COLEGIAIS
Uma febre de vida
Passeio ao Morro da Urca, no Rio de Janeiro
O dia estava espetacular, o céu de um azul muito límpido e brilhante. Era 1º de maio e encontramo-nos na Praia Vermelha para darmos início a grande aventura do dia: subir o Morro da Urca. Antes da caminhada foi dito que esta seria uma proposta para nos conhecer e aprender mais o que significa seguir, pois para fazer aquele caminho deveríamos seguir quem guiava e aprender a olhar para tudo com olhos novos. A caminhada foi tranqüila e suave e lá em cima do morro, nos sentamos sob o toldo em uma grande roda e começamos a cantar e dançar: Viva la compani, Pim Pam, Vira virou, O que é o que é e muitos outros cantos.
Como era feriado o local estava cheio de turistas que vinham a toda hora nos perguntar quem éramos e por que estávamos ali. Era bonito ver todo aquele povo com o único ideal de ficarmos juntos para nos conhecer e viver a grande aventura da vida: o desejo de ser feliz. Estava conosco Franco Nembrini, professor italiano, a quem pedimos que dissesse algumas palavras aos “meninos”. Ele começou pedindo aos mesmos falassem de suas experiências e o que estavam vivendo. E assim foi....
Yasmine: “Padre Paulo nos dizia no Retiro de Páscoa que a beleza fere. Nosso primeiro instinto é parar a dor, mas hoje sou grata por ela, porque foi ela quem me mostrou o que está acontecendo na minha vida. Porque definitivamente Algo está acontecendo. Quando encontrei o Movimento, uma das minhas primeiras vontades foi gritar para o mundo inteiro o que eu estava vivendo, dividir a maravilha que eu tinha encontrado, e me parecia impossível pensar em dar por óbvio algo assim. Mas como aplicar isso na escola, onde a maioria dos meus amigos se entrega a idéia de morte? Percebi que não adiantava tentar mudá-los porque a Yasmine sozinha não tem poder para mudar alguém, era preciso mais. Eu me sentia tão impotente perante tantos problemas! Assim que desisti da minha ideia de mudar o mundo, comecei a usar uma máscara, uma forma de fingir não me importar com coisas que no fundo eu sabia que importavam. Até que num dia normal, no ônibus, após uma das discussões que eu fazia questão de manter distância, um amigo que era um dos ateus mais convictos e polêmicos me disse: Falaram tanta coisa, mas ninguém me explicou o que é a fé. Então eu expliquei aquilo que me explicaram na Escola de Comunidade e quando eu olhei nos olhos dele, eu achei a beleza que o padre Paulo dizia. Na hora eu não entendi, mas aqueles olhos eram iguais aos meus quando era eu quem perguntava. Dentro dos olhos do meu colega eu perguntava também. Foi como levar um tapa no rosto. Realmente, eu não estava dando ‘o Movimento’ por óbvio, eu estava dando os meus amigos, a minha vida por óbvia! Acordei e percebi que não tenho que tentar mudar os meus amigos por eles, mas tenho que conviver com eles do jeito que eles são, porque cada um me foi dado, cada um é um presente para mim. Para mim, não para eles. Eu preciso desses meus amigos ‘loucos’ porque a amizade deles desperta a pergunta que eu carrego no meu íntimo, e os dias têm um novo sabor. Afinal, o entendimento é uma graça. Não fui eu que fiz meus pais aderirem a CL, foi uma graça que passou por mim, sem eu ter planejado. Por isso não há sentido em me preocupar se meus amigos se tornam do Movimento ou não, porque a finalidade do Movimento é me educar a viver a minha vida profundamente, levar tudo o que há nela a sério, amar o destino último dos meus amigos. Não dá pra separar o meu cotidiano e o Movimento. Não é uma coisa que se pode controlar. Acho que na verdade há apenas uma condição: seguir, seguir o método. E o resto é mistério. Que bom que vocês apareceram na minha vida!”
Como a maioria dos colegiais que ali estavam não sabiam o que era escola de comunidade o Patrick contou o que significava para ele: “Aquilo que mais me marcou quando comecei a Escola de Comunidade foi o fato de ‘ter simpatia pelo humano que está em mim’. Nunca tinha pensado nisto. A segunda coisa que experimentei foi que, até então, Cristo era uma coisa distante e que não tinha a ver com o meu presente e na a Escola de Comunidade aprendi que poderia chamá-Lo de amigo e que tem a ver com tudo no meu dia, basta eu reconhecê-Lo. A Escola de Comunidade é uma escola de vida, pois me ensinou a olhar e viver a realidade e a comecei a entender que Cristo tem a ver com tudo dentro dela”.
Em seguida, os testemunhos das meninas de Jacarepaguá ajudaram muito a entender a simplicidade do olhar e seguir feliz. Ana Angélica: “Eu queria contar um pouco da minha experiência no CL. Tudo começou quando o Jonas, um grande amigo, me convidou para ir às férias de Ibitipoca. Eu perguntei para ele o que íamos fazer lá. Ele me contou praticamente tudo, mas não disse como ia acontecer tudo. De primeira eu achei o máximo, ficar fora de casa quatro dias sem ter que aturar minha mãe falando no meu ouvido. Quando cheguei lá, vi que não era nada daquilo que eu imaginava. Não sabia que ia conhecer pessoas tão maravilhosas, pois já participei de vários grupos da igreja, mas nenhum me correspondeu mais que CL. Aqui encontrei uma companhia que me remete a Cristo. Vai fazer um ano que estou no Movimento e pretendo ficar ‘velhinha’ dentro desse Movimento que amo, porque foi nele que eu encontrei Cristo de verdade”. E Fabiana acrescentou: “Eu conheci Comunhão e Libertação através de um amigo que tinha ido às férias e me chamou para viver esta experiência. O desânimo era algo quase inevitável, em nada mais eu encontrava graça, às vezes fazia tudo por fazer. Minha mãe via essa viagem como um retiro que eu faria para me acalmar, pois acabara de ser suspensa no colégio, por isso não foi muito difícil convencê-la a me deixar ir. Quando cheguei às férias me choquei: era tudo completamente diferente do que já havia visto! Fui percebendo que as pessoas tinham uma humanidade diferente e que dessa vez Cristo estava mais perto, Ele não era abstrato, era presente, estava ao meu lado. Eu O via em tudo, em todos. Percebi também que Ele era meu porquê, que Ele correspondia a meu coração como nada ou ninguém correspondeu antes: era por inteiro que Ele me correspondia, não era apenas por um momento. Hoje continuo seguindo a esse meu amigo que me levou a conhecer CL, porque sei que o seguindo estarei seguindo Cristo”.
