jerusalém, que vive momentos difíceis de pobreza”. Para evitar que a coleta se verificasse de forma errada, o apóstolo “faz algumas considerações”, uma espécie de “teologia da pobreza”.

Especificações necessárias porque, explicou Francisco, “pobreza” é uma palavra “que causa sempre perplexidade”. Com efeito, quantas vezes ouvimos dizer: “Mas este sacerdote fala muito sobre a pobreza, este bispo fala de pobreza, este cristão, esta religiosa falam de pobreza... Mas são um pouco comunistas, não é?”. E, ao contrário, sublinhou o Papa, “a pobreza está exatamente no centro do Evangelho”, a ponto que “se nós tirássemos a pobreza do Evangelho, nada se entenderia da mensagem de Jesus”.

Eis então explicada a catequese de Paulo “sobre a esmola, a pobreza e as riquezas” que começa com um exemplo tirado da experiência da Igreja da Macedônia. Ali, “na grande prova da tribulação — porque sofriam tanto devido às perseguições — na pobreza extrema, a sua alegria abundou e abundaram na riqueza da sua generosidade”. Ou seja, ao dar, ao suportar as tribulações enriqueceram-se, tornaram-se jubilosos. É, acrescentou Francisco, o que se encontra numa das bem-aventuranças: “Bem-aventurados são vocês quando lhes insultarem, perseguirem...”.

Depois de ter citado este exemplo, Paulo dirige-se de novo à Igreja de Corinto: “E dado que vós sois ricos, pensai neles, na Igreja de Jerusalém”. Mas, perguntou o Papa, de qual riqueza fala Paulo? A resposta lê-se imediatamente depois: “Sois ricos em todas as coisas: na fé, na palavra, no conhecimento, em todo o zelo e na caridade que vos ensinamos”. Segue-se uma advertência: “Assim, dado que sois ricos, abundai também nesta obra de generosidade”. Ou seja, fazei com que, explicou Francisco, esta riqueza tão grande — o zelo, a caridade, a palavra de Deus, o conhecimento de Deus — chegue aos bolsos. Porque, acrescentou, “quando a fé não chega aos bolsos, não é uma fé genuína”; e esta é “uma regra de ouro” que deve ser recordada.

Do trecho paulino sobressai, portanto, uma “contraposição entre a riqueza e a pobreza. A Igreja de Jerusalém é pobre, está em dificuldade econômica, mas é rica, porque tem o tesouro do anúncio evangélico”. E foi justamente “esta Igreja de Jerusalém, pobre”, que enriqueceu a Igreja de Corinto “com o anúncio evangélico: deu-lhe a riqueza do Evangelho”. Quem era rico economicamente, na realidade, era pobre “sem o anúncio do Evangelho”. Há, disse o Pontífice, “uma troca recíproca” e assim “da pobreza vem a riqueza”.

É neste ponto, explicou o Papa, que “Paulo com o seu pensamento, chega ao fundamento daquilo a que podemos chamar ‘teologia da pobreza’, porque a pobreza está no centro do Evangelho”. Lê-se na epístola: “De fato, conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo: era rico e fez-se pobre por nós, a fim de que vos torneis ricos por meio da sua pobreza”. Portanto, “foi justamente o Verbo de Deus que se fez carne, o Verbo de Deus nesta condescendência, neste abaixamento, neste empobrecimento, que nos tornou ricos nos dons da salvação, da palavra, da graça”. Este “é o centro da teologia da pobreza” que, de resto, se encontra na primeira bem-aventurança: “Bem-aventurados os pobres de espírito”. Francisco explicou: “Ser pobre é deixar-se enriquecer pela pobreza de Cristo e não querer ser rico com outras riquezas exceto as de Cristo. É fazer o que Cristo fez”. Não é só fazer-se pobre, mas é “dar mais um passo”, porque, disse, “o pobre me enriquece”.

Citando um exemplo concreto do dia-a-dia, o Papa explicou que “quando oferecemos uma ajuda aos pobres, não fazemos de modo cristão obras de caridade”. Estamos diante de um ato “bom”, “humano”, mas “não é a pobreza cristã que Paulo menciona e prega”. Porque pobreza cristã significa “que eu ofereço ao pobre do que é meu e não do que é supérfluo, também do necessário, porque sei que ele me enriquece”. E por que me enriquece o pobre? “Porque Jesus disse que ele próprio está no pobre”.

O mesmo conceito é afirmado por Paulo quando escreve: “Nosso Senhor Jesus Cristo, de rico que era, fez-se pobre por vós, para que vos tornásseis ricos por meio da sua pobreza”. Isto acontece “cada vez que me desfaço de algo, mas não só do desnecessário, para dar a um pobre, a uma comunidade pobre, a tantas pessoas pobres às quais falta tudo”, porque “o pobre me enriquece” enquanto “é Jesus quem age nele”.

Eis porque, concluiu o Papa, a pobreza “não é uma ideologia”. A pobreza “está no centro do Evangelho”. Na “teologia da pobreza” encontramos “o mistério de Cristo que se rebaixou, se humilhou e se empobreceu para nos enriquecer”. Assim, compreende-se “porque a primeira das bem-aventuranças é: ‘Bem-aventurados os pobres de espírito’”. E “ser pobre de espírito — frisou o Pontífice — é ir por este caminho do Senhor”, o qual “se rebaixou” a ponto de se fazer “pão para nós” no sacrifício eucarístico. Isto é, Jesus “continua a rebaixar-se na história da Igreja, no memorial da sua paixão, no memorial da sua humilhação, no memorial do seu rebaixamento, no memorial da sua pobreza, e enriquece-nos com este ‘pão’”.
A sugestão final para a oração: “Que o Senhor nos faça entender o caminho da pobreza cristã e a atitude que devemos assumir quando ajudamos os pobres”.

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