“Então, rapazes, quando Leopardi escreveu O Infinito...”. Trimmm, o som da campainha faz com que Miriam interrompa a frase. “Professora, continue. Quando escreveu O Infinito, o que aconteceu?” “Calma, Riccardo, teremos tempo na próxima aula.” “Mas, não! Vai nos deixar assim, em suspense? Agora que o negócio estava ficando interessante?” A classe ri. “Até amanhã.” Miriam recolhe os livros e está à porta quando ouve do primeiro banco: “A professora de italiano é boa. Gosto dela”.
No corredor, uma inspetora a para: “Professora, uma mãe a espera na sala da recepção”. Por essa, ela não esperava. O quadrimestre terminou, em poucos dias sairão os boletins, os pedidos já foram feitos. Depois de três horas de aulas, realmente esperava ter uma hora tranquila para corrigir os trabalhos. Na sala da recepção há apenas uma senhora, que, assim que a vê entrar, vai ao seu encontro: “Bom dia, sou a mãe de Jacopo, da quarta C”. “Bom dia. Venha, vamos nos sentar.” Miriam está um pouco surpresa com essa visita. Pensa no menino. Ele não tem nenhum problema.
“Jacopo está indo bem nas minhas matérias. Não tem dificuldade na exposição oral e fez progressos nas redações. Seu comportamento é sempre correto.” “Fico feliz.” Conversam um pouco mais sobre o menino, sobre a escola. E, no fim da conversa, Miriam pergunta: “Por que a senhora veio?”. Alguns instantes de silêncio; depois, a resposta: “Não sei se deveria dizer, mas vou. Queria lhe agradecer porque a senhora propõe textos de leitura muito interessantes. Em casa, à noite, falamos sobre eles, e agora esperamos suas aulas com curiosidade. A senhora põe perguntas sérias que obrigam meu filho e eu a refletirmos. Está fazendo um belo trabalho, estimulante. Qual é a sua fonte?”. Alguns segundos, e responde: “A minha fonte? A vida”. Silêncio. “Obrigada, professora, até logo. Bom dia.”
A SENHORA VAI EMBORA. Outra campainha. Miriam sai da sala, não completamente convencida da resposta que deu. Falta algo. Com estes pensamentos, entra na sala da turma da quarta C. Vê Jacopo sentado no fundo. Aproxima-se de sua carteira: “Com licença, poderia me dar o número do celular da sua mãe?”.
No final da aula, liga para ela. “Bom dia, desculpe, preciso lhe dizer uma coisa importante: a minha ‘fonte’ vai falar esta noite. Quer vir comigo?” A mulher responde imediatamente, sem hesitar: “Claro que quero. Agradeço pelo convite”.
Às 21 horas, Miriam espera diante da sala conectada em videoconferência com Milão. Começa o encontro. Mozart. Depois, a apresentação do livro de Dom Giussani. Sentadas na terceira fila, de vez em quando Miriam olha para a mulher. Está muito atenta. No final, antes das despedidas, a pergunta inevitável: “O que a senhora achou?”. “Olha, tenho três filhos, preciso criá-los sozinha e também tenho problemas de saúde. Sou uma pessoa que luta, mas há momentos em que fico realmente com raiva. Normalmente, me vejo sozinha dialogando, a palavra certa é duelando, com um desconhecido. Talvez seja Jesus. Se houver outras ocasiões como esta, por favor, me convide.”
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