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Passos N.140, Agosto 2012

DUBLIN - Exposição

Tiberíades, Irlanda

por Paola Bergamini

Uma fila de oito mil pessoas para vê-la. Encontros inesperados e gente comovida: “porque vimos o Evangelho”. No entanto, no começo, levar aquele pedaço do Meeting ao Congresso Eucarístico parecia uma loucura... Mas o que aconteceu, nestes meses, com quem se pôs a trabalhar para realizá-la?A resposta está aqui

Existe o céu da Irlanda, o verde da Irlanda, e também existe a fileira de casas com tijolos à vista e portões diferentes, o Trinity College, os pubs, a Guiness... Em 24 horas em Dublin, vi e ouvi muito mais do que isso. Algo que penetra fundo no coração: uma presença que arrebata a nossa vida. Como foi com os Apóstolos, que com Ele comeram, conversaram, pescaram. Aconteceu de novo agora, para Owen, Mauro, Margaret, John e para toda a pequena comunidade irlandesa. Primeiro na decisão e, depois, na preparação da exposição “Com os olhos dos Apóstolos”, do Meeting de Rímini de 2011, aberta ao público durante o Congresso Eucarístico, de 10 a 17 de junho na capital irlandesa.
É uma loucura, diziam alguns. Mas o Senhor escreve certo por linhas tortas. E eu, ao ouvir o relato deles sobre esses meses “loucos”, voltei a tocar com as mãos a beleza da aventura cristã.

Algo mais. Em agosto passado, John Waters, no pavilhão que hospeda a exposição, estava sozinho, imóvel, olhando o lago de Tiberíades. “Estou observando o que Jesus viu. Não há mais tempo nem espaço”. E a decisão: “Precisamos levar a exposição a Dublin, para o Congresso Eucarístico. Os irlandeses precisam de um Fato, desse Acontecimento”. Fala a respeito com Mauro, Margaret, Owen e os outros amigos. Eles concordam. Mas ninguém imaginava, nem de longe, o que os esperava. Seguem a intuição de um amigo que viu Algo mais. É o primeiro milagre. No final de setembro encontram os responsáveis do Congresso Eucarístico, que logo se mostram abertos à ideia.
Em novembro, procuram Erasmo Figini, um dos curadores da exposição, em Como, Itália. Ele tenta dissuadi-los: “Não há mais nada daquela exposição. Os custos são altíssimos. Se quiserem, existe uma redução, feita em painéis”. Massimo é categórico: “Não é a mesma coisa”. Depois, durante todo o dia, falam de outras coisas, da vida, da Irlanda. E quando partem, estão mais determinados ainda a remontar a exposição. Mauro conversa sobre a ideia com Julián Carrón, que simplesmente diz: “Sigam os sinais que o Senhor lhes der”.
O primeiro problema a enfrentar é a questão financeira. Não é a tradicional coleta de fundos para as missões. Trata-se de reconstruir a casa de Pedro. Owen não pensa duas vezes. O pai de um colega de futebol do seu filho é uma das pessoas mais ricas da Irlanda. Pede a ele. Chega o primeiro cheque, de soma considerável. Mas é só o primeiro sinal. E por que você o fez? “Eu confiava em John, mas havia algo mais importante no ar, para mim. Era o meu sim ao Mistério”. Não foi só ele que se mexeu. Cada um está dizendo o próprio sim.
Em janeiro, a apresentação pública de Na origem da pretensão cristã, com Carrón. No final, John, com alguns slides, explica a exposição. Parece estar na casa de Pedro conversando com Jesus. Todos ficam impressionados. Cada um revê o próprio encontro. É o que querem testemunhar. Erasmo, nos dias seguintes, envia maquetes e o material. “Eu entendi que Cristo estava agindo. Eu me dei conta de que conseguiriam fazê-la”.

Fatos e fantasias. No mês seguinte, emerge um “pequeno” problema: a montagem na Feira só pode acontecer dois dias antes da abertura. Significa construí-la antes num outro espaço, depois desmontá-la e remontá-la no local. Onde? Um benfeitor coloca à disposição, durante seis semanas, um barracão industrial.
A coleta de fundos é cada vez mais urgente. Owen, proprietário, junto com os irmãos, da mais importante fábrica de chocolate da Irlanda, decide jogar-se a fundo na coisa. Pede e envolve todas as pessoas que podem ajudar. Como Kevin, dono de uma empresa de construção, que por sua vez conversa com outras quatro pessoas, que lhe indicam outras quatro... No barracão descarregam, desmontam e constroem. Diz: “Eu não imaginava que aconteceria uma coisa tão linda. Estou certo de que o bom Deus fará nascerem outras coisas”.
Ciara é advogada. Uma noite é convidada, com seus pais, para o jantar na casa de Owen. Falam da exposição. Impressionados, dão a sua contribuição. Mas para Ciara não é suficiente. Alguma coisa penetrou no seu coração. Vai ver a exposição. Diz: “Vi uma experiência que, ao ler o Evangelho, eu nunca havia feito. As palavras de Giussani são envolventes, tornam Jesus presente”. Mas ainda não basta. Ela deseja que aquele Fato continue. Eu a verei de novo na noite do encontro de Carrón com a comunidade.
Num bar no centro de Dublin, conheço Celine, uma bela senhora com os olhos cor do céu da Irlanda. Na mochila do filho havia encontrado um pequeno aviso, dado pela escola católica, com o elenco das necessidades para a montagem da exposição. O título a impressiona e ela decide ir ao encontro de apresentação. “Eu me coloquei à disposição. Assumi a função de recepcionista, organizando os grupos. A exposição era um oásis, cheio de significado. Eu via as pessoas comovidas. Encontravam algo de que tinham necessidade”. Os olhos de Celine eu os revejo nos de Tom, 73 anos. É esse o céu da Irlanda. Tom ajudou a pintar os painéis de fundo. “Eu estava lá, naquele ambiente de dois mil anos atrás, mas presente agora”.
Além da coleta de fundos, a certa altura se apresenta o problema da ornamentação do local. Havia necessidade de um profissional da área. Contatam Tom Dowling, famoso cenógrafo de sets cinematográficos, e o escultor Edwin Ryan. Este último escuta, faz perguntas e, afinal, diz: “É a primeira vez que me pedem para não seguir as fantasias de um diretor, mas de reconstruir um acontecimento. A arte é comunicação e aqui se comunica um fato”. Esse é o cara! Tom se torna o Project manager, com a assistência de Stefano.
No dia 10 de junho, a exposição abre as portas na área da Royal Dublin Society. A cerca de quinhentos metros da sede dos encontros do Congresso Eucarístico. As pessoas vão se deslocar até lá? Numa semana, mais de oito mil pessoas percorrem as estradas de Cafarnaum, param diante do lago de Tiberíades... Mais de setenta voluntários – com muitos que não são do Movimento – prestam serviço. Os números impressionam, mas não são nada em relação à comoção das pessoas. Naquele lugar há a possibilidade de se fazer a pergunta: quem é Jesus, agora? O cristianismo não é mais um discurso, uma série de regras e, para este povo, também fonte de dor, pelos escândalos com os quais a Igreja se envolveu. É um Fato. Vêm isso nas palavras de quem, através da própria vida, explica a exposição. Cristo está ali. É o milagre de que precisamos, todos os dias, para viver.

