Algumas pessoas que conheceram o Movimento por intermédio de padre Massimo no início do Movimento em Manaus, na década de 1980, enviaram depoimentos por ocasião de seu falecimento
Para mim a morte súbita de Massimo foi um golpe no coração e a possibilidade que tive de ir à Itália com três amigas de caminho, carregando todos os amigos no coração, representou uma pequena prova da gratidão e do amor que tinha e terei eternamente por ele que foi o homem que com o seu sim apaixonado e radical a Cristo me indicou o caminho para Ele. Um homem que nunca temeu dizer a verdade. Suas palavras muitas e muitas vezes me desmontavam e traziam à tona toda a mentira a qual inúmeras vezes fiquei agarrada. Sofri muito quando Massimo foi embora de Manaus. Naquela ocasião me faltou o chão, mas foi preciso aceitar. Fiquei um período da minha vida revoltada com ele, assim mesmo como acontece com pais e filhos, pois às vezes não suportamos o juízo nu e cru e escolhemos fugir, mas certamente o amor, a misericórdia e a verdade vencem enquanto existir o fogo fumegante dentro de nós.
E o nosso querido Massimo, a quem aprendemos a conhecer e a amar, se foi assim tão rapidamente para sempre, para o Eterno, para junto do Senhor, realizando plenamente o seu destino. Foi, mas deixou-nos uma herança nascida da sua fé, do seu amor a Cristo e à Sua Igreja e a nós, que somos os filhos, cabe se colocar diante do prêmio e se perguntar o que toca a mim? Eu entendo que é como a Darlete me disse: “Olhar e seguir aquilo que o Movimento está me pedindo e me indicando agora”.
O Movimento, esse grande dom que nasceu do nosso tão amado Dom Giussani e que chegou até nós através do Massimo e do Giuliano. Éramos todos jovenzinhos, sedentos de verdade e do desejo de encontrar o significado da vida. Como eles foram bons em nos comunicar, não é verdade?
Obrigada Senhor por ter me propiciado tamanha graça, fazei com que eu jamais a menospreze e sim que abra cada vez mais o meu coração e acolha com simplicidade os seus ensinamentos, e que estes possam penetrar no mais íntimo do meu ser, me transformar, e que eu também possa ser digna no tempo que não é meu, de dizer: “não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim". Essa frase me dá um frio na espinha, pois dizê-la acreditando de verdade parece uma grande ousadia. Peço que me ajudem e nos ajudemos para que seja possível para cada um de nós.
Veni Sancte Spiritus, Veni per Mariam!
Neide Negreiros, Manaus (AM)
Quando eu ouvi a notícia da morte de padre Massimo, na sexta-feira 11 de maio, experimentei algo que só havia experimentado com a morte de Dom Giussani: havia um vazio imenso no mundo, um grande vazio em tudo!
Foi um dia daqueles que não mais esquecemos. O meu desejo era falar com cada um dos amigos de Manaus. Comecei, claro, por Dom Giuliano. Serenidade e certeza foi o que recebi dele. Giuliano disse: “Não sei quando e como vou chegar lá, mas eu vou, parto hoje!”
De noite, fui dormir muito tarde. Durante aquela tarde e aquela noite o telefone não parou e eu só fui dormir quando soube quem poderia ir a Roma para o funeral. Eu desejava falar com quem conseguiu se organizar para ir, pois eu, por razões de trabalho principalmente, não poderia chegar para o adeus.
Inevitavelmente, a morte repentina de Massimo provocou em mim – e sei também que em muitos outros – pensar toda a própria vida. A vida, naquele 11 de maio, passou como um filme com rostos, fatos e eu me vi arrastada: Massimo, também com sua morte, me arrastava, me puxava... Era inevitável não lembrar que foi através dele, falando sobre o homem e sobre a cultura, que eu encontrei Dom Giussani, foi com ele que eu aprendi a seguir o Movimento e a entender que a amizade é uma coisa para viver cotidianamente com descobertas, com beleza, com grandeza, sem tirar as brigas, as chamadas de atenção em público, as palavras ditas com franqueza. Amizade verdadeira é um encontro com o outro com quem passo a compartilhar tudo. Lembro que compartilhar tudoera de fato o tom de como éramos solicitados a viver ao lado dele e de Dom Giuliano.
Conto um episódio que eu tenho me lembrado muito: Eu tinha 25 ou 26 anos, estávamos em uma festinha na casa de alguém do Movimento. Era uma sala pequena para a quantidade de pessoas presentes, havia uma música tocando e vários dançando. De repente, toca uma música que eu gostava e eu procurei um lugar onde dançar e não achei, isto é, não achei no chão; subi na mesa, dancei em cima da mesa e só percebi isso quando notei que a lâmpada estava bem na minha cabeça... Depois, Massimo me perguntou por que eu tinha tido a coragem de fazer aquilo e eu respondi: “Porque você estava aqui, se fosse muito errado, você daria um berro e eu desceria na hora”.
“Porque você estava aqui”! É isso mesmo! Quantas coisas fiz porque ele estava presente e era meu amigo, isto é, queria o meu bem, então desafiava o meu jeito, o meu temperamento, me escancarava, e eu aprendi que essa era amizade, isso era fazer companhia. Massimo foi o meu mestre, foi o meu pai. Através dele Cristo me venceu, me agarrou, me fez Sua para sempre. Massimo me educou a ser livre, a ser eu mesma!
E Dom Giuliano me orientou o olhar de novo quando escreveu: “...é mais uma separação, é um novo início na nossa amizade!” Quero isso pra mim.
