“Sou eu que agradeço.” “Parabéns.” “Que trabalho bonito.” “Só tenho isso, mas espero que outros possam ajudar mais.” Estas e outras expressões foram ouvidas muitas vezes pelos voluntários que trabalharam no Dia Nacional da Coleta de Alimentos. Realizado no sábado, dia 7 de novembro, o gesto cresce a cada ano no país. Nesta edição, passamos de 17 cidades – número do ano anterior – para 26, entre pequenos centros e grandes metrópoles, e ao todo foram arrecadadas 99 toneladas de alimentos. Foram 144 supermercados envolvidos e quase quatro mil voluntários, dos quais a metade concentrados apenas em São Paulo. Até agora, os beneficiários foram diversas organizações que já estão presentes no território e a partir de agora nasce também uma Banco de Alimentos na capital paulista. “No entanto, a Coleta é feita, porque as pessoas decidiram fazê-la”, explica Francesco Tremolada, empresário que coordenou nacionalmente a grande jornada de arrecadação de alimentos.
Este é o quarto ano, mas nada deste crescimento estava previsto. O próprio Francesco não é um especialista em logística alimentar: sua empresa produz e vende cadeiras para escritório. Conheceu casualmente Marco Lucchini, diretor do Banco de Alimentos na Itália, que, na ocasião, queria uma ajuda para traduzir textos para o português. A amizade contagiou milhares de pessoas. “Uma das coisas mais belas da Coleta é que se transforma numa ocasião de presença pública que acaba despertando um gesto pessoal. Quem se empenha nela o faz porque quer, e pede ajuda, procura patrocinadores, encontra quem doa caixas ou imprime gratuitamente os folhetos, ou paga as despesas do próprio bolso. Certas viagens ligadas à organização da Jornada foram pagas pela comunidade ou por grupos de Fraternidade de CL.”
As novidades provocadas por esse fervor não acabaram. Por exemplo, foi modificada a lista de produtos aconselhados, sobretudo arroz e feijão. Há um site na internet gerenciado pelos amigos de Belo Horizonte, e muita gente colaborou. Para Cleuza Zerbini, durante toda a preparação da Coleta foi a vitória de Cristo que aconteceu: “Quando padre Carrón veio ao Brasil no ano passado, ele nos disse: ‘Quero ver a amizade que vai nascer entre vocês’. E isso aconteceu”. E Francesco acrescenta: “Certa manhã, na missa, distribuí os folhetos da Coleta”, “À tarde, apareceu um senhor com uma sacolinha com três quilos de alimentos. A Coleta começou imediatamente”.
GESTO DE CARIDADE POPULAR.Na Itália, a Coleta acontece desde 1997. “Há doze anos, eu jamais poderia imaginar que esse simples gesto de caridade iria se transformar num movimento popular tão imponente”, confessa Mauro Inzoli, presidente da Fundação Banco Alimentar. É uma jornada onde as pessoas entram em contato com a realidade do desperdício, da pobreza, da fome. Uma realidade na qual “mesmo um pequeno gesto de caridade, como compartilhar a despesa com os mais pobres, introduz na sociedade um sujeito novo, capaz de verdadeira solidariedade e compartilhamento do destino dos nossos irmãos”. Porque “a confusão e a desorientação, neste tempo de crise, parece que se tornaram o estado de espírito mais difuso entre as pessoas”. E “ficar frente a frente com rostos alegres e agradecidos, pela surpresa de se verem amados, desencadeia um desejo e um interesse que expulsam para longe o cinismo e o desespero”. Padre Mauro ainda conclui: “A Coleta é o ponto alto de um fenômeno imponente, em cuja origem está o grande coração de dom Giussani, que moveu um grande empresário como o senhor Fossati. É incrível o contágio entre pessoas que o relacionamento entre essas duas personalidades gera ainda hoje, e que ganha a simpatia e o apreço dos consumidores que vão às compras. Um pequeno gesto de caridade que responde à pergunta: O que darei a Deus por tudo o que Ele me deu?”.
