Chega o segundo semestre do ano. O tempo parece voar. Em julho, alguns tiveram a ocasião de viver um tempo de férias que, como aprendemos com Dom Giussani, são “o tempo da liberdade”, porque no tempo livre vem à tona aquilo a que verdadeiramente damos importância. Mas é preciso pouco para substituir essa expressão por outra – também de Dom Giussani – que se está se tornando familiar para nós: “É o tempo da pessoa”. Mais ainda quando a frase, que expressa tão bem o desafio que enfrentamos em tempos difíceis, se torna o título sugerido para as férias comunitárias do Movimento. Mudamos a palavra de ordem, a repetimos várias vezes em encontros públicos, manifestos e testemunhos vários, e parece que demos mais um passo. Aliás, o passo.
Mas é suficiente? O que significa que é “o tempo da pessoa”? O que podemos começar a descobrir sobre nós mesmos, também quando as obrigações diminuem?
Durante um convívio de férias na montanha com um grupo de responsáveis de CL, numa conversa com Julián Carrón surgiram alguns pontos que vale a pena termos presentes, se queremos evitar que até mesmo esta provocação seja reduzida a um slogan, que “o tempo da pessoa” se torne uma etiqueta aplicada a uma vida que flui em outro lugar.
E o primeiro fato é que a pessoa é um caminho. “Não é um conceito, uma coisa fechada, definitiva”, dizia um dos participantes neste encontro: “É um caminho de crescimento”. Também doloroso, cansativo. Mas um caminho. “E para fazer este caminho temos que correr riscos: arriscar a nossa humanidade, até o fim”. Não há nada que nos dê garantias deste risco. Não há lugar nem circunstância que o torne automático. Não há slogan que substitua o drama de viver. Graças a Deus.
É aqui que entra em jogo um outro fator. Ligado precisamente a esta palavra: “Caminho”. Não é óbvio fazê-lo. Não é óbvio enfrentar a realidade partindo dali. Diante dos desafios deste ano, “encontramo-nos tantas vezes deslocados, confusos”, sublinhava o próprio Carrón: “Dizer ‘eu’ era a coisa menos óbvia. Mesmo tendo antecipadamente a ‘chave’ para entrar”. As coisas não acontecem por acaso: “Na vida dos que Ele chama, Deus não permite que aconteça alguma coisa a não ser para a maturidade, para um amadurecimento dos que Ele chamou”, dizia Dom Giussani, “Mas quem de nós pensou que aquilo que acontecia era para o nosso amadurecimento?”.
Amadurecimento. Eis o desafio. E é este o caminho que temos pela frente, até mesmo nestas semanas. Tudo o que acontece – tudo: grandezas e misérias, beleza e problemas – “me pede para tomar uma posição”, prosseguia Carrón: “Posso ficar preso ao fato de ser um obstáculo, ou posso usá-lo como instrumento de um amadurecimento”.
E o que é bonito é que ainda não está decidido: “Temos que ser nós a decidir isto: se o usamos de uma determinada maneira, fechando-nos nas objeções, ou se o usamos como ocasião para outra coisa”. Se nos afundamos, ou se caminhamos. Se nos enroscamos em nós mesmos e nas nossas ideias, ou se amadurecermos. Não são as coisas que o decidem: somos nós. “A nossa liberdade”. A pessoa.
Existe alguma coisa maior, pela qual vale a pena nos alegrarmos ou sofrermos, trabalharmos ou descansarmos, participarmos de férias e encontros? O desafio está lançado. Bom caminho.
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