Regina Nunes, Salvador (BA)
Cheguei de uma viagem que nunca pensei em fazer. Fui ver o Massimo pela última vez. Mas estar ali era me sentir filha diante de um pai, parte de uma grande família. Não era possível acreditar no que se via, mas era verdade. Deus o chamou e eu entendi que ali era um chamado para eu continuar o caminho que ele me ensinou quando me mostrou que a felicidade é Cristo. Hoje eu entendo que tive a graça de ficar sempre ao seu lado, mesmo depois que saiu de Manaus, pois sempre nos comunicávamos por e-mail e suas palavras eram para mim um grande consolo e força no meu caminho, pois ele não me deixava esquecer aquilo que nos é mais caro: Cristo. Esse Cristo que a gente perde constantemente com as nossas besteiras. Mas eu não quero mais perder tempo, quero muito aprender aquilo que mais padre Massimo (meu pai) nos ensinou com o seu testemunho: seguir, obedecer, perdoar e se dedicar totalmente a testemunhar Cristo. Quero sempre lembrar-me de seu exemplo. Por isso, amigos, continuamos sendo seus filhos, seguindo este caminho que ele nos fez conhecer e que hoje nos coloca perto de Cristo. Seguir o que o Movimento está nos propondo é ir para frente e viver hoje sempre pedindo que o Senhor olhe por nós. Compartilho essa mensagem que ele me enviou e que, ao retomá-la, me deixou comovida: “Suplico-vos! Não me deixei sem o consolo do vosso testemunho... me ajuda a sentir mais de perto o quanto eu sou amado por Ele”.
Darlete Oliveira, Manaus (AM)
Nós, no nosso cotidiano, pensamos sempre que o Mistério é uma coisa tão grande que não cabe na nossa imaginação (e isso é verdade!). Mas, se estivermos atentos a como Ele se manifesta, percebemos que o Imensurável se torna “pequeno”, porque se torna cotidiano, entra nos espaços minúsculos da realidade, dentro de mãos que se encontram, braços que se abraçam, olhares que se cruzam. E aí, pessoas que nunca se viram, que nunca pensariam em encontrar-se, com rostos e jeito de ser que, se pensamos, poderíamos até dizer que não têm nada a ver conosco, se tornam encontráveis, visíveis e participantes da nossa vida. Era essa maré de gente que se encontrava em Roma dia 13 de maio no funeral de nosso amigo e pai: padre Massimo Cenci.
Olhar o Mistério que se torna carne nas coisas mais “banais” é surpreender a nós mesmos sem medidas, com um horizonte que se alarga até alcançar Aquele que quis nos encontrar primeiro. Porque primeiro vem o olhar, o toque dEle sobre nós e o resto é só a nossa decisão de sermos abraçados, tornando eternas as coisas pequenas, que são as circunstâncias que constituem o nosso cotidiano.
Ver que coisas aparentemente desconexas como o encontro em um determinado momento e lugar entre Massimo e Giuliano, a fidelidade da amizade entre eles que chega até mim, tão longe e tão impensável (pois eu morava em Manaus, na Amazônia), tem uma razão de ser, e assumiram um significado carnal quando eu percebi, olhando para aquele caixão e, mais precisamente quando eu me deixei guiar pela presença e pelo modo de olhar de Giuliano e de tantas outras pessoas, que o nosso destino é o mesmo e que a vida não termina ali, a morte é só “até logo”. Que graça é poder contemplar a evidência deste fato!
A mesma mente e mão que pensou e criou Massimo e Giuliano e pensou em mim e em todas as pessoas que estavam ali naquele momento e todas aquelas que queriam estar e não puderam, é aquela que nos acompanha nos meandros das nossas vidas, no nosso destino como companhia de caminho, independentemente de quantas vezes negamos a Sua presença ou quantas nem mesmo a percebemos. E nos uniu (ligou) com um laço tão forte!
A experiência que fiz ali era de uma companhia guiada ao destino palpável, visível. O que vi foi o cumprir-se de uma promessa feita a Massimo quando ele disse sim à sua vocação: “Se deixas tudo por mim, te darei mais casas, mais irmãos, pais e filhos”. Claro que não tira o sofrimento, as nossas misérias pessoais – Massimo tinha muitas, e bem visíveis –, mas o cêntuplo se cumpriu nele. Não temos nenhum álibi, Ele não nos pede ser de outro modo (bom, paciente, amável, disponível, etc.etc.etc.), mas de sermos nós mesmos e dizermos somente sim. O resto é Ele que faz.
Obrigada, Massimo, porque me ensinaste e me ensinas a ser fiel ao encontro feito.
Helena Nunes, Florença (Itália)
Diante da novidade da morte do Massimo, me senti desconsolada, mas extremamente grata ao Senhor que nos fez (a mim e a tantos outros) cruzar com esse homem num determinado momento da vida. Hoje para mim é como se não parasse de passar um filme pela cabeça (tantas lembranças, que história!!!). A entrada desse amigo na minha vida significou deixar-me arrastar pela atração vencedora, e foi a minha salvação! A radicalidade da sua afeição a Cristo e a certeza que essa afeição geravam nele foram as coisas que mais me atraíram nesse homem que escandalizava quando dizia nunca ter vivido um momento de crise na vocação, de tão certo que ele era da misericórdia de Cristo – que a força vem dEle – e da doçura maternal de Nossa Senhora.
Mesmo longe, o Massimo sempre esteve muito perto e foi imbatível e destemido companheiro de caminhada, também nos momentos mais críticos e exigentes. Para mim, aquilo que sempre ressaltou na amizade com ele ao longo desses mais de 30 anos foi a sua paixão por Cristo, por Dom Gius, pela Igreja, pelo Movimento e, ultimamente, o seguimento afetuoso a Carrón. Nessa paixão consistia a radicalidade da sua entrega e a sua prontidão a obedecer. Eu não peço outra coisa pra mim, e para nós.
Neófita Oliveira, São Paulo (SP)
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