UMA INFINIDADE DE ENCONTROS.E a Coleta gerou muitas histórias. Em um dos supermercados de São Paulo, uma senhora catadora de papelão foi rotineiramente buscar suas caixas para vender quando se deparou com aquele exército uniformizado. Perguntou o que era, se interessou e, pouco depois, voltou com um pacote de alimentos que foi buscar em sua casa e o entregou com um sorriso. Ricardo, de Manaus, foi ajudar em Boa Vista. “O que mais me comoveu foram os amigos que aderiram ao trabalho e à proposta do gesto. Entre eles o padre Revislande... o Radvam, um jovem de 21 anos, paraplégico que tinha marcado na ficha para ficar de 9h às 11h, mas ficou conosco até o final do dia e era um dos mais contentes e vivos entre todos nós. A Anizia, uma jovem muito simpática, que me atendeu em um lanche na sexta-feira à noite, e eu a convidei, ficou conosco durante toda a manhã. Dona Tereza (com sério problema de saúde na família) e sua equipe de trabalho do Mesa Brasil que além de nos apoiar ficaram conosco durante quase todo o dia. Agora, me sinto responsável, mas também desejoso de que esses relacionamentos não fiquem na saudade.”
Para Areni, de São José do Rio Preto, participar pela primeira vez já foi uma festa: “O dia da Coleta amanheceu com bastante chuva e me deixou apreensiva, mas no decorrer do dia percebi que a chuva havia sido providencial porque aqui faz muito calor e esse fato tornou o dia agradável para o trabalho. Isso encheu meu coração de alegria e satisfação por como Deus cuida de tudo. Ver a dedicação dos voluntários, a disponibilidade dos funcionários do mercado e a alegria de doar dos irmãos, não tem preço”. Outro novato foi Jéferson, de Londrina: “No final da Coleta, o meu corpo já reclamava de certo cansaço, mas o meu coração estava repleto e pleno de uma alegria que só tinha um desejo: continuar, porque compreendi que Cristo estava comigo na companhia daquelas pessoas que generosamente doavam o seu tempo, a sua voz e as suas forças para ajudar a tantos irmãos nossos. A presença da voluntária Tatiane me marcou muito. Ela, de maneira muito simples e serena, acompanhou as últimas horas da coleta, quando os outros voluntários já haviam ido embora e só restavam eu e Zaira finalizando as planilhas com os dados da arrecadação. Sua presença foi como a companhia de Cristo, serena, discreta, mas muito correspondente ao que estava vivendo: a Coleta e o encontro com Cristo naquele gesto”.
UM PASSO NOVO.Nas diversas cidades que participaram da Coleta, o trabalho terminou naquele dia e depois houve a destinação dos produtos aos parceiros regionais: Bancos de Alimentos e entidades assistenciais. Mas, em São Paulo, provocados pela experiência dos amigos italianos, surgiu um novo desejo. “Há algum tempo colaboramos com outras instituições. Este ano, houve uma novidade. Cleuza e Marcos Zerbini colocaram à disposição uma doação que receberam para fazer nascer o Banco Alimentar também aqui. Então, a Coleta na cidade esteve totalmente voltada para o Banco recém-criado”, esclarece Francesco.
Assim, na Zona Leste da cidade de São Paulo, o Banco começa a tomar corpo, e tem a finalidade de um trabalho que dura o ano todo, recolhendo alimentos e repassando às associações que dão assistência aos pobres. Em suma, o Banco não é “só” a Coleta, mas nasce deste gesto e deseja ser ainda mais uma dimensão educativa, econômica e social. A primeira reunião com entidades interessadas em receber os alimentos já foi feita. Um primeiro olhar com o desejo de uma amizade. Em breve traremos as novidades desta nova aventura.
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