No final da aventura estavam todos felizes e era visível que o seguir livre e com simplicidade sempre corresponde. Os meninos perguntavam quando faríamos outro passeio como aquele, pois tinham gostado muito... E Franco conclui dizendo: “Aquilo que Carrón tem chamado a nossa atenção para vivermos foi testemunhado ali por aqueles meninos: Uma febre de vida, porque Ele vive e tem a ver com tudo”.
Inês Damasceno
NA ASSOCIAÇÃO
Uma amizade para a vida toda
Pela terceira vez estamos no Paraguai para encontrar padre Aldo, Pedro e muitos outros amigos que o ajudam a transformar em realidade as várias obras que desenvolve: o hospital para doentes terminais, as casas de abrigo aos idosos, a “Casetta de Belém” para crianças abandonadas, a escola, a clínica e inúmeras outras obras que nasceram do desejo de responder a realidade.
É impressionante encontrar pessoas que entregam a vida para amar e cuidar de pessoas abandonadas e desprezadas pela sociedade, como se não passassem de lixo, e que, sentindo-se abraçadas, descobrem o valor da vida e a resgatam por inteiro. Ficamos comovidos com padre Aldo que, abraçando e beijando cada doente, nos diz: “Eles para mim são o próprio Cristo”. E diante desse e de inúmeros outros fatos nos damos conta que sua capacidade de amor e de doar a vida é muito maior que a nossa, fazendo-nos pedir que Cristo nos ajude a ter um coração como o dele.
Há seis meses não conhecíamos padre Aldo. Foi Carrón quem nos disse para olhar para ele e para sua experiência. Assim nasceu uma amizade que não podíamos imaginar que aconteceria. Apesar da distância, em tão pouco tempo já nos encontramos várias vezes e somos invadidos pela certeza de que essa amizade é para a vida toda. É para sempre porque nos foi dada para que possamos nos ajudar no caminho rumo ao Destino. Como a amizade entre Jesus e os apóstolos, tão bonita e verdadeira que nos torna capazes de dar a vida pelos amigos.
Vivendo essa experiência nosso coração se enche de um desejo: que todos possam encontrar na vida amigos assim, que ajudam a encontrar o significado da vida e nos testemunham, como padre Aldo, que ela pode pulsar e vibrar com uma intensidade inimaginável, transformando-se na mais bela e emocionante aventura.
Marcos Zerbini
Assunção, 2 de maio de 2009
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Um encontro para todos
Eu tenho 20 anos, sou evangélica e pertenço à Igreja Metodista do Brasil. Conheci a Associação dos Trabalhadores Sem Terra há três anos e desde então muita coisa mudou em minha vida pessoal e profissional. Muitos conceitos que adotei para minha vida como “verdades absolutas”, descobri que não passavam de um meio de subjugar as pessoas que pensavam diferente de mim. Percebi que minha fé em Jesus Cristo estava sendo instrumento de segregação e não de união com as pessoas. Hoje, após conhecer pessoas como Marcos e Cleuza, pude entender que a religiosidade mata, mas a fé verdadeira em Cristo faz ressuscitar. Pude enxergar que Deus não se preocupa só com minhas necessidades, mas nos usa para levar seu amor a todas as pessoas.
Conheci a “verdade” que liberta. Liberta dos preconceitos, da indiferença, da opressão e não só isso, nos transforma em libertadores. Não basta conhecermos Deus para nós mesmos, mas é necessário que levemos a todos o mesmo amor que nos alcançou.
Conhecer a verdade que liberta é adotar uma postura diferente diante da sociedade consumista e individualista e principalmente não ser mais um incentivador do preconceito religioso. Eu era uma propagadora da intolerância religiosa. Hoje, oro a Deus para que minha vida seja testemunho vivo de que a graça que me salvou, salvou a toda humanidade e que graça é amor. Somos todos remidos pelo mesmo sangue e salvos pelo mesmo amor, somos irmão, filhos do mesmo Pai.
Gostaria ainda de agradecer a Deus pela vida de Marcos e Cleuza, por dedicarem suas vidas a ajudar pessoas que como eu não teriam conseguido cursar uma faculdade, e graças a esse amor que Deus fez brotar em seus corações, fundaram uma Associação para nos ajudar a construir um futuro diferente, não só para nós, mas para todos que ainda virão. Agradeço a Jesus Cristo pela vida de todos os padres membros do Movimento Comunhão e Libertação que, inspirados por Deus, transmitem experiências tão marcantes que nos fazem refletir sobre o rumo que nossas vidas têm tomado. Um agradecimento muito especial também ao Reverendo Luciano José de Lima, um amigo que, usado por Deus , me ensinou a seguir o exemplo de Jesus e amar de graça a todos os seres criados por Deus, inclusive a você que pode ler esse testemunho.
Natalia, São Paulo – SP
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón