Homilia de 16 de março, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 12 de 19 de Março de 2015
Somos nós o “sonho de Deus”, que como verdadeiro apaixonado, quer “mudar a nossa vida”. Precisamente por amor. A nós pede unicamente que tenhamos fé e que o deixemos agir. E assim “podemos unicamente chorar de alegria” diante de um Deus que nos “recria”.
Na primeira leitura, tirada de Isaías (65, 17-21) “o Senhor nos diz que cria novos céus e novas terras, ou seja, ‘recria’ as coisas”, observou Francisco, recordando também que “muitas vezes falamos destas ‘duas criações’ de Deus: a primeira, a que foi feita em seis dias, e a segunda, quando o Senhor ‘refaz’ o mundo, arruinado pelo pecado, em Jesus Cristo”. E, esclareceu, “dissemos tantas vezes que esta segunda é mais maravilhosa do que a primeira”. Com efeito, explicou o Papa, “a primeira já é uma criação maravilhosa; mas a segunda, em Cristo, é ainda mais maravilhosa”.
Contudo, na meditação Francisco escolheu aprofundar “outro aspecto”, a partir precisamente do trecho de Isaías no qual, explicou, o Senhor fala do que fará: “um novo céu, uma nova terra”. E “vemos que o Senhor tem tanto entusiasmo: fala de alegria e diz uma palavra: ‘Alegro-me com o meu povo’”. Em síntese, “o Senhor pensa no que fará, pensa que ele mesmo estará na alegria com o seu povo”. Assim “é como se fosse um ‘sonho’ do Senhor, como se o Senhor ‘sonhasse’ conosco: como será bom quando todos nos encontrarmos, quando estaremos ali, ou quando aquela pessoa caminhar...”.
Esclarecendo ainda mais o seu raciocínio, Francisco recorreu a “uma metáfora que nos pode fazer compreender: é como se uma jovem com o seu namorado ou um jovem com a sua namorada pensassem: quando estivermos juntos, quando casarmos...”. Eis, precisamente, “‘o sonho’ de Deus: Deus pensa em cada um de nós, gosta de nós, sonha a alegria da qual gozará conosco”. E é precisamente “por isto que o Senhor nos quer ‘recriar’, renovar o nosso coração, ‘recriar’ o nosso coração para fazer triunfar a alegria”.
Tudo isto levou o Papa a sugerir algumas perguntas: “Alguma vez pensou: o Senhor sonha comigo? Pensa em mim? Estou na sua mente, no coração do Senhor? O Senhor é capaz de mudar a minha vida?”. Isaías acrescentou, nos diz também que o Senhor “faz tantos planos: fabricaremos casas, plantaremos vinhas, comeremos juntos: todos aqueles projetos típicos de um apaixonado”.
De resto, “o Senhor manifesta-se apaixonado pelo seu povo” chegando até a dizer: “Mas eu não te escolhi porque tu és o mais forte, o maior, o mais poderoso; mas escolhi-te porque és o menor de todos”. E mais, “poderia dizer: o mais miserável de todos. Mas eu escolhi-te assim, e isto é amor”.
“Eis por que — afirmou o Papa — esta contínua vontade do Senhor, este seu desejo de mudar a nossa vida. E nós podemos dizer, se ouvirmos este convite do Senhor: ‘Transformaste a minha lamentação em dança’”, ou seja, as palavras “que rezamos” no salmo 29. “Exaltar-te-ei, Senhor, porque me levantaste” diz ainda o salmo, reconhecendo assim que o Senhor “é capaz de nos mudar, por amor: está apaixonado por nós”.
“Penso que não há nenhum teólogo que possa explicar isto: não tem explicação” frisou Francisco. Porque “sobre isto pode-se unicamente refletir, ouvir e chorar de alegria: o Senhor pode transformar-nos”. A este ponto é espontâneo perguntar: que devo fazer? A resposta é clara: “Acreditar, crer que o Senhor pode nos mudar, que ele pode”. Exatamente o que fez aquele funcionário do rei que tinha um filho doente em Cafarnaum, como narra João no seu Evangelho (4, 43-54). Aquele homem, lê-se, “pedia a Jesus que curasse o seu filho, porque estava para morrer”. E Jesus respondeu-lhe: “Vai, o teu filho vive!”. Portanto aquele pai “acreditou na palavra que Jesus lhe disse e pôs-se a caminho: acreditou, acreditou que Jesus tinha o poder de curar o seu filho. E tinha razão”.
“A fé — explicou Francisco — é dar espaço a este amor de Deus; é dar espaço ao seu poder, ao poder de Deus, ao poder de alguém que ama, que está apaixonado por mim e que deseja a alegria comigo. Esta é a fé. Isto é crer: dar espaço ao Senhor para que venha e me mude”.
O Papa concluiu com uma significativa anotação: “É curioso: foi este o segundo milagre que Jesus fez. E o fez no mesmo lugar no qual tinha feito o primeiro, em Caná da Galileia”. No trecho do Evangelho de hoje lê-se: “Foi, portanto, de novo a Caná da Galileia, onde tinha transformado a água em vinho”. De novo “em Caná da Galileia muda também a morte desta criança em vida”. Realmente, disse Francisco, “o Senhor pode transformar-nos, quer transformar-nos, gosta de nos transformar. E isto, por amor”. A nós, concluiu, “pede unicamente a nossa fé: ou seja, dar espaço ao seu amor para que possa agir e fazer uma mudança de vida em nós”.
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