Passos N.133, Dezembro 2011

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por Niccolò De Carolis

O segredo de Gisela: apostar tudo no desejo

“Quando era pequena meu pai sempre repetia que eu não chegaria a lugar nenhum porque eu não era capaz nem mesmo de escolher um sorvete ...” Gisela Solymos, psicóloga e diretora do Centro de Recuperação e Educação Nutricional (Cren) ganhou o prêmio Empreendedor Social de 2011 da Fundação Schwab, no último dia 9 de novembro. Reconhecido em 54 países em todo o mundo, o prêmio que distingue a melhor organização social nacional tem critérios como “inovação” e “influência em políticas públicas”. “Quando pronunciaram meu nome fiquei comovida porque, como expliquei antes, não sou uma ‘mulher-maravilha’. Trata-se do reconhecimento da história que me gerou: o Movimento Comunhão e Libertação”.
“Quando criança, eu não era capaz de tomar decisões, então, graças a Dom Giussani e ao livro O senso religioso descobri os critérios para começar a fazê-lo. É assim que consigo, ou melhor conseguimos, guiar nosso Centro”. O Cren foi criado em 1993 em São Paulo através de um acordo entre a Fundação Avsi e a Escola Paulista de Medicina (Unifesp). Durante todos estes anos o trabalho de recuperação nutricional sempre andou de mãos dadas com a pesquisa científica. A clínica já tratou cerca de 2 mil adolescentes com desnutrição ou obesidade. Além disso, de segunda à sexta-feira 142 crianças de zero a seis anos desfrutam da estrutura do Hospital Dia. Também há cursos de música e informática, e de formação para enfermeiros e médicos. “Outro ponto-chave para nós é a educação da família, pois falta a consciência do seu valor como seres humanos. Vamos nas favelas e propomos que levem seus filhos para serem curados. Nós oferecemos apoio psicológico, excursões culturais e os ajudamos a encontrar trabalho”.
Nos últimos seis meses, a Fundação Schwab examinou a atividade de Cren por meio de fichas de avaliação e monitoramento de sites. O prêmio é muito prestigiado e não dá uma quantia em dinheiro, mas fornece uma série de serviços úteis para o desenvolvimento da obra, como a assessoria jurídica: “Temos advogados muito bons à nossa disposição para entender melhor os incentivos que recebemos do Estado, porque em muitos casos as leis não são claras”.
Há muitas empresas sociais no Brasil, o que Gisela tem que os outros não têm? “O método que Giussani nos ensina em O senso religioso: o realismo aposta tudo sobre o desejo”. A diretora do Cren explica que no início de sua carreira quando olhava as pessoas apenas como psicóloga “não conseguia ir além do sofrimento e do contexto social no qual aquela pessoa estava inserida. Onde estava a esperança? Giussani nos ensina que junto com o sofrimento também está a liberdade e a capacidade de ralizar-se. Portanto, olhamos para o outro e o reconhemos como portadores de uma exigência infinita. Por exemplo, eu nunca acreditei no argumento de que as crianças são desnutridas por culpa de suas mães”.
Para explicar melhor, conta um episódio. Um dia, um colaborador comentou que uma menina de rua não queria amamentar seu filho. Ele a tinha avisado várias vezes da gravidade da sua decisão, mas ela não mudava de ideia. Gisela achou estranho. “Se seu filho ainda está vivo depois de cinco meses, ele está sendo alimentado”. Esse colaborador ficou sabendo que a mãe estava comprando um tipo especial de iogurte misturado com pedaços de queijo. Nesta época estava sendo veiculada na cidade uma propaganda com a seguinte mensagem: “O iogurte tem a mesma capacidade nutritiva que a carne”. Foi então que Gisela começa a entender: “Aposto que ela também usa fraldas descartáveis”. Seu colega concordou sem entender. Ela continua: “Elas são as mais caras! Essa mãe ama seu filho, seu problema é a ignorância e ao se sentir acusada ela se rebela. Volte à ela e diga: Eu sei que você ama seu filho, conte-lhe o porquê, e a avise que aquela é uma propaganda enganosa. A mulher mudou de imediato”.

(Conheça mais sobre a obra do Cren visitando o site da Instituição: www.cren.org.br)