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Passos N.139, Julho 2012

HISTÓRIA

Um jantar com Átila

Sinal vermelho. Marino freia automaticamente, e fica ali, perdido em seus pensamentos. Duas batidas na janela. “Fiquei assustado. Depois, pedi que ele entrasse. Não sei por que”. Ele nunca tinha dado carona a um desconhecido, mas quando aquele jovem bateu, abriu a janela. Nem Átila sabe por que fez isso: “Tinha perdido o ônibus, de repente vi aquele carro parado, então me aproximei...” Agradece e entra. E os dois acabam passando a tarde juntos.
Marino está no primeiro ano de Enfermagem. Átila é enfermeiro. Desempregado. Há quatorze anos deixou a Romênia, foi estudar na Hungria e depois foi para a Itália. Mudou de cidade sete vezes antes de chegar a Milão. “Estou cansado de viver. Muitas vezes pensei em me jogar debaixo de um trem, mas não o fiz porque penso na minha mãe. É difícil até morrer...” Marino o escuta e, enquanto isso, se dirige até um supermercado: “Vamos fazer compras”. Compra-lhe coisas para dois meses.
No dia seguinte, se encontram novamente. E nos dias que se seguem, também. Uma noite, Marino convida Átila para jantar com alguns amigos. Pessoas bem diferentes: uma siciliana, uma calabresa, um romeno, quatro milaneses, alguns da Brianza. Giacomo também está presente, curioso em saber o que aconteceu com Marino, pois há uma semana o cumprimenta sorridente.

ANTES DE COMEÇAR A JANTAR, ELES REZAM. Átila ora em silêncio, sem fazer o sinal da cruz. Diz que é protestante. É uma das muitas coisas que conta sobre si, naquele jantar cheio de perguntas mútuas. De repente, Marino fala: “Às vezes, acontecem coisas inexplicáveis. Mas depois, no dia seguinte, tenho que começar tudo de novo”. Inexplicável como as compras que ele mesmo fez para um desconhecido. Giacomo pergunta: “Átila, o que você pensou quando Marino fez as compras para você?”. “Que era exagerado... Não sei por que ele fez isso, acho que há perguntas às quais não é possível responder”. “Não!”, diz Giuliana: “Há uma resposta! Você disse: eu não sei”. Giacomo olha para Marino: “Há coisas que realmente não são atribuíveis a nós, às nossas capacidades, é algo que não sabemos explicar”. Fala de João e André, que depois de terem encontrado Jesus naquela tarde, olharam-se e se perguntaram: por que ele nos olha assim? Disseram: não sei. “Exatamente como nós, agora. Será que aqueles dois pensaram que o rosto daquele homem era sinal de Deus? Não. Apenas aconteceu aquilo que eles esperavam. Aconteceu o divino”. No mesmo instante, Átila se vira para Marino: “Divino!”. E todos começam a rir.

ALGUÉM SE LEVANTA, começa a tirar a mesa. Átila sai para fumar na sacada com Giacomo. Arianna também se junta a eles: “É absurdo! Olha só: não temos afinidades. No entanto, só me aconteceu duas vezes na vida, sentir-me amada assim. E uma delas é agora”. Os três se olham. “Que dia é hoje? Precisamos marcá-lo!”, diz Giacomo. É dia 29. “Sim. Estou desempregado há um mês e meio...”, responde Átila, e fica sério. Depois olha pela janela os outros sentados rindo e conversando e, de repente, sorri: “Somos em treze! Como na última ceia. Podíamos estar em doze, ou quatorze... Mas, estamos em treze”. Entra. Diz isso aos outros. E todos param de falar. Ficam em silêncio.

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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