“Quando a mordaça de uma sociedade adversa se aperta à nossa volta a ponto de ameaçar a vivacidade de nossa expressão e quando a hegemonia cultural e social tende a penetrar o coração, aguçando as já naturais incertezas, então é chegado o tempo da pessoa.”
É impressionante a atualidade dessa afirmação de Dom Giussani! Vivemos tempos em que os fundamentos que geraram o povo brasileiro são questionados por um judiciário que se sente detentor das luzes e da autoridade para remover dos lugares públicos os sinais da fé cristã, para “reformular” o conceito de família e para liberar o aborto de malformados. Em nome da separação entre Estado e Igreja (diga-se de passagem, uma das grandes invenções do Cristianismo), nega-se o poder dos representantes eleitos pelo povo para legislar sobre esses assuntos.
Mas o que é o “tempo da pessoa”? É o tempo de reconhecermos que a trama da fé que sustentava o nosso povo já não existe mais. É o tempo de começar a reconstruir o templo, o lugar de interseção do Infinito com o cotidiano – e esse lugar é a pessoa de cada um de nós.
Este é o tempo de perceber que precisamos de uma educação da fé para chegarmos a uma inteligência da realidade. Tempo de nos perguntarmos “qual é a minha certeza hoje?”. De refazermos aquele percurso de certeza sem o qual a fé subsistirá somente como “valores cristãos”. Aquele percurso que os apóstolos fizeram, partindo do que viram e tocaram e chegando à afirmação da divindade dAquele homem, Cristo.
Tempo não só de crescer na certeza, mas também de nos perguntarmos como comunicá-la. Como se comunica o acontecimento cristão? O olhar com que o homem Jesus olhou a samaritana se tornou o olhar com que os apóstolos Pedro e João olharam o paralítico na porta do templo. E se tornou o olhar que o jovem Policarpo sentiu sobre si no final do primeiro século, vindo daquele mesmo João. E foi o mesmo com que o ancião Policarpo olhou Irineu, e este o levou para a distante França... esse olhar, transmitido ininterruptamente através dos séculos, chegou até nós.
A defesa explícita da vida é necessária, assim como a contemporaneidade daquele olhar. E por ele todos anseiam: os malformados, tratados como não pessoas; a mãe, surpreendida pela dor da notícia de carregar em si uma criança diferente; e o juiz que legisla por uma causa de morte.
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