Janela para as estrelas. É tão linda essa experiência que na noite do encontro com Carrón se revive a intensidade, a consciência de uma fé vivida e que transforma a vida. A intuição de John, o “sim” que cada um teve de dar várias vezes, permitiu que o Senhor agisse. As intervenções são o testemunho disso. Como a de Mariana: “Durante a visita guiada, uma pessoa me disse: Você o encontrou de fato? E eu podia dizer: aqui e agora”. Ou de Sara: “Para mim foi um milagre. Eu estava de certo modo bloqueada em minha vida. Quando eu chegava ao último painel, eu estava comovida. Eu precisava só responder à pergunta: Você me ama?”. Raymond nem sabia o que era CL e, ao ler um artigo de John, quis saber. E não foi mais embora. “Esta exposição me fez sair do bunker do trabalho”. O bunker de que havia falado o Papa no último mês de setembro, no Bundestag. “É verdade, estamos fechados dentro de quatro paredes. Precisamos, antes de tudo, perceber isso, mas nós podemos abrir as janelas, e lá fora estão as estrelas. Giussani nos ensinou isso: lançou a semente que fez nascer tudo isso”, diz John. Elena, a minha tradutora, para. Não é que lhe faltem as palavras. Ela, como todos esta noite, está percebendo que o Senhor está agindo agora. Na consciência daquilo que vivemos. Como conclui Carrón: “Cada um de vocês se comoveu, se moveu. Isso é o cristianismo: um evento que nos faz viver e usufruir todas as coisas de um modo inimaginável. Vocês são testemunhas disso. Não é sentimentalismo. É o maravilhamento de que fala Giussani. Nós o vimos no rosto das pessoas. É a evidência da sua Pessoa. A partir de agora, cada um precisa decidir se deixa ou não prevalecer o espanto com essa evidência em todas as circunstâncias. Se nos deixarmos tomar por esse espanto, o melhor ainda está por vir!”.
Na manhã seguinte, converso com o arcebispo de Dublin, d. Diarmuid Martin. Ele conta: “Muitíssimas pessoas vieram ao Congresso. Sinal de um desejo de formação na fé. Ao entrar na exposição, tocavam com as mãos o que era a Igreja primitiva. Era um retalho de realidade, do que significa encontrar Jesus. Hoje se pensa que para resolver os problemas da Igreja irlandesa há necessidade de grandes mudanças estruturais, e ali se entende que tudo começou nos pequenos grupos, na casa de Pedro, que conversava com Jesus”.
Depois, junto com Margaret, vamos tomar o café na casa de Helen. Essa casa é famosa em Dublin, suscita curiosidade e poucos a viram. O marido levou seis anos para decorá-la, trazendo artistas do mundo todo. Há mosaicos com o rosto de Cristo e cenas do Apocalipse, numa base em mármore um escultor entalhou frases das Escrituras, é um jogo de luzes, de vitrais... Helen fez, para a exposição, algo que ela mesma achava impossível: “Eu não sabia o que fazer para ajudar. Depois veio a ideia: abrir esta casa”. Levou semanas para limpá-la, organizá-la. Depois, programou dois saraus com um aperitivo, sob pagamento. Primeiro, a visita pela casa com explicação; depois, a apresentação da exposição, por Margaret. “Eu estava muito tensa”, conta. “As pessoas não se conheciam, algumas nem eram católicas. Mas quando Margaret começou a explicar, partindo justamente daquele sim, houve um silêncio pleno de interesse”. Ela me acompanha na visita à casa. É, de fato, especial e, talvez, um pouco inquietante, diferentemente do olhar de Helen, que “repousa” no olhar de Margaret. É a sua janela para as estrelas.
No carro, rumo ao aeroporto, Massimo me pergunta o que mais me impressionou na Irlanda. Não tenho dúvida: os olhos de Helen.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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